terça-feira, 11 de maio de 2021

Hoje não me recordo onde deixei as certezas . Derramadas no  chão,  não sei , não vejo marcas que contracenem nessa perda…Desfolhando o  alfabeto, como base para as palavras que precisam de construções  assisto a um pouco de nada, do que escrevo , para um céu longínquo onde as  novidades  assentam apenas num ponto de partida. Continuo com caixas por abrir, permanecem intactas  como os biliões de constelações, estrelas  que ditam caminhos. O meu interior é um átrio e o meu exterior revela-se  cada necessidade em meras pausas, nos reconhecimentos de quem é anónimo a outros olhos alheios. Rescrevo muitas conjugações por vezes são, inevitavelmente mal empregues, mas vou reparando nas marcas que deixo no chão…hoje tenho a capacidade  de saber não ficar,  nem de ir mais longe... Porque sinto que continuamos tão longe, para que o tempo nos faça aceitar  que não podemos modificar comportamentos, tão longe,  que temos de aceitar, que o passado é estático e não pode ser diferente , por muito que quiséssemos que o tivesse sido,  tão longe, que aceitamos como somos e paramos de lutar contra nós mesmos,  tão longe, que aceitamos que os outros são como são e paramos de lutar por eles, tão longe, que aceitamos que o mundo invariavelmente não quer saber dos nossos passos, nem abranda o ritmo para que consigamos acompanhá-lo,  tão longe, que aceitamos que temos de abrandar , a fim de conseguirmos acompanhar o que na vida nos sucede, tão longe , para conseguirmos aceitar de que tudo esteve sempre ao nosso alcance só que nunca parámos para o aceitar… Pára !!! Hoje sinto que o mundo se distancia dos seus momentos de origem. As sequências são distantes, cada vez mais  distantes...Mas!! Eu, continuo usando as mesmas palavras... Hoje até não seria o dia ideal que teria escolhido para escrever de novo! O cansaço das noites mal dormidas não perdoa mas!! Desde que pelo menos possamos estar deitados a descansar o corpo já é avançar …Escrever assim,  é perder um pouco o fio condutor á razão,  é colocar ironia nas palavras mas também nunca fiz questão de que o meu fio condutor fosse facilmente entendido, ou sequer óbvio. Muitas vezes é bom , colocar longe o mundo, longe a confusão. A distância, o tempo, a vida e a razão, tudo parece condenar-nos a não ver, não ouvir, assim, não restara nada palpável que justifique o raciocínio . E, no entanto, há algo que suplanta todos esses obstáculos. Não me peçam que explique algo que só eu sei sentir. Não tenho qualquer resposta para as  perguntas racionais e sensatas. O que sei, porque o sinto, é que nada nem ninguém o pode substituir. Será que o que me falta e que me faz caminhar desequilibrado, que me faz sentir incompleto, que me faz procurar e voltar a procurar, é talvez algo que eu sei bem nunca ter encontrado. É por isso que eu resisto à facilidade com que hoje em dia se deixa tudo para trás, esquecer, apagar do coração. Mesmo que tal fosse possível (eu sei que não é), se nos esquecemos de nós próprios, no final daremos com nós próprios a chegar á conclusão que nada temos. Quando tudo o resto se vai, são as coisas em que acreditamos que não nos abandonam... Tantas vezes se usa em vão a palavra Amor. Tantas vezes se comete o sacrilégio de se falar de Amor sem saber do que se fala. Ou do que se sente. Amar é carregar a alegria e a dor por termos a nossa Alma invadida por um ser estranho. Amar é sermos levados pela brisa, rodopiarmos como um remoinho e acabarmos arrastados pelo furacão. Como as simples ondas do mar,  que vão e voltam, sempre no seu ritmo compassado, e que nos fazem imaginar sonhos inconfessáveis, ou esperar pelo milagre que trará aquilo porque esperamos...Talvez nunca aconteça, mas amar é transportarmos a razão do nosso amor dia após dia, após dia, após dia. Isso é que deve ser amor. Por isso não devemos deixar de ter esperança. Não porque o saiba de verdade, mas porque o sinto. Gravado na minha Alma da forma mais  imortal. É esse o amor que eu encontro, sem no entanto o encontrar, todos os dias da minha vida. Não sei se algum dia me completará. Sei que sem ele estarei incompleto...Como hoje!

9 comentários:

  1. Simplesmente divinal a leitura dos teus pensamentos. Completamente recheados de sentido humano, tão indispensável, na sociedade que assistimos em degradação constante , onde os sentimentos são cada vez mais como o fast-food , sem conteúdo sem charme , sem empenho . Muitos beijinhos para ti Paulo

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  2. Anónimo5/12/2021

    Lindíssimo

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  3. A nossa vitalidade é demonstrada todos os dias, não apenas pela persistência, mas pela capacidade de começar de novo. As tuas palavras são mesmo apaixonantes " o meu interior é um átrio" Esta expressão é sem qualquer forma de duvida uma realidade mágica, somos espaços abertos, vazios que se vão preenchendo dia a pós dia. Tudo o que escreves é o espelho de milhares de nós , não ouses pensar que as tuas palavras são mal empregues, elas são luz para nós e pedaços da tua luz. Amei

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  4. A ironia das palavras é a grandeza da Alma, precisamos dela por é na ironia do discurso e da vida que começa a nossa liberdade.

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  5. Há sentimentos e emoções que os outros não iriam entender, mesmo que soubéssemos explicar...Mas ninguém tem necessidade de explicar! O amor é um sentimento , tão difícil de explicar, um labirinto
    onde a única porta se situa na frequência do olhar. Beijo

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  6. Caro Paulo é sempre um prazer e um fascínio entrar nos seus textos e fazer deles um pensamento também nosso. O Paulo é um encantador de palavras, um bem haja enorme

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  7. Lindo, o Amor é misto de sentimentos, muitas vezes avassalador outras vezes nos deixa incompletos, que nos leva a falar com o coração e nos toca na alma.



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  8. Meu amigo que texto espetacular, falta um livro, acho que irias ser um sucesso, abraço.

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