quarta-feira, 16 de julho de 2025

Hoje tenho saudades da urgência da palavra...Sabem aquela sensação que nos faz dobrar os papeis pelos dedos cansados, urgindo guarida apenas no pensamento! As ideias ficam mal paradas pela boca a salivar nas palavras que morfaram na mesa vazia, mas sem sentidos não há palavras que cheguem, estas sobrevivem apenas no eco inseguro que se fecha em rochas que nem o mar desfaz… Vale apena estar a dizer o óbvio? Vale apena deduzir as palavras do passado como se fosse uma pintura? Penso que não… Eu já inclinei o peito perante os olhos a brilhar, mesmo quando um rio de sal se extinguia deles! Eu sei bem que há pessoas que conseguem moldar emoções como se estas fossem noites de puro encanto, eu sinceramente não sou de todo capaz! Aprendi a lição da vida que me fez mergulhar num puro e duro silêncio, hoje recuso-me a escrever sobre verdades juradas, mesmo que elas se espalhem pelo chão como grãos de areia. Será que nesse vento cabem todos os gritos? Por isso, Muitas vezes me pergunto se existimos mesmo, há sempre um passo que fica por dar, onde um templo é presença e ausência e paz… Parece um paradoxo eu sei, e por muito que façamos voos vigilantes as palavras quebram sempre, para quem se aninha e embriaga na fonte do outro lado da ponte … Hoje estou assim , não sei definir se sinto o reflexo do espelho ou se a luz dele me encandeia, por isso, percorro palavras pelos lugares onde a minha voz não ecoa, escrevo como se as palavras fossem a minha fonte de água fresca porque só assim sei ser ! Diante dos silêncios eterniza-se a parede de cimento, onde mais uma vez as palavras esbarram nesse escuro onde tanta gente passa… Floresta de sonhos plantados por baixo dum céu que escurecido faz germinar sensações onde ninguém dança ou canta… Nada se mexe, perde-se o ímpeto a velocidade, até a solidão se perde diante dos silêncios nessa fase, como se ela fosse um pedaço de chão que não nos recebe… Vou varrer estas folhas do chão? Procurar debaixo delas uma passagem ? Ou vou sentar-me e esperar, pode ser que um dia as folhas do Outono se revoltem com o vento… Quando estou sentado na vida, lembro-me dos assentos em que não mais me poderei sentar! Pensar está no olhar, sentir está no pensar, os sonhos estão no sentir, viver está no partir, partir está no assentar, mas! Também sonhei com alguém mas esqueci-me do que foi...Às vezes até os sonhos nos protegem, na terra das palavras abandonadas...

sábado, 12 de julho de 2025

Hoje sou a espiral entre o ponto de interrogação e o da exclamação de espanto, isto sem, m retirar uma vírgula ao que digo que no entanto deixo em reticências na afirmação do ser! Quando entro dentro de parêntis me revelo ponto e vírgula de parte, pois sou muito mais coração do que razão tenho a porta aberta da irrealidade que me põe nas asas, o fim de todas as citações, assim chego ao ponto final...É assim que o mar me vê, beija-me os pés com os seus lábios de espuma enquanto eu abro os braços aos grãos dourados do areal da incerteza. Transformo-me na areia que o mar beija, deixo a minha alma nua, em longos braços de espuma ...Aí, sou inteiramente dele, dou minha revolta e só ele me irá reconhecer, nos olhos de uma gaivota voando livremente sobre este caminho percorrido, onde nem o céu, nem as estrelas, nem a lua prendem os olhos dessa ave refem do olhar...Aqui sim, sou o que sou e assim me deixem ser...Sou brisa que me acalma, sou fogo, que arde e ardentemente me queima, sou chuva, onde me afogo, sou neve que cai levemente sobre mim mesmo, sou tufão que abraça todos os ventos, sou vulcão que em erupção solta lava de revolta, sou, amor, revolta, vibração, sou o que sou e assim peço que me deixem ser...Sabem porque escrevemos? Apenas pela tentativa dum ponto final!

quarta-feira, 2 de julho de 2025

Hoje tudo o que escrevo aqui, está num esconderijo onde as sílabas nascem inquietas, muito antes do início... É ai que existe a probabilidade de se unirem e formarem a palavra nas roturas do tempo, dando sentido a uma trajetória inversa antes da primeira madrugada do início dos tempos... Há um tempo, um espaço vago, palavras que nascem, dentro do ano que passa, mas!! As letras rodopiam e regressam sempre ao início. Alma é a magia do despontar do início de tudo, cruza-se com o fim, e o fim depois do início dissolvesse na improbabilidade de ser espírito ... Eu sei, é confuso para alguns , mas, é ai que a alma, o corpo, se transforma em sílabas em movimento, numa dança leve e contínua ao encontro da linha do Universo rasgando o ventre da ordem até à desintegração...O que escrevo está no esconderijo da lucidez, portanto a loucura é o único caminho que resta para reconhecer o nível de sensibilidade, do sentir e das ações para não pactuar com a mediocridade nem dar fé à ignorância de alguns! Refuto em mim, o terrorismo monstruoso da mentira, porque cada ano que passa, um poema nasce , um espaço fica vago, um tempo se liberta no corredor da vida. Contemplo os espaços repletos de sílabas que separam o início há milhares de milhões de anos da luz, dando ao homem a oportunidade de brincar com um certo jogo matemático com o objetivo de corroer tudo o que foi criado. Em tudo na vida há o início e há o fim. Em todos os percursos há pedras paralelas aos rios, ruas sem nome, portas sem números, casas devastadas nas mãos do fogo, vidas perdidas rasgando o fumo no amargo da noite, sons abertos no solo do abandono, cruzes a suar no dorso da noite dos silêncios ... Vamos falar de portas fechadas condenadas ao espectro da palavra, vamos falar da seca e a seguir do frio da dor de um planeta profundamente magoado que assume o lugar de um parto gigantesco de fora para dentro já não me apetece falar. sinto o corpo gelado. o Universo penetra-me, entra dentro de mim. Sinto o seu peso, o peso profundo da sua dor que me esmaga o cérebro e irrompe no sorriso da minha alma, é essa a estrada de grãos dourados que me fazem verter palavras. liberto-as no poema onde a luz agita as algas da indiferença, nesse erodito oceano espelhado de vozes velozes e ondulantes que levam na sua rota o distanciamento nas bocas entreabertas das falésias da vida...Hoje liberto palavras apenas...Num eco dirigido ao céu, na busca do astro luz, onde a paz e amor entram em fusão, como uma haste erguida nos passos da proa do silêncio navegado!

Hoje tenho saudades da urgência da palavra...Sabem aquela sensação que nos faz dobrar os papeis pelos dedos cansados, urgindo guarida apenas...