terça-feira, 11 de maio de 2021

Hoje não me recordo onde deixei as certezas . Derramadas no  chão,  não sei , não vejo marcas que contracenem nessa perda…Desfolhando o  alfabeto, como base para as palavras que precisam de construções  assisto a um pouco de nada, do que escrevo , para um céu longínquo onde as  novidades  assentam apenas num ponto de partida. Continuo com caixas por abrir, permanecem intactas  como os biliões de constelações, estrelas  que ditam caminhos. O meu interior é um átrio e o meu exterior revela-se  cada necessidade em meras pausas, nos reconhecimentos de quem é anónimo a outros olhos alheios. Rescrevo muitas conjugações por vezes são, inevitavelmente mal empregues, mas vou reparando nas marcas que deixo no chão…hoje tenho a capacidade  de saber não ficar,  nem de ir mais longe... Porque sinto que continuamos tão longe, para que o tempo nos faça aceitar  que não podemos modificar comportamentos, tão longe,  que temos de aceitar, que o passado é estático e não pode ser diferente , por muito que quiséssemos que o tivesse sido,  tão longe, que aceitamos como somos e paramos de lutar contra nós mesmos,  tão longe, que aceitamos que os outros são como são e paramos de lutar por eles, tão longe, que aceitamos que o mundo invariavelmente não quer saber dos nossos passos, nem abranda o ritmo para que consigamos acompanhá-lo,  tão longe, que aceitamos que temos de abrandar , a fim de conseguirmos acompanhar o que na vida nos sucede, tão longe , para conseguirmos aceitar de que tudo esteve sempre ao nosso alcance só que nunca parámos para o aceitar… Pára !!! Hoje sinto que o mundo se distancia dos seus momentos de origem. As sequências são distantes, cada vez mais  distantes...Mas!! Eu, continuo usando as mesmas palavras... Hoje até não seria o dia ideal que teria escolhido para escrever de novo! O cansaço das noites mal dormidas não perdoa mas!! Desde que pelo menos possamos estar deitados a descansar o corpo já é avançar …Escrever assim,  é perder um pouco o fio condutor á razão,  é colocar ironia nas palavras mas também nunca fiz questão de que o meu fio condutor fosse facilmente entendido, ou sequer óbvio. Muitas vezes é bom , colocar longe o mundo, longe a confusão. A distância, o tempo, a vida e a razão, tudo parece condenar-nos a não ver, não ouvir, assim, não restara nada palpável que justifique o raciocínio . E, no entanto, há algo que suplanta todos esses obstáculos. Não me peçam que explique algo que só eu sei sentir. Não tenho qualquer resposta para as  perguntas racionais e sensatas. O que sei, porque o sinto, é que nada nem ninguém o pode substituir. Será que o que me falta e que me faz caminhar desequilibrado, que me faz sentir incompleto, que me faz procurar e voltar a procurar, é talvez algo que eu sei bem nunca ter encontrado. É por isso que eu resisto à facilidade com que hoje em dia se deixa tudo para trás, esquecer, apagar do coração. Mesmo que tal fosse possível (eu sei que não é), se nos esquecemos de nós próprios, no final daremos com nós próprios a chegar á conclusão que nada temos. Quando tudo o resto se vai, são as coisas em que acreditamos que não nos abandonam... Tantas vezes se usa em vão a palavra Amor. Tantas vezes se comete o sacrilégio de se falar de Amor sem saber do que se fala. Ou do que se sente. Amar é carregar a alegria e a dor por termos a nossa Alma invadida por um ser estranho. Amar é sermos levados pela brisa, rodopiarmos como um remoinho e acabarmos arrastados pelo furacão. Como as simples ondas do mar,  que vão e voltam, sempre no seu ritmo compassado, e que nos fazem imaginar sonhos inconfessáveis, ou esperar pelo milagre que trará aquilo porque esperamos...Talvez nunca aconteça, mas amar é transportarmos a razão do nosso amor dia após dia, após dia, após dia. Isso é que deve ser amor. Por isso não devemos deixar de ter esperança. Não porque o saiba de verdade, mas porque o sinto. Gravado na minha Alma da forma mais  imortal. É esse o amor que eu encontro, sem no entanto o encontrar, todos os dias da minha vida. Não sei se algum dia me completará. Sei que sem ele estarei incompleto...Como hoje!

