segunda-feira, 12 de outubro de 2020

Hoje, a luz do dia esconde-se como se descêssemos para os calabouços onde a luz é trémula e faz prever um sombreado de tristeza  nas paredes…  Como se fosse possível mascarar-nos, também de granito e darmos as mãos no escuro, onde as pedras se lamentam e onde todas as sombras não passam de sombras! Cada vez que descemos  degraus na vida, o nosso coração soluça, pelos que vem atrás, e pelos que vamos encontrar no caminho… Eu já desci de um mundo para o outro,  parecia-me uma marcha silenciosa uma procissão de condenados, onde apenas se escutavam os  passos , abracei-me à minha imaginação, dei as mãos aos deuses que caminham pacientemente com a esperança , suplicando que a Natureza acorde os que adormeceram com luz...  Sim!! Esses felizardos, vivem   sob nós... Criam um  burburinho na "Terra" que fica em ebulição, mas, nos faz sentir firmes, mesmo descendo a escadaria deste precipício sem fim! Há inconsciências , e por mais degraus que se desça nesta antecâmara, não restam palavras que testemunhem a descida … Afinal , o “homem” apenas é pequeno, diante de uma porta enorme! Enquanto não se parar esta escada rolante , não existir coragem de silenciar com rigor,  os arquivos deixados na escuridão e as palavras que não podem ser declamadas… Emolduremos então os sentidos , eu também estou aqui , como vocês descendo a escadaria, esperando a minha vez, mas!! Vou propositadamente dando passagem a todos os que conseguir, para me atrasar … Não confundam isso com simpatia, nem timidez! Sinto-me inteiro, fechando os olhos, mesmo sabendo que a minha voz só é valorizada , quando silenciada …

segunda-feira, 5 de outubro de 2020

  Hoje estou naqueles dias em que me apercebo que a vida tem crueldades, mas também delicadezas que se  estendem além da paixão, se manifestam em nós, como relâmpagos e trovões! Umas vezes trazem a  desejada permanência de  amizade, família, trabalho, amor, por isso eu digo-o que somos realidades que se chocam com as crueldades e delicadezas da vida! Por muito que tenhamos profetizado os nossos dias eles serão sempre um aprendizado que muitas vezes se manifesta em nós da pior forma... Umas vezes tiramos baixo aproveitamento outras vezes , passamos com distinção…Queremos sempre o milagre  perto mas este pode demorar uma eternidade a germinar em nós,  e o chão, vai-se afundado deixando o tapete que sempre deslizou nos nossos pés irregular, expondo-nos a um mundo que se mostra cada vez menos humano… Falta em muita gente o conceito de família, lar! Amigos,  lar é,  onde se partilha a mesa, é onde se sonha com o sono de criança, é onde se avista a luz acesa, é onde os ruídos nos embalam, é onde se discute a posição dos quadros, e os objetos  têm vida e nos contam historias… É disso que sinto falta …Hoje sinto-me resiliente, mas,  não sinto vergonha em chorar, todos choramos, uns choram para fora, outros preferem guardar, outros escondem, fingem num sorriso amargo que nada os atinge… 

quinta-feira, 1 de outubro de 2020

Hoje sinto que as palavras estão gastas, rasgadas no seu ultimo fôlego … Não existe palavras certas para definir o ser, , nem o perfeito nem o imperfeito quanto mais o esquisito! Foram-se perdendo com as tempestades, deixando para trás os navios desatracados , á deriva  sem porto de abrigo sem sons apenas silêncios…As palavras deixaram de ser audíveis, quando uma vogal se aproxima , fogem as consoantes, grito por elas aos ventos, mas a voz vai perdendo a lucidez . É como se as mentiras chegassem em forma de boatos, algo contrafeito que disfarça sentimentos alternando apenas acontecimentos. É mesmo assim , hoje estou aqui, num descompasso de sensatez  envolto em faltas que não preenchem as minhas,  como se fossem sinónimos indivisíveis de  uma força grotesca que nada une e tudo divide, onde cabe um mundo mas,  nenhum ideal! As palavras parecem gastas, onde a brisa da noite se impõe, há véus sem esplendor que sobem e descem com o sussurro das estrelas, há noites escuras onde só brilham os segredos alargando os tempos entre espaço e o infinito…Há luz na escuridão, onde as palavras se gastam e se cansam nos murmúrios do luar! Hoje deixo a semente da inspiração na correnteza da água que não soa nas margens dos meus dedos aflitos, escolho nas palavras a paz que não tem preço, mas exige muitas escolhas e dedicação, devendo procurar-se e desenvolver de acordo com as condições que temos ao nosso alcance disponíveis…Hoje, a paz das palavras gastas,  vem ter com quem prepara a sua tranquilidade emocional.

