Hoje estou assim como
meio perdido, falta-me a destreza dos sentidos, não sei bem como procurar o caminho de
regresso a casa... Esta noite desci dos céus e ainda carrego nas asas a humidade
do ar. A Noite foi fria imaginei-me como um anjo que deixou em mim a vontade de
ser pássaro, e carregar nas assas os desejos de ser vento… Não sei porque para
aqui vim, arrastado pela corrente, deste corpo ausente, seguindo o curso deste trajeto
infinito. Não sei porque sou, o que sou, e porque ainda persisto , soa a vazio, mas quem escreveu o silencio de palavras que eu não disse ? De quem é a obra deste destino que em mim se vai traçando? Sei que atravesso os espaços, como um raio que
antecipa o trovão, aguardando pelo som que estilhaçará o silêncio, dos
pensamentos que se vão. Ainda assim prego aos céus como quem vela o sono, como quem
desenha a sua sombra, que a todos os lados me segue e conduz. Sei que esta luz encandeia o olhar,
mas ao mesmo tempo, também faz sonhar. Estou aqui, sentado no canto da esquina
onde debrucei o meu corpo, esperando apenas por um olhar, um eco... Hoje vou ficar na luz para ser visto como sou , mas ninguém
aqui está, todos dormem profundamente,
envoltos na própria vida… Hoje escrevo e sou apenas o suporte que transporta as
letras, elas são o sentido que o lhes ofereci, do que senti, não consigo conferir ou
administrar outro uso e por pequena que seja a mensagem, eu limito-me ao êxodo dos instantes
que o mar provoca ao esbarrar na terra,
aceitando e provocando a respiração das suas pedras na ilha do tempo que há
tanto tempo foi um instante ...
sexta-feira, 24 de abril de 2020
terça-feira, 21 de abril de 2020
Hoje
vejo que nos tentam ensinar a viver "tapados", é assim que nos ensinam, é assim a
doutrina a todo o momento, e é assim que acreditamos que o mundo é e terá que
ser, embriagado de um fundamentalismo de senso comum em que vivemos… Já pensaram nisso? É
como se durante o nosso crescimento
perdêssemos a capacidade de nos surpreendermos com este mundo em que estamos
inseridos. Como se tivéssemos perdido
algo essencial, algo que os filósofos tentam despertar em
nós, a indignação e a critica.. Porque há algo dentro de nós que nos diz que a própria vida é um
grande enigma, e sentimos muito antes de aprendermos a pensar
sobre isso. Em breve as plantas taparão por completo esta ponte da indignação e
critica, que outrora estava limpa e ladeada de vegetação…Os passeios dos que gostam de caminhar deixaram
de se fazer. A natureza aproveita para se fazer notada, o verde ficará mais
verde e as folhas deixarão de estar espezinhadas...O que era uma ponte por
onde passei, ficará escondida, até ao dia em que possamos novamente descobri-la
por entre arbustos que se fizeram muralhas. Agora é tempo de ficar em casa, dizem! Pensando no ontem e sonhando com dias melhores. Uma coisa que me sufoca, é saber que todas as pessoas que eu
amo, um dia vão me deixar, embora façamos juras intermináveis de amor eterno e
tudo mais, um dia o tempo vai nos separar, pode levar anos, pode levar
segundos, pode ser neste agora, ou daqui 10 anos, mas o fato é que um dia, não os teremos mais a nosso lado, essas pessoas que tantos amamos, que fizemos sorrir, e
fizemos chorar, pessoas que nos fizeram tão felizes, pessoas
que fizeram do nosso dia a dia realmente ser um presente, ajudaram a construir
um passado cheio de muitas historias para contar, mas é lamentável saber que um
dia isso vai ter fim, ficarão somente as historias para nossos sucessores.
Acredito que a partir do dia em que compreendemos a vida, tememos a morte, a
morte que é tão fria, chega de repente, e sem mais delongas, leva embora as
pessoas que mais amamos, e deixa apenas a saudade para os que ficam,
esperando sua vez ! Nenhum rio discute os seus obstáculos , eu sei! Até porque
os rios não tem obstáculos, tem circunstancias de curso que contornam por um lado ou por outro… Como seria bom nos
tornarmos um rio. Imponentes que acumulam águas suficientes para não esperar e
passar por cima, ou encontra modo de passar por baixo. Os rios não discutem ,
lutam ou reclamam com lamentações, o rio
aceita o que encontra e segue o seu caminho….
sexta-feira, 17 de abril de 2020
Hoje as matas estão virgens, rodeadas de
colinas verdejantes, o mundo transformou se num habitat de aves com multi-cores que voam sem limitações
humanas…É este o fluir da natureza em seu rito gradual, de constante
transmutação, este resplendente santuário que
vai formando à medida que o ser humano se enclausura mais…Será isto um
progresso ou retrocesso?! Sinais de progresso anulam o meio ambiente, porque não transformamos o
progresso em florestas exuberantes e o céu turvo em azul fundo… Outrora o asfalto , empedrado repleto de pessoas , dá
lugar a vida de seres confinados a gaiolas, se conseguidos proezas destas
em estado de emergência , não o
poderemos proporcionar ao mundo em vida normal?! Tanta coisa para reflectirmos ao abrir a janela da nossa inspiração, para este desprendido cansaço desumano
abrir das suas mãos e traçar destinos,
sincronizar sentimentos agraciando a alma da magia das cores a rasgar a
devastação humana… Não pensem com isto, que acho que o ser humano tem feito
tudo mal, não…Mas!! Está na altura perceber que o amparo do colhimento não é só
para o ser humano, é sim para todas as demais espécies que tem sido subjugadas à nossa conduta egoísta, arrogante, abusiva! As nossas mãos podem mesmo em tempo de
“guerra” ser elas a transportar o cálice da paz.