terça-feira, 4 de maio de 2021

Hoje subo uma escada sem corrimão, uma escada que encaracola e sobe pelos céus mas não passa do chão… Quanto mais subo mais constato que os degraus se degradam à medida que subo, fica-me a sensação que todos estes sobressaltos são uma lição de vida que em lugar algum cheguei a ter…Porque ser testado nesta subida? Há quem possa subir e não o queira, eu que ouso subir sem corrimão sou cronometrado, até á exaustão do lastro do meu coração… É árduo entregar o passo, o degrau conquistado,  que nos direciona ao abraço. Pois o amor que gira pelo peito nasce e frutifica, floresce e nos arquiteta com uma estrutura que pode ser escalada e vívida por aqueles que o sentem.  É triste, mas há quem não saiba que acena-se mais com os olhos, que com as mãos! Os Olhos acenam em distâncias o que nenhum gesto de corpo é capaz. Mesmo assim continua longe de se ver o além por trás da linha do horizonte. O quadro da vida ao redor, classifica-nos e nos limita, impõe-nos feito uma estátua com espaços para poucas escaladas Mas da mesma forma como as paisagens são mutáveis com o tempo, nossa alma se transforma ao mínimo movimento. O olhar pode mirar o verso do horizonte. Com aprendizado nos tornamos capazes de alcançar os sonhos escondidos por cima desta escada que tanto lutamos para escalar…É possível atravessar fronteiras, eu sei! Exceder os limites da nossa capacidade para concretizar os desejos mais íntimos. Viver é uma constante surpresa quando nos condicionamos a galgar os degraus com afinco e determinação; quando cada dia é vivido na totalidade, pelo anseio de ser feliz, em alcançar as realizações que aprimoram, os sorrisos e orgulho, o ser dentro de nós. Não sabemos o que nos aguarda, porém, podemos lutar e chegar onde queremos. Há possibilidades, chances de superarmos os desvios e obstáculos para alcançar os prêmios que desejamos  viver, mas não pode ser a qualquer custo...Hoje subo esta escada sem corrimão, olho para baixo e vejo o meu reflexo no chão de gelo que se instala, e pergunto se vale apena ir tão longe... Volto a tentar subir mais um degrau e a escada treme, pensava eu que escalava a maior fortaleza  e que nada  a podia abalar, mas é quase impossível ficar perto de algo tão distante ....Podemos tentar construir uma dinastia que nem os céus podem abalar, contudo tudo desaba e eu, já estou muito alto para os anjos voarem...

domingo, 2 de maio de 2021

  Hoje as palavras! Fluem  com pressa, sem espera... Na sua indecisão e no congestionamento dos sentidos há sempre algumas engasgadas, para um não uso impróprio. Por isso, escrevo-as de uma forma metaforicamente falando, repletas de intencionalidades… Aqui consigo retoca-las  de uma forma amadora, mas com  sensibilidade para quem as entender! Em mim a sua germinação acontece de uma forma genuína , elas tocam-me, e , se elas falassem, abririam caminhos, na sua missão ao as invocar aos céus, mas!!! Sendo elas apenas palavras,  por muito que não queria,  elas distanciam-se do ato,  ficando apenas a mensagem que não tem morada.  Desenho-as como se de um poema se tratasse, deixo-as nuas à depreciação ou não,  de terceiros e sempre com romantismo teço-as,  onde vou recriando um rosto , sem corpo, sem respostas que me faz viajar em rios de mistérios … Hoje esvaziei este ramo de palavras como se dum ramo de flores se tratasse, desfolhei pétalas nos sonhos bordados entre as minhas mãos vazias e o vazio deste mundo vago…