 

segunda-feira, 21 de setembro de 2020

Hoje vejo por esta janela, medos que criamos, como obstáculos da mente que  fazem levantar paredes de aço. Haverá um dia que  perderemos a noção do tempo, ai ficaremos fora de compasso. Encontramo-nos num limbo entre o abismo e a felicidade, onde tudo o que nos falta é força, e vontade …  Há dias que temos a certeza do mundo e outro que colocamos tudo em questão. Somos pedaços de corações assustados, na sombra da insegurança,  iludidos em expetativas,  em sonhos perdidos. Hoje em dia é mais fácil viver em negação do que arriscar com o coração. A despreocupação tornou-se hábito de desistentes, mas hoje em dia há quem não veja o mundo ser de forma diferente. As pessoas têm medo das partidas, porque temem a saudade. Não sabem lidar com distâncias ou com metades. Preferem viver no seu mundo interior, na sua bolha de solidão. É mais fácil ignorar a ausência que viver com ela em permanência. Já ninguém sabe dizer que não, andam com fitas coladas na boca e com medo de exprimir as emoções. Acham difícil dizer um amo-te, mas a facilidade com que dizem a palavra odeio-te é inigualável. Poucos sabem perder-se nas estrelas, por andar com a cabeça na lua. Corpos vagueiam perdidos em ruas despidas, as mentes tornaram-se espaços em branco e as almas vazias. Ninguém sabe o que é viver realmente a vida… De mil pedaços somos feitos, juntando as peças a todos os momentos. Todos temos feridas e marcas. Histórias que pesam e que vêm carregadas… de emoção. Ninguém sabe o que quer, ou o que tem. Ninguém sabe se vai ou se se mantém. mundo vive de medos, mas não o sabe dizer. Tem medo de acordar ou de adormecer. O mundo perdeu a sua essência no amor, caminhamos sobre o medo e fechamos nos  na nossa  dor… De que somos feitos então , para além de corpos cheios de matéria? Esta realidade nua, em que despimos a alma e contornamos a mente, a insanidade deixa-nos mergulhados em emoções. Vibrações sentidas em sussurros que fazem da vida um arrepio repentino. Vagueamos num labirinto em busca de certezas. Procuramos respostas às perguntas que não dizemos em voz alta. Deixamos de falar de agir... Somos corpos inertes, que não sabem por onde seguir.  O mundo dá Voltas  e  volta a seguir o seu percurso. Quando damos conta, o  coração aperta-se, nas lágrimas fazendo-as rolar pelo rosto abaixo , fazendo as saudades correrem o seu caminho. As coisas mais importantes, são as mais incertas. Procuramos as certezas, mas é na incerteza que se escondem  as respostas...

segunda-feira, 7 de setembro de 2020

 Hoje, sem mascaras, mas de mascara, sem capas e sem mentiras,  olhem para mim e vejam  tudo, amanha estarei aqui e não serei esta pessoa, certamente... Amanhã tentarão entrar na minha alma e o meu corpo estará deserto. Amanhã podem procurar o meu sorriso , mas, apenas  as lágrimas estarão tatuadas. Amanhã não vou reconhecer ninguém o meu olhar será vazio. Quem eu sou hoje, nunca se esqueçam! Se algo disserem de mim, não se sintam na obrigação de ripostar...  Posso atravessar as noites como um fantasma triste, vagueando sem destino, não me sinto melhor nem pior do que um dia fui... estou simplesmente vazio, despido de vida, despido de amor, despido de todos os sonhos, mesmo dos que já realizei…Quando caminho ao tocar no chão, as minha pegadas fazem ressurgir o passado. Renascem  vozes dos meus passos,  ouço-as vibrando dentro de todo o meu vazio… Por muito que caminhe não projeto sombras , não  há luz para que as tenha... há apenas a noite da noite que atravesso neste corredor que não me leva a lado algum… Sinto-me um mero fantasma deambulando pelos sonhos alheios, imóvel, sei o que procuro e o que certifico de que  não vejo. Vazio, sempre este vazio...Não foi assim que imaginei os sonhos! Imaginei que, em algum momento algo iria chegar e eu já não ia ser apenas e somente um fantasma vagueando nas noites de tristeza; aquelas noites que não amanhecem e que ficam dentro da alma, acorrentando-a ao chão frio de não saber o que vem amanhã. Imaginei que ia sorrir mas fazê-lo com todo o sentido. Sorrir de verdade, com aqueles sorrisos que não esmorecem e que ninguém rouba… Mas hoje apenas vejo-me atravessar a noite fria, passando pelos mais íngremes penhascos como um fantasma, saltando sem medos para o precipício… Eis que acordo dos meus sonhos. Não sou nem nunca serei um fantasma! Posso até avistar o penhasco neste corredor de vida, que este velho amigo de todas as horas, continua  comigo,  jamais me deixará … Hoje acordei de um sonho que não era meu e apenas abdico daquilo que não acredito...

