quarta-feira, 17 de novembro de 2021

Hoje vou-me encostar sobre o olhar das sombras, para vaguear na luz indecisa, para fazer do instante que me tocaram a mão na despedida, retirada da intensidade do olhar. Há segundos e imagens que tem uma duração eterna nos nosso corpos, eles roçam o suficiente no olhar para provocar e fazer-nos explodir para o espaço, num tempo infinito. Qual é a forma menos dolorosa? Quais são as palavras menos amargas? Qual é o tempo menos frágil?  Qual é o lugar mais isolado? Qual é o começo menos confuso? Qual é o final menos horrível? Qual é a fórmula menos Injusta? Qual é a pergunta menos estúpida? Qual é a  justificação mais banal? Qual é a despedida menos lacrimosa? Qual é o silêncio menos pesado e a marcha com a franquia mais baixa para acabar com estas extravagâncias? Tanta pergunta e eu sem respostas, transponho assim dias em que o tempo pouco importa, carregando sombras nesta bagagem faz de mim um mendigo sem luz, inventado para os lábios um sorriso que tenta disfarçar a dor lapidada por um improviso feito de um juízo…Como posso eu escrever poemas, se as palavras que me cortejam não tem nome, não tem pudor, poem-me ao descoberto, me mordem , me lambem , me beijam numa heresia na estrada que sigo , que, quase sempre é a mesma que volta! Para que, então  tanta pressa...Eu sei  e assumo que gosto de beijar cicatrizes, eu sei que ai, a pele é mais forte , é onde as lembranças nos mordem os sentidos, e estas, desenvolvem-se de varias formas , tamanhos , logo eu que  sempre convivi com cicatrizes. Porque gosto delas? Gosto delas porque é lá que a dor encontra a sua única forma,  crescendo de novo na pele onde houve sangue, caminhos que já percorridos tem sido apenas o único lugar da vida. Hoje estou assim como quem se liga de gesso e ligaduras, enrolando-me, tombando-me no tempo, fazendo-me nada ver á minha volta ou então desapareceu mesmo tudo do meu olhar! Bem as questões de hoje são exatamente as mesmas de ontem, o dia dobra-se entre este empoeirado de palavras , talvez enfadonho mas é onde me sento, deixando-me ficar …Na realidade não cabem no tempo todos os verbos que já conjuguei, nem tão pouco a pressa que o mundo tem, assim não cabem no tempo os olhares perdidos nem as vidas vazias, construa-se castelos bem acima das nuvens que nos permita passear neles depois de erguidos, porque só reiniciamos a construção de um castelo quando um dos existentes ruir …Na minha face , derramo o absurdo da sua lembrança, um elmo de imagem que tento arquivar na esperança da sua volta! Para quê querer um céu, se nem os Deuses conseguem viver nele!

6 comentários:

  1. Que texto Paulo, que maravilha que partilhas, que elegância na decisão, a maior heresia é cortar a carne e deixar derramar o sangue dos dias na solidão. Amei este texto, tens algo em ti muito intenso que esmaga os sentidos de qualquer leitor . Grata pela gigante partilha, muitos beijinhos

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  2. Há pessoas que nos falam e nem as escutamos, há pessoas que nos ferem e nem cicatrizes deixam, mas há pessoas que simplesmente aparecem em nossas vidas e nos marcam para sempre. As marcas que os seres humanos deixam são, com frequência, cicatrizes. Lindo pensamento

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  3. Caro Paulo, estou rendida á sua expressão linguística e à foram como articula simples palavras ás suas emoções. Simplesmente perfeito Paulo, um bem haja enorme , nunca deixe de escrever o que sente, aquilo que escreve é o erguer de um castelo gigantesco que demonstra o ser que realmente é.

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  4. sacio-me na tua poesia, como abelha na flor! Que mais poderei te dizer para demonstrar o quanto me tocas ?

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  5. Adorei,mais uma vez palavras lindas ,com tanto de ti,que me fazem sonhar e pensar,pois por vezes também temos tantas perguntas mas sem resposta.bjs

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  6. Demonstras um dom de grande envergadura que te faz perante muita gente um ser superior,  de nível de sensibilidade muito grande. Cicatrizas os teus sentidos em quem te lê, mesmo que as pessoas não te conheçam, tem muita necessidade de te conhecer e ter-te bem perto. És luz

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