quarta-feira, 28 de abril de 2021

 Hoje um abraço onde nada mais existe , seria o calor que reina, seria a lagrima que resiste e a amizade que persiste. Quando as folhas dos pensamentos teimam em ficar em branco, os amigos são as palavras que faltam no nosso silêncio e a saída das portas que se fecham…Deixamos escrito no tempo os sorrisos , as lagrimas os gemidos que perduram no alpendre de tudo o que fomos, como peças soltas  que acabam por serem rotuladas de vida esquecida e contornos sorridentes de coisas mal esquecidas! Há coisas que escrevemos que parecem sorridas outras choradas, são paginas soltas do nosso livro, pegar nelas e colá-las seria como se as nossas mãos tivessem magia , para agrupar tudo  como peças que compõem o coração , seria como abrir uma janela para o mar, alargando a vista para as coisas mais singelas e sonhar…sonhar! Escrevo meras palavras nesta pagina que se mostra sempre vazia, onde os olhares inquietos surgem descompassados como a batida do coração . Seguro na minha mão trêmula  como  se dum cavalo selvagem se tratasse, que galopa no meio do nada, e é esse nada que me sai das mãos como uma alma nua… Se cada gesto fosse uma palavra, os meus sentidos a mim pertenciam , mas destas mãos sai, desejos, virtudes, inquietudes, pedacinhos de sonhos que cuido na esperança perdida que nem quero ouvir falar! Eu já fui um Jardim completo, estava repleto , não havia lugar para mais flores…Hoje sigo livre, sem jardim para cuidar e todas as coisas que amo nesta vida, deixo-as, Livres … Se voltarem decerto foi porque em algo as conquistei…Se não voltarem , eu continuarei bem,  decerto também foi porque jamais as tive!

sexta-feira, 23 de abril de 2021

 Hoje vos digo que sabe-nos bem, por vezes, estar sossegados no nosso cantinho, longe do barulho e da correria lá fora. Há quem lhe chame férias, outros afastamento, talvez no fundo seja só uma pausa. Paramos um pouco para refletir na vida, ver quem somos, para onde vamos, o que andamos cá a fazer. Não, não pensem que voltamos mais sábios, mais ricos ou felizes. Na realidade acho que até voltamos mais pobres... As poucas certezas que temos ainda vêm reforçadas  as muitas duvidas regressam sem resposta. Mas a verdade é que gosto de escrever e sei que algumas pessoas até gostam de me ler, por isso, não virá dai grande mal ao mundo se de vez em quando der largas á minha imaginação. Quando tomei a decisão de criar este espaço, era apenas o MEU espaço. Um segredo que guardava a minha intimidade, um escape para todo o meu sentir, talvez um museu para algo que eu outrora julgava que me pertencia apenas e só a mim. No seu inicio não imaginava este refúgio a ser visitado, não me via a partilhá-lo com desconhecidos, não procurava nada nem ninguém, nem procuro... Criei este espaço para desabafar, para poder ouvir o eco do meu silêncio que ressoava após a libertação de palavras. Aos poucos fui revelando o que guardava cá dentro, convidando pessoas a visitar extratos do meu coração, a sentirem as minhas palavras, a lerem os meus sentimentos. Não o fiz por vaidade, pela popularidade barata que todos nós procuramos, para ouvir elogios ou ser admirado, nada disso!  Fi-lo porque preciso de sentimentos à minha volta, sou um homem de sensações,  preciso de sentir que toco as pessoas, preciso de as tocar. Nada mais me importa. Em nenhum momento deixei de sentir o que escrevi. Por mais olhos que me olhassem, consegui sempre abstrair-me deles ou, pelo menos, não deixei que estes interferissem na minha forma estranha de sentir. Pelo contrário, deixei que os sentimentos que pairavam à minha volta me inundassem de mais e mais sentimento. Como se tudo fosse uma gigantesca sede de amar que eu sabia nunca vir a ser saciada. Escrevi sobre sonhos e fiz sonhar quem já não os tinha, penso eu,  haverá algo mais importante do que isso? Mas os tempos mudam, nós mudamos, até a nossa forma de avaliar o mundo. Se houve coisa que aprendi, é  que de facto já ninguém acredita em príncipes, princesas ou em contos de fadas…Como nunca quis correr o risco de me tornar um espécime raro,  tenho de aceitar que “os homens são todos iguais”, sou apenas mais um.  Eu apenas escrevo desabafos de um homem comum tentando passar despercebido no meio da multidão, as minhas palavras são silenciosas e o que gostava mesmo era que alguém fosse capaz de me fazer mudar de ideia,  e fizesse o meu corpo querer uma companhia, enquanto a minha mente vai insistindo em solidão… Quando escrevemos  o nosso nome pouco importa. Qualquer  identidade não passa de um mero prognóstico que provem  das limitações humanas, embora haja quem se importe demasiadamente com tolices agudas. Perdemos o senso da lealdade. Tudo é número. Tudo é o que temos e não o que deixamos. Somos movidos por uma mentalidade tão caótica que nem o nosso próprio pensamento entende , somente segue.  Seguimos, porque? Por algo melhor? Mas se seguimos quer dizer que concordamos, não? Ou será que concordamos pela monótona sobrevivência? O ser humano é impressionante, depois de realizar algo lamentamos ou glorificamo-nos. Os nossos beijos e abraços são tão rápidos que somente sentimos o seu sabor depois de perde-los. Gastamos muito tempo tentando ser, pensamos demais sentimos de menos...

