Hoje não me recordo onde
deixei as certezas . Derramadas no chão, não sei , não vejo
marcas que contracenem nessa perda…Desfolhando o alfabeto, como base para
as palavras que precisam de construções assisto a um pouco de nada, do
que escrevo , para um céu longínquo onde as novidades assentam
apenas num ponto de partida. Continuo com caixas por abrir, permanecem
intactas como os biliões de constelações, estrelas que ditam
caminhos. O meu interior é um átrio e o meu exterior revela-se cada
necessidade em meras pausas, nos reconhecimentos de quem é anónimo a outros
olhos alheios. Rescrevo muitas conjugações por vezes são, inevitavelmente mal
empregues, mas vou reparando nas marcas que deixo no chão…hoje tenho a
capacidade de saber não ficar, nem de ir mais longe... Porque sinto
que continuamos tão longe, para que o tempo nos faça aceitar que não
podemos modificar comportamentos, tão longe, que temos de aceitar, que o
passado é estático e não pode ser diferente , por muito que quiséssemos que o
tivesse sido, tão longe, que aceitamos como somos e paramos de lutar
contra nós mesmos, tão longe, que aceitamos que os outros são como são e
paramos de lutar por eles, tão longe, que aceitamos que o mundo invariavelmente
não quer saber dos nossos passos, nem abranda o ritmo para que consigamos
acompanhá-lo, tão longe, que aceitamos que temos de abrandar , a fim de
conseguirmos acompanhar o que na vida nos sucede, tão longe , para conseguirmos
aceitar de que tudo esteve sempre ao nosso alcance só que nunca parámos para o
aceitar… Pára !!! Hoje
sinto que o mundo se distancia dos seus momentos de origem. As sequências são
distantes, cada vez mais distantes...Mas!! Eu, continuo usando as
mesmas palavras... Hoje
até não seria o dia ideal que teria escolhido para escrever de novo! O cansaço
das noites mal dormidas não perdoa mas!! Desde que pelo menos possamos estar
deitados a descansar o corpo já é avançar …Escrever assim, é perder um
pouco o fio condutor á razão, é colocar ironia nas palavras mas também
nunca fiz questão de que o meu fio condutor fosse facilmente entendido, ou
sequer óbvio. Muitas vezes é bom , colocar longe o mundo, longe a confusão. A
distância, o tempo, a vida e a razão, tudo parece condenar-nos a não ver, não
ouvir, assim, não restara nada palpável que justifique o raciocínio . E, no
entanto, há algo que suplanta todos esses obstáculos. Não me peçam que explique
algo que só eu sei sentir. Não tenho qualquer resposta para
as perguntas racionais e sensatas. O que sei, porque o sinto, é que
nada nem ninguém o pode substituir. Será que o que me falta e que me faz
caminhar desequilibrado, que me faz sentir incompleto, que me faz procurar e
voltar a procurar, é talvez algo que eu sei bem nunca ter encontrado. É por
isso que eu resisto à facilidade com que hoje em dia se deixa tudo para trás,
esquecer, apagar do coração. Mesmo que tal fosse possível (eu sei que não é),
se nos esquecemos de nós próprios, no final daremos com nós próprios a chegar á
conclusão que nada temos. Quando tudo o resto se vai, são as coisas em que
acreditamos que não nos abandonam... Tantas vezes se usa em vão a palavra Amor.
Tantas vezes se comete o sacrilégio de se falar de Amor sem saber do que se
fala. Ou do que se sente. Amar é carregar a alegria e a dor por termos a nossa
Alma invadida por um ser estranho. Amar é sermos levados pela brisa,
rodopiarmos como um remoinho e acabarmos arrastados pelo furacão. Como as
simples ondas do mar, que vão e voltam, sempre no seu ritmo compassado, e
que nos fazem imaginar sonhos inconfessáveis, ou esperar pelo milagre que trará
aquilo porque esperamos...Talvez nunca aconteça, mas amar é transportarmos a
razão do nosso amor dia após dia, após dia, após dia. Isso é que deve ser amor.
Por isso não devemos deixar de ter esperança. Não porque o saiba de verdade,
mas porque o sinto. Gravado na minha Alma da forma mais imortal. É esse o
amor que eu encontro, sem no entanto o encontrar, todos os dias da minha vida.
Não sei se algum dia me completará. Sei que sem ele estarei incompleto...Como
hoje!