sexta-feira, 30 de agosto de 2024
Hoje nem tempo tive para me sentar na quimera do tempo mas, ainda assim!! Olhei a rua vazia de emoções, através da vidraça embaciada da minha janela, de onde posso ver o mundo, pequeno mundo que me cerca…Senti o frio da tarde acinzentada que me invadiu o sentir deixando-me desconfortável pensativo! Serenamente fecho os olhos e imagino ao som desta brisa turva na fascinante dança da natureza que entrelaça os ramos como se de magia se tratasse nas árvores no crepúsculo da tarde que se agita em meu ser feito coreografia … Parece um tango, quando os ramos se juntam neste sentir, rodopiando silenciosamente ! Que final de tarde este, onde os telefones não param mas!! Ouso ignora-los focando-me apenas nesta sonoridade fantástica que se desenlaça como um frenesim que me encanta… Abro os olhos e a noite começa a cair ininterruptamente e me faz retornar à realidade que nem o sonho me pode fazer ignorar, despertando deste momento que vivi sozinho no encalço da minha janela cuja vidraça está apenas mais embaciada… Olho para as minhas mãos...E não sei o que têm para contar...Estiveram tanto tempo esquecidas que têm medo de falar...Se ao menos existissem outras mãos...
segunda-feira, 26 de agosto de 2024
Hoje neste ínfimo lugar apenas reconhecemos, as distâncias implacáveis, os corpos e o cansaço, a estranheza que se entranha até só o escuro poder transmitir-nos alguma calma...As vezes gostaríamos de esquecer sentidos, e outros tantos que fizemos da noite um hábito imperioso...Servindo-nos de um foco de luz para ir soletrando, provando o espaço como quem bebe goles de vida! Antes tínhamos o perdão dos substantivos, a textura e os tumultos de impressões raras, nomes intrusos, e a resina de umas poucas imagens, hoje raspamos o pó que sobrou, para escrever a letra de uma canção, como se a ferrugem dos tempos, fosse uma espécie aguardando algo mais de outra, e é ai, que damos pela falta do mundo, ainda que o não saibamos explicar! A dor ensina a encher um copo de cada vez, e a bebê-lo como quem toca um instrumento, e depois tombamos melodiosos por aí... sem ter onde cair! Existem mundos, dizem-se povoados por choros de culturas antigas que depois do medo ascendiam ao fogo que se fazia crescer entre as mãos e seus reflexos na mais terna Doçura inconsciente dos objetos que se tornam selvagens pelo uso que lhe damos... Por iso eu peço o tédio para alcançar a simplecidade e esta que me faz estremecer perante mim mesmo e nenhum espelho ousa copiar! Que copie as cicatrizes, mas jamais a simplicidade do ser que bebe rastos de lua nas lascas do mármore restintuindo a luz secreta à vida...Tudo se converte na dureza do osso, eu igualmente me converto, em cada passo que atravesso na noite ferida por mil vozes recordando cançoes de água salgada, perdão a todos, por não conseguir sonhar, por não conseguir dobrar o joelhos diante do altar da vida, e percorrer as cavernas ocultas do meu coração! É clandestino o destino, destinou-me a esse lugar, onde as flores não têm nome, nas mãos das palavras ocultas, a tactear lágrimas no silêncio, no secreto mistério da eternidade. Hoje peço que se semeiem estrelas no areal para que o tempo não morra, a cada segundo de ausência. Que se sacie a sede, na água salgada e na ondelação das marés... A terra tremeu e o sol e a lua entrelaçaram os seus fios de luz, na teia dos sentidos, ficou o cheiro a vinho maduro, do mosto do meu meu corpo efervescente, que se tenta agarrar a palavras pela vida! Um dia virá, em que as palavras serão palpáveis, e os sonhos terão contornos definidos... Nesse dia o tempo irá parar, e eu, diluir-me-ei nas cores que sei de cor, e ai também eu farei parte do infinito...