domingo, 18 de abril de 2021

Hoje sem duvida que prefiro o silêncio, esse surdo gemido que me agride na vestimenta do vazio das palavras! Vou adornando esta estadia voluntária e apática de prisioneiro , sem luz … Por muito que tenha tentado fintar os buracos da grade que me circunda, não consigo deixar de ser violado pelo plagio voluntário da mente que o silêncio agressor deixou  cair em mim nas minhas palavras despidas …Há paredes que foram caindo do meu peito, onde o mar se deixou arpoar pelo sol intenso…Resta-me o perfume do seu azul quando a noite cai no deserto do meu olhar! Deixem-me ficar ai, no escuro dessa noite, onde os pretextos são desenhados de forma adultera, onde a carne da alma é indivisível , onde os terramotos são menos intensos, as trovoadas menos barulhentas e as marés menos vivas … Em todos nós existirá alguém capaz de sentir a densidade da sua garra, da sua força? Ou haverá alguém em nós destinado a ser quem é? Ou será que eu existo por ter sido o que já fui? Sinceramente  nem sei se as palavras que aqui emprego tem  o vigor  que precisariam de ter, mesmo que estas não passem de meras sombras dos meus segredos,  falta-me a força para morrer nas noites em que o meu corpo se recusa a dormir … Sigo assim no meu pulsar constante, ora frágil, ora forte, vivo de quando em quando, ora caminho com norte ora sem rumo, mas vou caminhando ... Não olhem com desdém a sombra assolou o meu rosto , acabo esquecido de mim mesmo, não sou ninguém ...Hoje estou aqui, ás 18 horas já deitado na minha cama, e não há mais ninguém para culpar destas dores que me invadem ... Nem mesmo consigo desfazer a mala da roupa que fiz! O que sou eu agora, será que sou alguém que nem mesmo eu  consigo suportar? Hoje sinto-me mesmo a resvalar como quem cai...

