quinta-feira, 29 de junho de 2023

Hoje sinto que me escondo das palavras, esqueci-me do verbo que me desnuda  na saudade da lua minguante …Esqueci-me dos socalcos da maresia que em mim sussurram a falésia do olhar, na cegueira da lua branca,  nua,  que sempre me deixou na praia de silêncios…O que podemos fazer com as palavras, no meio da indiferença? O que podemos fazer com os sorrisos se estes não cabem nas gavetas? O que fazemos com as palavras que tentamos escrever,  essa é uma liberdade que nos pode empurrar para a luz quando o nosso corpo respira sombra. Hoje reflito sobre esse socalco de vida, e ele pode ser feroz. Invade as artérias da nossa casa como  uma lâmina afiada cortando a esperança pela raiz…É como a água a desbravar caminhos,  derruba defesas e passa. Há palavras que se sentam  à nossa mesa dormem na nossa cama grita-nos ao ouvido até obrigar a alma a sair apropriando-se do corpo, silenciado a voz. Hoje ouvi uma palavra “desconhecida", enquanto reparava uma linha ténue de vida, achei por bem agarrar-me apenas à vida de mãos cheias de ansiedade e com apenas a minha voz  unir silêncios para que se possam ouvir, de repente como se de mais não precisasse a esperança  choveu-me  inteira nos olhos. Hoje posso filtrar o que digo de corpo inteiro, mas não posso controlar a interpretação dos outros! Habitamos um corpo para que haja gestos!!!Eu sei que mora em mim uma força desconhecida, que alimenta  moinhos da imaginação, faz mover as folhas das árvores como se fosse uma brisa silenciosa que se propaga pelo infinito, não consigo explicar este mistério que brota nos meus silêncios sob a forma de palavras, pensamentos,  sensações...Mas!!! Tenho medo da incongruência  do vazio, que me invade quando nada tenho a dizer, sinto que desgastei as palavras para algumas pessoas…Sinto que nasci para antever luz por trás das nuvens mais escuras, para sondar o insondável, e perscrutar o que não é visível ao olhar…Nasci para aprender a aprender, sou apenas humano,  sei que tudo está por descobrir, nasci para lutar em todos os momentos pela liberdade e saboreá-la, com o insaciável desejo do fruto de cada estação, nasci para ser livre num mundo repleto de  fronteiras que nos sacode a mão que nos quer subjugar, nasci para ser criança na cristalina partilha dos risos do incansável jogo lúdico do que se faz e desfaz e se volta a fazer na fulgurante cumplicidade do amor. Há em cada um de nós  cumes do dever singular esculpidos pelo criador como quem se  perde e se acha para  além de todos os limites estabelecidos.  Hoje opto por deixar que a vida me aconteça livremente sem o  prevejo nem o planeio porque temos de aceitar o que é imutável, contestando nas lutas as injustiças porque caminhar  à beira do abismo é algo que já me habituei a fazer, mesmo quando ouso com coragem  transpor e conhecer o lado de lá, nasci para gostar e sei como gostar de alguém! O ser humano é um autentico universo de desconhecimento, somos todos muito diferentes e por muito que haja fios condutores que sustentem a razão, há sempre o inesperado e o permanente … O caos muitas vezes vive hospedado na logica dos sentidos  é como dizer adeus, nesse mero apontamento temos a inquietude e o alivio do desapego! É tão fácil olhar o chão de alma apertada não é! Até espalmamos as pedras da calçada quando passamos, dizer adeus tornou-se numa coisa vulgar no ser humano, é sustentado pelo pensamento inquebrável , como uma ponte que resiste mesmo com uma multidão a atravessá-la de mãos erguidas a conter o sangue da vida! Eu não digo adeus, a nada, nem sequer ás flores sazonais,  apenas direi adeus à vida quando ela me disser chega…Há muito que me deixei de ver ao espelho, aquilo que já primário , nem tenho habito de ir ver fotos de uma vida , pois nelas não me consigo encontrar, lamento muito mas não me sinto lá onde sempre estive ! A verdade é que há pessoas diferentes e ainda bem que assim é , mas há uma diferença que é muito importante …Umas são o que são porque leram muitos livros de grandes autores, poetas , pensadores, foi com eles que aprenderam a valorar os seus sentimentos… Outras são o que são, apesar de nunca terem tido influências de ter lido ou lidado com pessoas com uma sensibilidade elevada …Simplesmente são o que são porque tem a capacidade em transformar as suas palavras no que vivem e sentem. Como qualquer ser humano , posso me tornar incontrolavelmente frio, mas hoje estou assim e quando assim estou tenho sempre algo a dizer!

 

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