domingo, 23 de agosto de 2020

 Hoje sinto que somos a luz que projecta a ilusão, quando os dedos escrevem sinto que soltam nas palavras, o pedaço da personalidade que somos e o ser que serenamente deixamos, que cubram em nós...De facto existem pedaços de dor , ausência, de paixão de carinho neste nosso mundo!!! neste mundo onde deambulamos existem pedaços de saudade , felicidade, carência , pedaços de sonhos que muitas vezes remetemos para o nosso silêncio. Todos juntos se encaixam , e nesta onda também se perdem...existe o quente e o frio, que se separam em pedaços de serenidade , verdade, realidade e ai a tristeza também tem um lugar. Existe a simplicidade e a complicação...existe o silêncio e o perdão ; existe o desejo e o desapego !!!Sempre existiu em todos nós, seres mortais, a loucura como passividade e o perfume como duvida...Mas é nos sentimentos que os pedaços são maiores pois todos juntos formam o amor e este só se torna pleno quando todos os pedaços de nós se unem e funde num só!!! Quando a alma não se alinha , as palavras ficam retidas e formam uma cascata , ficam aprisionadas ...Umas choram silêncio outras ficam aprisionadas vertendo sofrivelmente lágrimas sobre cada suspiro que nos compõe !!! E já agora sabem porquê? Porque metade de mim é silêncio e a outra metade um remoinho de sentimentos que me silencia o coração!!!Pergunto quantas noites vou ter de ficar acordado, quantas lagrimas ainda terei de chorar, nem sei, o poço é fundo e não parece secar...Mas se os céus por cima de mim , seguem as estrelas cadentes, então só o amor nos poderá salvar, só amor poderá olhar para dentro  do coração , ver por quem somos, e saber se o que somos será suficiente para perdoar ...Estamos tão cegos que não conseguimos perdoar , só o amor, nos poderá salvar...Se ao menos houvesse apenas amor...

quarta-feira, 19 de agosto de 2020

 Hoje é daqueles dias em que ergo os braços ao céu e agito no ar os dedos, como se quisesse moldar o vento, criar do nada um pensamento um caminho uma verdade... Imagino na tridimensionalidade do vazio que o vendaval arrasta a forma que gostaria de lhe dar, o espaço que queria desenhar ou até a personagem que queria encarnar e viver planando nesta represa de palavras que em mim jorra de forma ininterrupta... Mas a vida não é feita de vazios moldáveis pelo simples facto de pensar, a realidade gera-se de formas, de matérias e de sonhos que nos atrevemos a sonhar, porque a mão que nos guia nos impele, nos auxilia e nos compreende, e, num rasgo de vontade, nos faz criar até de sentimentos estéreis uma vida!!! Continua a existir esperança para os que acreditam que não há limites para os horizontes, só assim a entrega incondicional dos que amam gera criação. Respeito o meu Criador, mas desafio-o constantemente, como se fosse sempre possível dar mais um passo, mesmo percebendo que o abismo está à frente. Se quiserem olhar o céu eu tenho uma escada …Fechem os olhos e subam!!!