terça-feira, 13 de abril de 2021

Hoje como se conseguisse ser uma palavra , finto-me numa das prateleira dos livros que recorto, como se ainda estivesse dentro dum deles.  Adoro sentar-me no chão,  desfolhar-me como se duma  página eu me tratasse  sem nunca me cansar do era uma vez!  Olho o céu , como quem se debruça numa varanda enluarada, noite após noite, sinto a minha alma desprender-se, vejo-a a vaguear pela linha do horizonte como um véu dum vestido a esvoaçar. Mas a lua dá lugar ao sol, o dia dá lugar a outro dia, a noite a outra noite, e eu, espero como uma criança o eco de uma voz dentro do livro a chamar por mim. Corro e desfolho mais uma pagina , sinto-me feito de papel, como uma personagem imaginária,  inexistente que apenas sonhei… Olho novamente o céu  e questiono-me tanto,  será que para ser adulto terei de esquecer que fui criança?  Nesses instantes a casa, que outrora foi um lar, transforma-se numa torre onde me sinto um prisioneiro agrilhoado… Esta prateleira parece a torre  é tão real, tão fria, tão triste, tão intransponível , solitária que só serve  mesmo para arquivo de livros … A solidão mancha as páginas , cobre tudo de negro, escurece as páginas que outrora foram pinceladas de cores vivas.  As lágrimas escorrem e humedecem as letras douradas das historias que outrora também foram minhas…As imagem diluem-se, a  voz dissipa-se, os poemas de amor  esvaem-se! Mas, é tão fácil ler-me a Alma , basta um simples olhar, para o meu coração se corromper e eu me perder no labirinto desse olhar , ai pouso as armas do meu exército pois sinto-me protegido mas nu…Eu não sou o céu. Ninguém é o céu. Mas sente-se aqui a meu lado  enquanto eu desfolho este livro , ai saberão que  não há céu que não possa ser nosso…

quinta-feira, 8 de abril de 2021

 Hoje vos digo que há muito tempo que sei e sinto o nascer da noite até pelo seu  odor. É o aroma da escuridão a acariciar-nos a face resvalando pelo nosso espírito e a alma , penetrando nas janelas do nosso olhar, não nos deixando adormecer … Até parece que preciso de viver a noite, coisa que, nem  mesmo no meu sonho mais delirante alguma vez  fiz ! Eu apenas queria continuar a sonhar,  este sonho de homem mendigo que sonha de olhos abertos, com a chave que balança hesitantemente no colo da fechadura do meu viver. Não é fácil  sentirmos este desvario, como se fosse uma semente vazia,  como se ao sonho faltasse o delírio e como se ao delírio faltasse o sonho. Hoje abdico do nascer do sol, esse amanhecer que narcotizarei nos meus sonhos  como um simples apeadeiro , ou uma cratera da noite! Eu já vi há muito tempo, que das estrelas caíam palavras, todas em grupos até formarem um texto completamente nu. Elas desenvolvem sentimentos , para o qual depois não conseguimos lograr expressões que comportem tantas sensações . Esta é a razão para que, o silencio apenas acompanhe as emoções que a sensibilidade do olhar seja capaz de expressar , eternizar nos momentos que sublimamos , que suspendemos na nossa recordação como inesquecíveis, o silencio do olhar! À medida que a noite se instala na nossa corrente sanguínea  nascem nos dedos as lembranças , como vagas que comprimem o peito, como rochas nuas que já foram leito, soltando a saudade como um bando de pombas brancas que tem como trágico destino dizer tudo aquilo que sentimos…

