Hoje cresço na nudez das pedras que desmaiadas pernoitam na margem das marés vertendo-se nos caudais áridos do sal que se espumam pelo seu relevo. De onde provem todos os nossos dias, senão das pedras que se fixam assim, como as velas se fixavam aos barcos do antigamente! Subo para cima, nesta ilha de uma jangada imperfeita que navega abruptamente por entre relâmpagos que os céus devolvem a esta ilha desamparada que leva nas mãos do infortúnio um caminho que ignora as placas e nos faz sentir perdidos…Chamo as chuvas ao meu céu, que seja tão liquida, que se precipite por entre os dedos das minhas mãos fazendo-me escancarar as janelas onde já acendi a luz que derramou das estrelas. Hoje fixo a cor indefinível das marés, que enrolam em cada frase minha, todas as areias que as minhas mãos ancoraram, faço-o por tudo, pelo luto, pelas palavras, sim, até por todas as palavras parcas, modestas, que se afogam, se fundem por lucidez ou distração numa outra! Eu já subi ao mastro mais alto da vida, onde os mares fazem os seus ninhos, para lá do azul do horizonte, onde o mar sangra espumas brancas nos escombros dos trilhos dos barcos…Sei bem que não há nenhum céu escondido nesse mar, onde tenho-me banhado nestes anos de vida, ainda assim sei que há muito mais que esperança , mas eu não consigo obrigar o meu corpo a nadar quando até a minha alma se afoga no silêncio! Ainda não tive a oportunidade de sentir o mundo sem que este me exija mais do que aquilo que tenho para dar, corro, grito , elevo-me , chego a voar mas apenas nas águas onde o mar ainda não se espumou…É ai que fica a minha casa vazia onde muito antes de haver luz eu me afogo nas palavras.
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Os teus pensamentos tem brilho, brilham fazendo esquecer o brilho das estrelas. Ás vezes choramos tanto que parece que precisamos esvaziar essa maré dentro de nós.
ResponderEliminarSimplesmente lindíssimo,uma maravilha ler-te
ResponderEliminarCaro Paulo, o céu escondido és tu mesmo, brilha que a tua luz te guiará, um bem haja
ResponderEliminarQue palavras tão genuínas, fazes-me sonhar. Tens sempre textos que nos fazem estremecer.
ResponderEliminarA beleza das palavras são como a vida e a beleza de tudo, e isso requer muito cuidado. No amor também. Basta termos em mente que as flores e espinhos são belezas que se dão juntas! É preciso amadurecer a dúvida que temos nos nosso dias , nem sempre a resposta está pronta. Essa é a duvida que vale apena ser apreciada, duvidar é esperar pelo momento certo, ignorar as placas do caminho não será nunca forjar as respostas antes do tempo, é a única fora que temos na vida de não colher os frutos da vida verdes...Tu encantas de uma maneira surreal com as palavras , tens um dom único e percebo que não o usas em beneficio próprio, mas devias!
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