terça-feira, 14 de abril de 2020
Nada mais posso dizer aqui diante de todos a não ser que mais um pedaço de mim desapareceu, este homem a que o meu Pai se igualava ...Jamais esquecerei os meus momentos de infância contigo, quando nos visitávamos, jamais esquecerei o ultimo dia que te vi vivo e me obrigaste a levar uma couve no tejadilho do carro que suplantava o tamanho do meu carro, jamais irei esquecer o teu ultimo abraço, e jamais esquecerei as tardes que passamos sentados na secretaria que tinhas no Palheiro, que chamavas escritório...Amo-te daqui até onde os céus te levarem.
sexta-feira, 10 de abril de 2020
Hoje o mundo, está prestes a ruir e eu apenas penso em descrever cada
tijolo que vejo cair da forma mais singela. Sim sou imperfeito e são estes
gestos delicados que me dilaceram a alma e me completam. Lentamente, como
bolhas de sabão a subir aos céus, vou tecendo o tapete da minha vida. O resto é
ruído. Dentro de mim repousa outra vida, e esta é a minha verdade, e a prova de
ter existido num outro tempo ...Vivo a vida ausente, na lacuna das letras
mortas, vencidas pelo presente que começa a ser triste ... Sou a sombra do
futuro e o fantasma da vida que deveria viver!!! Hoje aqui sou a ausência ,
deserto de uma alma, esquecida numa escrita fértil onde as letras são sonhos
...Mas !!! a Minha memória furta-me do presente e vivo ausente , olho-me e
imagino-me no reflexo do mar ao luar e pareço noturno e imperfeito. Meu Deus!!!
Ergo as mãos ao céu e suplico-lhe a voz da água que não soa nas pedras do meu
riacho , peço-lhe que me olhe de novo porque esta noite olhei-me e não me
vi....O mar está ausente não podem dizer que veio e destruiu os
castelos de areia que se fez com os sonhos inacabados...Neste mundo as
oportunidades são infindáveis , talvez seja o mais gratificante que se
pode ter na mão nos dias de hoje. Temos a possibilidade de recomeçar e iniciar
novos projetos de vida que por motivos mais diversos , muitas vezes são
interrompidos , desviando-nos dos rumos traçados e sonhados ao longo da nossa
existência…Hoje acredito piamente que esta
anormalidade que se vive, vai deixar patenteada a certeza que as oportunidades
para seguir um outro caminho ai estarão para todos, sem descriminações e a luz da
esperança que brilha incandescente nos
corações de cada um, espera por nós para nos alumiar na passagem das trevas e
mostrar a sublimidade de que temos de seguir em frente e continuar a esculpir um novo
dia de luz…
segunda-feira, 6 de abril de 2020
Hoje no martírio dos dias em que
este espécie de holocausto humano se enraíza na vida social, os sonhos são poucos e tristes… Os corações
foram retidos nas esquinas de ruas sem morada! Entre alaridos desenfreados, que recolhem
as migalhas das calçadas, as lágrimas tomam
conta dos olhares, por muitos ainda
ignorados , que esperam olhando os céus por um anjo sem asas. O
dia vai alto já sem sol, nublado
agudizando olhar que já vai triste…As plantas não florescem, as fontes retomam o
sussurrar das cascatas e somente os ventos trazem a saudade. Daqui pouco se vê,
apenas sombras esquecidas nos jardins, e
olho para as mãos , onde busco palavras advidas da sensibilidade que corrói ao
ver predominar injustiças, desigualdades que esquecem a solidariedade pelo
respeito humano fazendo cair os alicerces de sonhos de uma nação. Não me sinto um
ser comum , não é que seja melhor ou pior que outros sou apenas diferente, e
isso inquieta-me nos meus erros e acertos , fazendo a minha pegada viver apenas
num edulcorado desejo de sonhos que criarão uma nova era ! Mas!! Esta pálida
parede aprisiona-nos, deixando-me entre palavras e o êxodo da realidade instantânea…Já nem sei há quantas semanas que não sinto o mar…Como está a respiração dele? Olho para esta parede e
vejo o reflexo das suas lembranças, inocentemente falta a maresia que o vento
não trás, planto mais vento, abro a janela e fico à espera…Tanto tempo ! Apenas
algo mais que se soma aos instantes das
pedras desta ilha...
quarta-feira, 1 de abril de 2020
Subscrever:
Mensagens (Atom)
Hoje vos digo que muitas vezes criamos um paradoxo em nossa rotina diaria, podemos até ter feito de tudo, virar os dias do avesso, quebrar ...

-
Hoje reflito com o pensamento de como juntar, aproximar quem se afasta, sinceramente não sei. Apenas sei que é o amor aproxima, que as div...
-
Hoje fechei a porta que em círculos e cercos, fechou as margens e estancou num pântano o silêncio, consumado na pálpebra cerrada que tranco...
-
Hoje até podiam sentar-se na minha cama e contar-me mentiras... Que o amor tem a forma da minha mão ou que os meus beijos são perguntas qu...