terça-feira, 6 de abril de 2021

Hoje, a luz do dia esconde-se como se descêssemos para os calabouços onde a luz é trémula e faz prever um sombreado de tristeza  nas paredes que separam a terra do céu…  Como se fosse possível mascarar-nos de granito e darmos as mãos no escuro, onde as pedras se lamentam e todas as sombras não passam de sombras! Cada vez que descemos  degraus na vida, o nosso coração soluça, pelos que vem atrás, e por aqueles que vamos encontrar no caminho… Eu já desci de um mundo para o outro,  parecia-me uma marcha silenciosa uma procissão de condenados, sobre mim o trovoar de passos , abracei-me à minha imaginação, dei as mãos aos deuses que caminham pacientemente com a esperança , suplicando que a Natureza acorde os que adormeceram com luz...  Esses felizardos, vivem   sob nós... Criam um  burburinho na "Terra" que fica em ebulição, mas, nos faz sentir firmes, mesmo descendo a escadaria deste precipício sem fim! Há inconsciências , e por mais degraus que se desça nesta antecâmara, mais palavras testemunham a descida … Afinal , o “homem” apenas é pequeno, diante de uma porta enorme! Enquanto não se parar esta escada rolante , não existir coragem de silenciar com rigor,  arquivos deixados na escuridão e as palavras que jamais serão declamadas… Acabaremos apenas por emoldurar então os sentidos ! Eu também estou aqui , como vocês descendo a escadaria, mas vou propositadamente dando passagem a todos os que puder, para me atrasar … Não confundam isso com simpatia, nem timidez! Sinto-me inteiro, fechando os olhos, mesmo sabendo que a minha voz só é valorizada , quando silenciada…Hoje por tudo, irei silenciar a minha voz...Sentar-me na minha Praia e ver o por do sol , silenciando o perfume do sonho em mim,  deixar essa fragância levar-me até ao céu !

sábado, 3 de abril de 2021

Hoje eu sei que se ,  alguém um dia reconstituir as origens da solidão humana, irá descobri-las na perda de intimidade com o mundo, nos muitos cortes que nos afastam do afeto físico. Deixamos de passeamos pelos sentimentos , mesmo quando o fazemos, fazemo-lo demasiadamente depressa para absorver o que desejamos e precisamos. Acabamos por fica para trás, sem gerir o tempo, logo se diz que que nos distanciamos de tudo e todos… Penso frequentemente neste tipo de afastamento do mundo físico, embora seja apenas físico, porque no nosso intimo não conseguimos deixar de estar em contato, regra geral, os seres humanos parecem ansiar por um lugar específico, por determinado enquadramento emocional que nos permita uma sensação de conforto! Fico assim, rasgando o corpo por carta, matando-o em palavras nesta realidade ingrata de noite e de dia de desilusões que nos traem e nos deixam sem vida…Esta anestesia rasga-me o corpo, porque o carinho não se pede, não se nega, não tem idade nem tão pouco medida! Não é uma vergonha sentir desejo, este é companhia, consolo, abraço, perdão, e alegria no coração! Não há maior fonte de carinho que o beijo desejado no toque abençoado pela cumplicidade da razão, é no olhar terno e desconfiado que se obtém o sorriso mais rasgado e desconfortante que resultam nas minhas palavras entrelaçadas  do perdão. É este embaraço que gera num só peito,  a batida de dois corações. Quando gostamos de alguém , não é por decisão nossa, não nos apetece amar e pronto… Podemos  desejar e planear sentir emoções e controlar as saudades e ansiedades mas decidir gostar não é um ato isolado, não há controlo, não optamos. Amar é isso mesmo é gostar sem escolher , é seguir sem um plano porque desejar não é uma opção…Hoje rasgo o corpo, porque quero gostar sem escolher !

