segunda-feira, 10 de fevereiro de 2025

Hoje a minha caneta move-se pela página da vida como o focinho de um estranho animal que tem a forma de um braço humano que sai pela manga larga da camisola...Ela vai farejando incessantemente a tela da vida, determinada, como se pensasse apenas nos sentidos que os dedos vertem perante esta muralha ingreme que é a vida! Obrigo-me a escrever mais umas poucas linhas, enquanto espreito pela janela, as sombras hoje são marionetas articuladas que nos fazem não saber como reagir quando, passados vinte anos, uma pessoa que nos magoou muito, nos quer pedir perdão? Pedir perdão não é a mesma coisa do que pedir desculpa. De facto, pode perdoar-se algo, continuando a considerar que o gesto que se perdoa se mantém indesculpável...Aconteceu recentemente comigo e, a minha primeira reação, foi nem sequer admitir falar sobre o assunto. Mas perante a insistência, pensei com a cabeça e não com o coração. Este não desejava ser importunado, com algo que o tinha magoado.. A razão entendia que se alguém se queria redimir de alguma coisa, eu deveria permitir essa possibilidade e escutar o que importava que me fosse dito. Demorei meses a tomar a decisão racional, tentando não esquecer o que, na época dos acontecimentos, também tinham sido atitudes de grande estima. Este domingo, por razões várias, veio-me à mente, a luta interna que tive de travar para aceder ao tal pedido de perdão e a sensação com que fiquei depois de o conceder. Por formação, o perdão é algo que faz parte dos valores em que acredito. Mas também é verdade que, não sendo eu santo, há traições que me custam a deglutir. Prefiro pensar que a pessoa não existe e não me deixar dominar por sentimentos negativos. Pois bem, só ontem, domingo, é que tive a consciência plena do perdão que havia concedido... Mas senti-me tremendamente confuso, o detonador continuava a existir, mas já não tinha qualquer força. Há coisas que já não fazem muito sentido nas nossas vidas, deixam de incomodar que tivessem acontecido mas permitem que eu pudesse relembrar os momentos de alegria que também então vivi! Resumindo isto, digo que a família é um prato difícil de preparar, são muitos ingredientes, reunir todos pode ser um problema...Não é mesmo para todos...Às vezes, dá até vontade de desistir, mas confessso que a familia é um prato que emociona. Uns, choram mesmo, de raiva, alegria , tristeza ...Mas!! Familia é afinidade, é à Moda da Casa, cada casa gosta de preparar a família a seu jeito. Há famílias doces, outras, meio amargas, outras apimentadíssimas, enfim, receita de família não se copia, se inventa. Família é prato que, quando se acaba, nunca mais se repete, então, Amem-se, perdoem -se, aceitem-se, tolerem-se e vivam como se hoje fosse o último dia que vocês vão estar com a vossa família...

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