terça-feira, 11 de agosto de 2020

Hoje numa mera infinidade, sem  tempo de espera, assisto ao encontro de rios, com os 7 mares . É nesse encontro que as pessoas vivem histórias, ajoelhando-se perante o infinito para o derramar de lágrimas, sem se  redimirem …Como se a água salgada dos mares distantes prostituísse e  inundasse os olhares ! Não vejo  futuro, os climas  enfrentam-se, disputam a fonte do calor e a certeza do frio constante nas palavras que escrevo. É neste assalto repentino, que vejo desenhada as memórias rápidas de projectos sonhados, desenho nas minhas memorias lentas  rios, mares que se cruzam, viagens impossíveis que se desfazem em átomos… Esqueço a poeira, escrevo romances, musicas que ninguém escuta!  Como poderei eu dançar este som que a minha vida gera? Olho o Sol e a grande audácia da sua luz, eis que as palavras fazem-me sentido,  muitas vezes estar na solidão, é um trabalho criativo, e por muito idílico e poético que pareça, desgasta , fere os sentidos dos quais somos compostos…Escrever para mim é como estar num palco, onde rasgamos a alma através do que escrevemos, muitas vezes escrutinados , por olhares , julgamentos, descontextualizados que nos fazem renunciar à escrita… Ou temos alma de Betão ou então metade dos dias ficamos na vala  ardente da escuridão. Mas!! eu tenho muita sorte , faço aquilo que quero e gosto,  embora saiba que existe sempre o lado negro, utópico de colocar-me sempre numa fasquia alta e a excelência aqui, é desvalorizada….

quarta-feira, 29 de julho de 2020

Hoje conto-vos que como todos os humanos eu também , em muitas situações tento ser mais forte do que todos os medos...Mas !!Nem sempre é-me possível, há fantasmas que me toldam os pensamentos, aprisionando-me na minha própria solidão, que nem o desenho do meu melhor sorriso consegue fazer com que tudo seja natural…Se formos a ver tudo se resume somente à procura de um caminho que não se encontra e a todas as voltas da vida se fecha mais! Eu já tentei ser forte mas cheguei à conclusão que não o sou, tentei carregar sozinho o mundo nos meus ombros mas não consigo de todo fazê-lo. Muitas vezes sentimos-nos assim devido aos apegos seja por coisas,  pessoas, sentimentos, levo-me a perguntar-me e questionar-me sobre a importância de tudo isto na minha vida! Porque será que não posso ser inteiramente livre? Quantas coisas deixei de fazer na minha vida por cauda de coisas e de certas pessoas? Quanto tempo me falta, quanto tempo terei ainda de investir em limpar, arrumar, e esvaziar as gavetas do cérebro…Quero escutar-me , nem que seja no meu intenso silêncio, quero escutar o meu coração e aprender a ler as lágrimas…Peço um pouco de paz, mesmo a quem nada sente… Repetidamente faço os mesmos erros,  porque quando olho em volta, continuo a ser a mesma pessoa e a ter o mesmo instinto que se resume a ser apenas humano! A vida até pode arrastar-me, privar-me, rasgar-me o destino, mas eu deixarei apenas os meus sonhos morrerem quando o meu grito já não mais entoar e a única vontade latente seja somente desistir , jamais aceitarei morrer pela irracionalidade e pelo egoísmo de quem nunca pensou em mais do que é sim próprio, este é o meu legado…Estamos todos dentro de jaulas , como se deixasse-mos de ser dignos do nosso direito à liberdade, esta é a mensagem que o mundo nos está a tentar enviar, somos apenas convidados e não donos de nada no seu espaço...

sexta-feira, 17 de julho de 2020

Hoje ando à volta deste amontoado de palavras que viram e reviram no  tacho que fervilha versos de arrepiar. E é de cumplicidade que os ingredientes se envolvem para os  temperos acrescentar o singular paladar que cruza  a fantasia nas mãos que os compõe. A vida pode ser um prato indescritível de prazer, viver é como cozinhar, é um dom de quem o sente e partilha, declamando,  sons que dedilham a melhor melodia na mesa dos afetos ! Acordei muito cedo, vi o sol a nascer com a elegância de uma árvore  em flor, senti a primeira brisa a eriçar-me a pele, fiquei com vontade de apagar o som dissonante que a vida teima em mostrar, como uma voz molhada que esconde coreografias intimas numa pintura  de ultima hora em tela estática. Essa voz é o tempo, é um eco que percorre o meu alpendre sem que esta natureza se renda  á normalidade que o ser humano faz com o estabelecimento de rotinas que leva a que se façam sempre as mesmas coisas da mesma maneira. Esta previsibilidade é o maior problema da humanidade , pois exige que todos ajam , sintam, da mesma maneira o que conduz a uma cegueira enorme …Ninguém está disposto a aprender, A palavra de Ordem hoje, é voltar á dita normalidade, ou á normalidade possível, ou á nova normalidade…Todos que entrem no terço, ou seja, trabalhar um terço e produzir o triplo mas isso não é possível …Quando esta pandemia entrar pelas empresas a dentro , as empresas vão querer continuar a produzir , as crianças a desaprender, os padres a rezar, e a tentar apenas tratar o espirito…Eu não quero que vocês creiam em mim! Crer é supostamente adivinhar e imaginar, quero que optem por respeitar o próximo, sejam críticos, porque a vida não é só degraus no caminho, nem tão pouco é um ensaio para um suposto paraíso , a vida que há é apenas aqui e agora, mão há prémios de consolação nem castigos, ninguém leva consigo uma placa de registo, onde se fará uma triagem entro o céu e inferno… Não vos posso dizer mais pois também nada sei, apenas sei que esta é a nossa única oportunidade de existir, amar e usufruir a oportunidade que nos foi concedida de viver o aqui e o hoje…Para todos os que acham que precisam de um milagre, então procurem-no dentro de vocês mesmos, obrigado por me lerem pois, vocês fazem o meu milagre acontecer …