quinta-feira, 1 de abril de 2021

 Hoje sinto o dia escuro,  escondido atrás do meu sorriso, nos cantos dos meus olhos e da minha mente, tentando inutilmente fazer-se despercebido. Esse escuro transparece e grita, onde se nota e clama… Move-se  entre as paredes do meu  labirinto, é um eterno vagabundo sem outra casa ou outro interesse na vida. Vive na sombra acorda-me de manhã sem me deixar dormir à noite,  move-me, o dia inteiro, no desejo de que o dia se torne noite outra vez…Pensa ele que passa despercebido em mim! Mas não. Quando tento escapar-lhe, ele toca-me na alma, já começa a ser regular esse aviso,  que me faz revirar os olhos, tentar e desistir da busca pela coerência. Mas!!! Quando7 não o sinto pergunto-lhe se ainda está em mim. Não há uma explicação lógica, não há uma agenda nem um motivo... nem precisa de haver. Continua tudo oculto nos recantos de mim. Ao menos faz-me  sentir acompanhado. Mas continua tudo, desafortunado,  difícil,  persistente,  inevitável, maduro  irracional. Como é estranho o vazio me preencher  de saudades,  inventa histórias feitas de palavras ditas ou pensadas. Transforma-me pensamentos em desejos. Desejos em sonhos. Sonhos em segredos que não se contam a ninguém. Esse dia escuro está escondido. Aí, escondido à vista de todos. E ninguém sabe. Ninguém vê. Ninguém sabe que fica atrás do meu sorriso, nos cantos dos meus olhos e da minha mente. Ninguém sabe que permanece no centro do meu pensamento. Mas ninguém precisa de saber... É esse o sentido do sentir. Acontece dentro de nós. Muda tudo em nós, sem nos mudar. E avança connosco, até parar no transito!!!. Pode não ter nome. Pode não ser claro. Mas está lá, faz-me persistir sabendo que não estou só... Quando não vivemos por fora morremos por dentro,  talvez seja esse o escuro que me grita e se move no meu labirinto interno, dizem que tem de estar escuro para se ver as estrelas ... Hesitei tantas vezes no rio do meu olhar , navegar por este afluente, deixando ele alongar-se nas minhas margens percorrendo-me em todos os recantos, ciclos onde crescem as minhas flores de brandura e revolta , dando cor ao meus olhos com o perfume que não emana …Mas sinto! Que já não estão ai!!?

segunda-feira, 29 de março de 2021

Hoje há lágrimas que se soltam, deslizam, silenciosamente, ninguém as ouve, ninguém as vê, são um sufoco que aperta a alma onde tudo parece muito e pouco ao mesmo tempo, neste mundo louco cheio de pensamentos tristes que se desenham no céu e no meu jardim de flores que não brotam … As palavras não se desejam, caem no cansaço da coragem que dá voz ao coração tremulo e desgastado! Olho para trás, e não vejo nada que me conforte  o rosto molhado, deste tempo tão curto onde se fecham as portas e se perde o caminho feito pelas estrelas…Quem sabe se ao padecer deste compasso me disperso e me afasto das escolhas que foram minhas, de cânticos que desfrisam a alma e o coração, que renasce numa tela sem cor os versos eruditos que os adultos choram tantas vezes sem saber porquê, como crianças . Dizem que os sentidos e o romantismo é apenas ilusão, que as chagas que deixam não passam de censura dum poeta que reabre brechas fechadas pelo amor e ternura. Eu ainda consigo sentir o cheiro do amor, esse cheiro insólito que raramente se espalha pelo mundo como um incendio ou uma intriga. Receamos a alternância dos dias, como uma foice negra, que a cada segundo pode desferir um golpe no peito,  mesmo daqueles que nos acenam o coração! Ainda assim, o céu parece renascer a cada hora, mesmo quando o poder das sombras nos sobressalta. Quero o alento da vida, deixar o luto na frágil redenção de um abraço, gritar palavras sem nexo, como quem ergue uma bandeira na fronteira do olhar vazio,  neste núcleo das insónias, que entoam a voz dos sentimentos como um chicote . Que se ergam as palavras não as sombras, na infinita simplicidade dos instantes em que a noite se inunda de estrelas. Que as estrelas tenham nomes de pessoas que amam a luz no rumor dos anjos nesta nossa frágil humanidade! Eu sei que um dia tudo se resolverá, e milhares de ansiedades serão atendidas , mas apenas restará  talvez uma estátua ou uma lápide à espreita , a macerar a memória desse vulto dos despojos da noite,  que  verteram da gruta do meu olhar,  a advertência das casas antigas, cheias de traves e poeira que as raízes dos instantes soltam na nudez dos sonhos que morreram no meu peito!

Hoje vos digo que muitas vezes criamos um paradoxo em nossa rotina diaria, podemos até ter feito de tudo, virar os dias do avesso, quebrar ...