quinta-feira, 22 de agosto de 2024
Hoje devo ter batido já um deserto inteiro, à máquina, cada grão uma sílaba, e não vejo o fim disto, nenhum eco me trouxe o que buscava, e, hoje seria uma ofensa se alguém o tentasse trazer! Tenho cinquenta, os pulmões cheios de musgo. Quem nos lê, vê-nos por aí entregues, aos restos mortais do impossível, a minoria de que fazemos parte, tu e eu e uns poucos mais, esforçando o ritmo, para atingir o âmago, tentando fazer saltar, o reverso da vida. Mas!! Para quê? Seguimos para o funeral de outro de nós, alguém que puxou a sua rede um pouco mais cedo...Hoje sinjo-me a lavar a loiça, os pratos estão alinhados, é apenas um! Sentido de ordem que antes levava alguns a viver de roda de um soneto, fico aqui no alpendre, enquanto acendo um cigarro e o deixo nos lábios do tempo, ardendo a sós, apreciando a colecção de garrafas, com as suas diferentes medidas como se fossem vasos com um pouco de terra e mais nada... Recordo, gestos vivos, perfis genuinos intactos, após três dias de terror, diante dessa esquiva graça, e se uns se desgraçam perseguindo formas, outros perderam o juízo entre murmúrios, parecem alimentar-se de sons, devorando as intimidades do idioma. Talvez isto possa ser o suficiente, mas!! Pelo pátio espalha-se a poeira, mal se escutam as passadas ofegantes, pouca coisa tem a dizer-nos este tempo, as grandes lições os triunfos a sabedoria que mais nos comove os sussurros da seda, as melhores vozes tudo o que vibrou e deu gosto aos dias está por aí enterrado, nos textos, e os amantes colhem toda a exuberância... No passado, os mais tumultuosos reflexos, ecos de flores, dos corpos, dão-se sacudindo o ouro, para que se possa de novo, respirar, para que os milénios passem por nós e nos ofereçam o seu abalo... Se somos velhos, essa paixão do que se respirou sobre a terra é o que fala ainda por nós! Hoje digo, se não fosse a compaixão que nos arrasta para dentro da terra e os devolve ao pó, se ela não se ocupasse nós, o que seria dos incapazes de obras ou de um sincero sorriso? Apenas restariam por aí, esquecidos de si próprios, sem esse gesto que afinal é doce e compreensivo! É essa a última dignidade, que alimenta a necessidade da recordação, libertando música que leva os fantasmas que ainda nos falam, perguntando pelos gestos de que vivemos suspensos, essa trama íntima sacudida assim é tudo o quanto ela nos tira, é disso precisamente que o ser humano num tempo tão desolado como este, deseja para erguer a sua árvore! A luz não nos obedece! É difícil segurar-nos e persistir, tão à flor de nervos desarmados, saber de nós nesta língua de farrapos, a rebentar de ecos, roncos, entre tantos remoinhos, regressos a outras idades, as misturas, e os estragos que isso faz num homem, a consciência zunindo com um gosto a tempestade, e mesmo desconfiando da própria respiração, vemos o que nos resta com toda a força, as evidências extraordinárias do que se abate contra nós, e se escrevemos é na ânsia de dar ordens ao tempo, humedecer-lhe os lábios, para deslizar entre essas formas leves esse modo de evadir-se, que deixa aos versos aquele tremor das grandes verdades...
domingo, 11 de agosto de 2024
Hoje pairei no vento, enquanto este elevava as folhas na promessa do final do veráo, não sei se o céu estava desprevenido na face da sua ausência, mas, confio na estação vindoura, como o arial, fosse um mapa, exposto na sua fina fragilidade do relevo imposto. Visto a armadura preparada para os contratempos, sei que as lágrimas são apenas a
tatuagem da angústia que emerge na pele nos dias sombrios, sei que os ofícios que me destratam não pedem favor, mas também sei onde está o refúgio em mim, nessa bússola que levanta o olhar para a paisagem oceânica onde são inventariadas as nossas vivencias. Eu há muito que descobri que a pele contrariada é apenas um peso medido pelos sobressaltos, como uma mão que ergue a meio da tempestade e a concilia… Sinto-me como um corpo que se mete no estuário deste rio, sem medo da maré-viva. Sou apenas mais um lugar da vida , mapeado de cicatrizes, que se reagrupa como moléculas que compõem os palcos de outrora onde um tempo se jogou. Mas , esse tempo está fora do jogo. Agora, sou eu que estou fora do tempo. Congeminando à minha intemporalidade. Sei que posso sair das fronteiras do tempo e procurar-me em qualquer mapa de vida, é como se tivesse descoberto a porta do tempo que me fornece múltiplas possibilidades de ser apenas eu. Não me escondo atrás de biombos que diminuem a minha estatura. Não fujo do que sou. A minha estatura é a dos mares todos juntos. Jogo as marés no propósito da minha viabilidade, não no propósito da minha visibilidade . Sinto que sou mais do que o corpo que o
espelho mostra. Não preciso de paradeiro ,sou um mapa que se reinventa. Todos os dias.
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