quinta-feira, 9 de março de 2017

Eu em tempos cheguei a ter à porta do meu quarto vazio as malas feitas! Dentro delas abriguei o coração por estar cheio e demasiado cansado mas, já me habituei a conviver com o seu peso, nem eu o noto já… Porém continuo a imaginar que tenho um sorriso nos lábios pois eu já tive as malas feitas mas não tinha nenhum destino. Parece ridículo imaginar-me ir embora outra vez…Chego a sentir essa vontade de virar costas ao passado… Mas hoje sei que as malas feitas sempre foram uma promessa…Nada Mais! Uma promessa de que a seguir virá algo…Talvez melhor ! Ainda que essa promessa seja apenas mais uma mentira que nem sequer vou querer ou conseguirei ouvir. Como somos estranhos, fazer as malas, faz-nos felizes !!! Imaginar-mos apanhar um novo trajecto, ir embora sabendo que não voltamos. Faz-nos felizes deixar para trás os lugares onde não somos felizes. Mas eu já tive as malas feitas à porta, o quarto vazio e a melancolia do que estava a deixar para trás. Sensação de que estava a fugir. Estava a fugir de mim. As minhas malas, a minha bagagem sempre foi de recordações e não de pessoas. Porque levo comigo apenas o que me tocou a alma e não aqueles que tentaram anular-ma. È verdade há anos que deixei as minhas malas feitas mas o meu quarto está cheio…Não é por querer ir-me embora! É porque fiquei acorrentado ao passado . Sabem porque fiquei acorrentado? Apenas posso dizer que sinto saudades do passado, sim do passado que aconteceu há anos e do passado que aconteceu há minutos atrás. Tenho saudades do passado porque o presente não dura e o futuro é incerto. Odeio o incerto além disso, tudo o que tenho, são apenas as malas feitas e lugares onde ainda não tentei ser feliz…

2 comentários:

  1. DESTA vez deixa-me
    ser feliz,
    nada aconteceu a ninguém,
    não estou em parte alguma,
    acontece somente
    que sou feliz
    pelos quatro lados
    do coração, andando,
    dormindo ou escrevendo.
    O que vou fazer, sou
    feliz.
    Sou mais inumerável
    que o pasto
    nas pradarias,
    sinto a pele como uma árvore rugosa
    e a água abaixo,
    os pássaros acima,
    o mar como um anel
    em minha cintura,
    feita de pão e pedra, a terra
    o ar canta como um violão.

    Tu ao meu lado na areia,
    és areia,
    tu cantas e és canto,
    o mundo
    é hoje minha alma,
    canto e areia,
    o mundo
    é hoje tua boca,
    deixa-me
    em tua boca e na areia
    ser feliz,
    ser feliz porque sim, porque respiro
    e porque tu respiras,
    ser feliz porque toco
    teu joelho
    e é como se tocasse
    a pele azul do céu
    e seu frescor.

    Hoje deixa-me
    a mim só
    ser feliz,
    com todos ou sem todos,
    ser feliz
    com o pasto
    e a areia,
    ser feliz
    com o ar e a terra,
    ser feliz,
    contigo, com tua boca,
    ser feliz.

    ( Pablo Neruda )

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  2. Olá querido Paulo, neste mundo tudo é incerto e hediondo, tudo é disperso e nada inteiro...Viver num mundo assim condiciona-nos sempre, é muito difícil escolher os lugares para tentar ser feliz e as únicas pessoas que jamais fracassam na vida nesse âmbito são aquelas que nunca o tentaram ser.

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