sexta-feira, 10 de julho de 2020

Hoje caros leitores , curiosos, tomei a decisão de vos entregar as palavras, que entre os dedos vão crescendo e ao mesmo tempo alimentando esta casa ao cair da noite! há horas em que já não conseguimos, sem ajuda, recordar sentimentos que habitam na mais frágil memoria de nós próprios, tanta palavra ao longo dos anos foi jorrando do olhar invadindo o sonho,  tropeçando na esquina do silêncio sufocando e amordaçando o eco da voz que se foi calando…Há palavras que se acumulam como uma cisterna de águas paradas , ácidas que nem raízes deixam germinar! É que nem só as larvas e vermes se arrastam, qualquer corpo sem vida bóia no poço dos medos deixando se arrastar nessa superfície sem fim, cheia de paredes redondas que  por muito que se estenda as mãos, falta-nos sempre os dedos como os poetas. Poetas debitam sentimentos sem dedos nos gestos que se perdem no próprio ato de se doarem …É neste biombo de escrita que a sua verdade se dissolve, não se apertam as mãos , aperta-se a garganta , ergue-se um palácio sobre as águas que todos os dias desabam e ressurgem na praia húmida onde o sol rasteja agarrado ás redes , submerso no céu nublado deste corpo de degraus, todos inclinados em milhares de lembranças que não se repetem!


terça-feira, 7 de julho de 2020

Hoje assisto ás correntes de emoções no meu frágil coração…Olho aquela espuma bravia, que se espalha no areal como uma nuvem ameaçadora, como que a dizer, que em toda aquela imensidão se aglutinam os sonhos de muita gente viva! Engolido pelo horizonte, assisto ao barco sem rumo, tanta gente que embarcou nele,  fico ali a contemplar a sua forma de se agarrar à vida! Este mar é como algumas pessoas, poderoso, arrogante, que mesmo assim acaba por fazer o aconchego da alma ! Mais uma maré que enche esta praia,  espraiando a maresia dos sonhos, percorrendo o universo dos confusos, fico com vontade de me mascarar de pescador, agarrar na mochila e no balde e avançar cheio de fé, deixar a imaginação viajar pelas quebras da maré…Tanta gente, meu Deus, vou esbarrando com outros mascarados, não sei bem de quê, mas levam na ideia promessas de peixe graúdo no intervalo de um cigarro… Ouvi insultos entre dois mascarados, ainda hoje não percebi bem porquê! Ambos  acho, reclamavam a mesma maré, e questionavam-se mutuamente porque se tinham mascarado tive de intervir, relembrá-los que nos tínhamos de fazer acompanhar com as máscaras do tempo…Tantos desencantos ocultos,  sem ombros amigos, para depositar incertezas, vão-nos deixando atormentados, ancorados a este mar que até há pouco tempo se fazia companheiro e nos acolhia nas chegadas e partidas acalmando as nossas loucuras nas praias abandonadas expurgadas de pedaços de areia…Pergunto-me se este mar é apenas água e areal? Serão só as vagas fruto dos ventos? Volto a colocar a minha máscara, como se duma mordaça de tratasse para calar as questões que a nós, humanos, nos vão traindo o que mais de nobre temos para nos fazer seguir mesmo que mascarados,  num Carnaval sem fim...

Hoje vos digo que muitas vezes criamos um paradoxo em nossa rotina diaria, podemos até ter feito de tudo, virar os dias do avesso, quebrar ...