domingo, 28 de fevereiro de 2021

Hoje recuo para dentro de mim mesmo, num mero deslize de vida, escorregamos, tombamos desta tênue corda onde nossa diminuta alma caminha, suspensa , nessa corda bamba que a cada choque com o chão, estilhaça-nos como fugitivos amedrontados. São tombos que se fazem diante de tantas testemunhas e o impacto com o solo não é só doloroso, também chega a ser vergonhoso. Não há meios de nos erguermos sem sequelas, sem afetação, sem que sintamos desconforto. O retorno só se chega a dar com treino adequado e intenso. Apenas com muita disciplina encontramos o ritmo e a sintonia do equilíbrio, jamais o encontraremos se formos uma mera opção entre outras a ser equacionada! Quando assim é acaba-se então o espetáculo que deveria ser interrupto porque a plateia não suporta pausas, é preciso não nos esquecermos que estamos apenas na corda bamba sobre apenas as nossas próprias forças...Sinto que sou apenas mais um na corda bamba, e recuso-me a estar nesse trapézio! Eu já ai estive e sei que as dores resultantes das quedas inúmeras resultam em graves lesões que ecoam profundo nos tecidos da minha alma, prefiro viver da engenharia intima dos meus sonhos que apenas sofrem fissuras... Antecipo assim muitas reflexões, muitas meditações onde serei avaliado como um objeto, onde serei rotulado sem uma justa prova. Hoje sei que tombei, neste choro cristalino,  aprendo a olhar para dentro e extrair dos olhos o alcance que cada espetáculo nos exige para crescer neste confinamento onde desenho nas paredes do céu as aprimoradas nuvens que me assolam diante dos desafios e do mundo que me faz desistir de ser humano , porque sem honestidade a tensão da corda bamba é muito maior e não conheço  quem se consiga equilibrar nela... Aquilo que me seduz mais  nesta vida,  está muito acima da tensão de estar sobre a corda bamba, e muito abaixo do chão cômodo onde ficarei..

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

Hoje sinto as brisas em danças em meu redor, como uma chama eterna que não se apaga, envolve-me  nesse mistério e fascina-me nos meus enigmas, inebriando-me  na bruma da ventania perfumada…  É perturbador quando a  sensualidade dos dias  vem dos nossos dedos em chama na propagação de palavras que se evaporam e nos confundem  como códigos secretos! É nessa inquietude imensa que a alma dos anjos,  nos arremessam efervescência  de um simples beijo . Eu já encontrei as portas fechadas, por isso, hoje debruço-me sobre o olhar que busca a chave dessas portas, mas apenas encontro uma íngreme e esburacada estrada , a estrada da vida,  feita de silêncios, onde apenas a luz que sobrevo-a o olhar,  se aproxima! Há dias assim que estamos frágeis , envoltos em medos e sentimentos inconfessados, são estes desencontros , das dúvidas, que nos  enlaçam nas  incertezas de um caminho  lado a lado com  a nobre sensatez, que nem sempre temos…De mãos dadas com a insegurança, sou cúmplice dos receios existenciais da vida,  do correto e do errado que agora também são meus… Quantas vezes  transmito formas algo esquivas aos atos deformados do meu pensamento? Nem sei se  me descubro neste estado de apatia. Penso muito, penso demasiado… Acabo por zelar para que não dêem pela minha presença. Gosto de estar no meu canto, e ver as águas correr sempre no mesmo sentido, tantas vezes oposta á direção do meu desejo… Hoje preciso fugir a este confinamento imposto, preciso de ver as  luzes delicadas à beira-mar que se refletem na corrente negra, e deixam um rastro que sigo indiferente a tudo e todos. A distância por vezes edifica um novo rumo, e os trilhos que outrora sorveram as vozes, distanciam-se agora de um único ponto. A saudade. Fiquem “tranquilos”,  não quero que dêem pela minha presença. Infelizmente ou não, o amor não tem pressa, e eu preciso que ele me permita serenamente derramar sobre este lago que sou, as águas esquecidas do sonhos derramados… Sinto esta lacuna, as raízes que demoram a se amarrar ao chão, o que mais tenho suplicado é conseguir beijar o sol e incendiar os ventos da indiferença …Ter a coragem, olhar a lua de frente e deixar-me cair no mar imenso para lavar os meus pecados ! Penso tanto nisso, até demasiado… Sinto-me um ladrão de olhares, assaltante das estrelas, que coleciona as gargalhadas da amizade junto aos tesouros  infindáveis da minha cave… Custa-me tanto pensar que a melhor forma de não me magoar e de não magoar os outros , seja afastar-me dos caminhos que se iluminam no meu dia! Afastar-me é como esculpir o amor em pedaços de gelo é isso que a vida me continua a imputar …Uns tocam-nos levemente o corpo sem nunca nos conseguirem tocar a alma, outros tocam-nos a alma sem nunca nos conseguirem tocar o corpo…Chego á conclusão que para colher a paz, preciso de plantar na minha vida o silencio...


terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

Hoje é daqueles dias que procuro soltar o corpo e deixá-lo cair, como se fosse feito de nada... Procuro a eterna leveza que possa fazer-me atingir os céus num único sopro. Tenho a insustentável vontade de ser vento, pois muitas vezes dou por mim a pairar sobre a multidão, como uma alma perdida envolta num turbilhão de gente. Escuto lamúrias, ouço pedidos daquele que desesperam por soluções e tantas vezes me precipito em direção ao abismo desses corpos em agonia…Tantas Noites me pergunto, questiono o sentido desta missão que tenho, gostaria de perceber os porquês, de entender os propósitos que fazem de mim um rol de letras, um manto de esperanças. Porque escrevo? Porque não me limito ao silêncio? Porque as minhas letras atingem as almas com a força duma tempestade? As questões sucedem-se, numa espiral de inquietações que agitam o meu mar interior, onde as tormentas são agora vendavais que o corpo não sustenta, esperando a cada instante pelo colapso total do espírito. Hoje estou assim num sítio nem sei onde perdido neste recanto do pensamento onde tenho valido aos outros a troco de nada, contudo persisto, insisto e mantenho-me vivo, alimentando-me apenas do brilho remanescente dos quadros pintados na parede esquecida da alma e fico assim procurando-me apenas! Talvez tenha sido a Natureza que me fez assim, deixando-me um peso que carrego, daria o que fosse por um instante de paz e tranquilidade, trocaria este corpo, entregá-lo-ia, uma vez que o corpo deve ser servo da mente e não o seu senhor…Quero definitivamente voltar á minha origem, simples singela, e ao mesmo tempo á criação onde o amor é a única prece que conheço e suplico…

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

Hoje baloicei meu corpo no infinito desprezando as horas vazias, desafiando o impossível, num espaço apenas provável ... Sinto esta probabilidade  como um campo de guerra onde se derrama dor em tons de maresia sem preencher o olhar com esse mundo vasto ...Sinto o vazio,  neste vale sem casas nem campos, sem frutos ...Ergo-me de mãos vazias pelo silêncio dos olhos cicatrizados nesta  terra estéril, sem germinar o que é que seja !!!! Sinto bocas cerradas sem sorrisos, sem nada para dizer no olhar vazio que se gera,  escuto canções que ninguém toca , leio cartas de amor sem remetente, fico retido neste silêncio da alma silenciada ! Hoje há um pensamento dentro dentro da noite que se ergue ,  solitário que roça no meu olhar!! A chuva não partiu e não sacudiu os sonhos, vejo o luar aos meus pés mas não lhe consigo tocar!! Existem pensamentos ocultos dentro desta noite esquecida…Vou deslizando pela correnteza suplicando o brilho das estrelas …Elas  vêem-me sem me compreenderem ...E de novo acredito que nada do que é importante se perde verdadeiramente, apenas nos iludimos, julgando ser donos das coisas, dos instantes e dos outros...Na minha vida caminham todos os  que amei, todos os amigos que se afastaram, todos os dias  que se apagaram. Mas acreditem que não perdi nada, eu vivi o que era suposto viver ,  deixando a ilusão de que tudo podia ser meu para sempre...Não se incomodem!!! Jamais tive a pretensão de ter algo meu para sempre a não ser, o amor das minhas filhas, essas sim são as palavras mais leves de amor que posso escrever, essas sim tem  peso,  o resto São os despojos que saem apenas da alma,  nesta rudez dos meus dias que me esvaziam...

sábado, 13 de fevereiro de 2021

 Hoje escrevo no silêncio com o olhar  e com a arte de quem sabe o que procurar, mas, com a volatilidade de quem não se deixa encontrar... Hoje sou apenas um homem e o meu caminho, ficou invertido nas asas de um anjo!!! Hoje fui ao baú das minhas energias, esgotei-as e deixei-me deambular por labirintos míticos, onde os meus passos ficam desenhados na capa do livro que escrevo! Tenho dias que chego a acreditar que a minha alma exerce um magnetismo que atraía a mim outros espíritos. É essa força da natureza que se manifestava na capacidade de por nas palavras os sentidos certos, que, fecham e saram as feridas. Poderão até vocês dizer que tudo isso é uma utopia, que nessa vaga de mim, tudo o que não tem chama apaga-se, deixando apenas o fumo pelo espaço vazio viajar… Enganam-se,  se assim pensam!! Quando falo de sentimentos não falo em quantidades, quando falo de sentimentos, simplesmente transcrevo aquilo que me mete medo! Ou porque seja um reflexo de mim mesmo, ou, porque temo que sentimentos não passem de uma utopia da minha demência… Pergunto-me, como podemos tocar o ar se não o vemos? Será que tocá-lo é colher a brisa quando esta se desloca para um outro lugar? Bem eu até sei a resposta mas fiquem descansados eu sei bem que construo castelos no ar, que crio ilhas de inverno nas primaveras dos outonos tardios… Sei bem que se agora colocar os pés no chão, é admitir que perdi a razão, que agora que entrei dentro dum sonho, não quero acordar… Então vocês amigos me dirão , que nem todos podem ser salvos ,  pelo menos neste mundo factual onde a realidade é o cutelo que retalha os sentidos e os formata em padrões predefinidos.


terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

Hoje gostava de saber e  compreender o real dever dos seres meramente no sonho de um sonhador. Seria bom  talhar os nossos gestos como sonhos, para que fossem apenas janelas abertas e  paisagens novas na  alma. Eu sei que não é possível  arquitetar um corpo em arremedos de sonhos que não fora possível sentir, é difícil, eu sei lembrarmos a vida que germina na travessia, sonâmbula,  das grandes paisagens em lagos vencidos e vagas florestas silenciadas de vida , onde invisíveis pares diversos vivem sentimentos que não sentem! Poucos de nós conseguem entender os céus interiores , porque viajam nas estrelas dormindo, e o luar passa de uma forma longínqua do sonho…Há uma vaga ideia que sou um ser tímido de estranho olhar, que se envolve em tristeza e nada mais do seu pensar é autor de outras intenções…Nada poderia ser mais vago acerca de minha pessoa, não me intitulo de tímido , nem especial nem original, como uma espécie de louco que seja…Não sou tímido nem louco, sou uma pessoa diversa…Não sou uma ânfora mas também não sou uma taça …Mesmo que tivesse sobre mim uma mancha humana eu me conseguiria nivelar para sempre superar todos os que nesta vida me destratam e me tem feito mal. Posso deixar -me levar mas nunca me deixarei possuir , como quem possui um corpo, que valor teria isso para mim, se não me conseguirem possuir a alma? Já pensaram como se pode possuir uma alma? É que eu já amei mesmo dentro dos meus sonhos e nem ai me conseguiram possuir a alma… Mais um dia passou, e vou tropeçando nos obstáculos que não vejo, nas teias que nem sei o que são ,  escrevo palavras á margem da sua significação, eu sei, que lhes dou um tom que me levam a  resignar o que sinto para deixar de as fazer só minhas,  transformando-as  em vossas também! Culpados e desculpas, não passam de pesos desnecessários que nos travam a marcha e os passos, assumam as suas responsabilidades e recusem-se a olhar para trás !

 

 

domingo, 7 de fevereiro de 2021

 Quando eu for um sonho de anjos transparentes no cais da minha madrugada, arrastem-me na sombra das minhas águas, para um porto irrequieto no infinito das vossas noites. Transformem-me no vitral que emoldura os tédios, na verticalidade das nossas misteriosas cores, que transportam o seu estranho vulto, numa consciência ausente onde os ventos de agitam na floresta dos silêncios. Abram-me a porta por onde entram as brisas que falam de mim, perfumando o salão da minha alma, entoando alegrias orvalhadas, num cortejo de violinos tecido pelos teus dedos nesta escrita atrapalhada....Deixo aqui o vulto do meu olhar imóvel de lábios frios que procuram a sedução no silencio das horas mortas da intensidade dos entardeceres pois serei sempre , mas sempre uma metáfora escrita no inconsciente da alma iluminada pelas estrelas de cortinas de saudade, no claustro de uma noite que se junta ao nevoeiro incógnito...

terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

Hoje todos nós nesta nossa pequena passagem,  passamos um portão para o lado de lá , mas!!! Outras vezes ficamos no portão do lado de cá a espreitar o lado de lá do portão. É uma dor pois sentimos saudades no lado de cá do portão, sentimos medo do lado de lá do portão, choramos no lado de cá do portão, sonhamos com o lado de lá do portão... Esperamos no lado de cá do portão!!! Andamos de cá para lá, do portão. Parados na imensidão dos caminhos...E hoje pergunto-me quantos passos são precisos para fazer uma caminhada? Quantos gritos se ouvem quando a alma vai calada? Quanta força me resta à espera à beira da estrada? Quantos ventos sopram por dentro de uma madrugada? Quantas lágrimas correm na face beijada? Quantos calos tem uma mão calejada? Quantos rios correm na direção errada? Quantas palavras se rompem sem sorriso ou morada? Quanto de mim me resta, se navego apenas numa jangada jangada? Quantas interrogações mais me vão chegar entre a saída e a entrada deste portão de vida...Hoje estou assim, cheio de questões letras, descrições, utopias e ilusões ...Nesta amalgama de sonhos em espera onde bebo a tinta do que aqui escrevo!

Hoje vos digo que muitas vezes criamos um paradoxo em nossa rotina diaria, podemos até ter feito de tudo, virar os dias do avesso, quebrar ...