quinta-feira, 28 de abril de 2016

Quando eu for um sonho de anjos transparentes no cais da minha madrugada, arrastem-me na sombra das minhas águas, para um porto irrequieto no infinito das vossas noites. Transformem-me no vitral que emoldura os tédios, na verticalidade das nossas misteriosas cores, que transportam o seu estranho vulto, numa consciência ausente onde os ventos de agitam na floresta dos silêncios. Abram-me a porta por onde entram as brisas que falam de mim, perfumando o salão da minha alma, entoando alegrias orvalhadas,num cortejo de violinos tecido pelos teus dedos nesta escrita atrapalhada....Deixo aqui o vulto do meu olhar imóvel de lábios frios que procuram a sedução no silencio das horas mortas da intensidade dos entardeceres pois serei sempre , mas sempre uma metáfora escrita no inconsciente da alma iluminada pelas estrelas de cortinas de saudade, no claustro de uma noite que se junta ao nevoeiro incógnito...
Esqueci-me dos olhos dentro da alma, agora sem saber de que tamanho sou ,fecho-me no caminho por onde vou, fujo do silêncio que me norteia silêncio que me serve a lucidez nas horas de desvario...De que me serve olhar sem ver, Sem compreender este imenso vazio...Vou-me desgastando assim sem saber para onde caminho, onde estou, nem tão pouco para onde vou, mas invento-te ainda maior, dentro desta alma perdido de olhar em redor e nada ver a não ser a vida a passar eternamente repetida,sempre de mim escondido!
O que é viver num CIRCULO ?!!É estar num bailado entre o sagrado e o profano entre caminhos sem laços e sem lado a lado em cima de um muro estreito frágil… Vedado de arame farpado do destino, onde enrolamos as nossas mentes, rendilhadas de espinhos e vontades puras, incandescentes, cadentes…Sinto-me desmaiado, nesta dormência cansativa, de vozes, no meio da delicada vida...Arrisco um estender de mão, onde os intervalos dos teus dedos se entrelaçam nos espaços dos meus! ofereci os lábios, abri as portas sabendo que ia cair ...Neste para, avança, perdi-me nos contornos da neblina dos teus olhares , divinos fascínios da alma, numa mera escritura lida em voz alta que espalha numa pauta escrita pelo vento o sabor das horas perdidas, aquelas que fiquei a olhar o horizonte…Deambulo…Nos abraços sonhados e nunca dados! Nos beijos desejados e nunca provados! Esquecendo as mentiras dissolvidas no futuro quebrado! Deixo a minha companheira , a lua branca, iluminar-me a alma dos silêncios da noite que vagueiam na folhagem do mato! Inspiração divina podias ter sido, num banho do coração ! Ainda assim, ajoelho-me na luxúria do sonho dos corpos amados perdido em suores num orgasmos salgado de ardor da paixão! Desejos da alma ficam nas contradições que minam o pensamento bombeando o sangue que percorre-me as veias em reboliço e assalta-me o coração de dúvidas, e espasmos constantes numa timidez que roça essa certeza de te querer-te e não te encontrar…
Todos fingimos ou não? Sim, fingi para alguém, para mim mesmo também! E são vazias e ocas de emoções, as palavras largadas na folha de papel branco, como a neve, na qual as frases se constroem, se amontoam como pilhas de tijolos encastelados prontos a serem derrubados, ou derretidos pelos raios quentes do verão. Finji nos intervalos dos silêncios que preencheram as escassas lágrimas que me lavaram o rosto, e me tingiram de cor da paixão, aquela que se perdeu nas entrelinhas da distância. Finjamos que tudo está bem, sempre! Para ti, para mim! Finjamos, como uma forma de fuga à realidade translúcida do nosso olhar amargurado. Troquemos palavras por murmúrios silenciosos nesta canção da vida como o desabrochar da primavera, ao leve som do sibilar das aves migratórias. Finjamos! E passamos a vida a fingir que as ruas do nosso entendimento são belas, largas, plenas de sentimentos, e as palavras não são como as pedras da calçada, frias, cinzentas e estáticas, num presente imóvel da imaginação. Finjamos! Sempre! Para um espelho de reflexos imperceptíveis da vulgaridade que nos povoa a mente, ou quiçá, vagueia por estradas empoeiradas do tempo. Finjam e eu finjo para vocês! Para o mundo! Para a imagem reflectida no espelho dobrado que existe na minha mão, fechada, encerrada de sentimentos, acções e emoções. Finjo... apenas e só! Um fingimento sem inicio nem fim... Hoje finjo que a roupa que visto é a que me assenta melhor, quando já está gasta pela corrosão das intempéries internas, sim, aquelas que provocam embolias na alma, e dores crónicas no coração. Finjam! E eu Finjo! Que somos nós que puxamos e governamos os cordéis das marionetas que actuam no nosso palco, onde todas as cenas já foram encenadas, e as falas decorados num passado longínquo e áspero como a terra do deserto ressequida e gretada pelo sol intenso. Vá! Vamos continuar a fingir! Sempre e para sempre!...
Hoje de noite vou sentar-me no rebordo da tua cama, e nas mãos irei levar palavras para te sussurrar enquanto ficar ali quieto, a ver-te pairar sobre os sonhos, ficarei enquanto o teu corpo levemente se resguardar do fresco da madrugada no meu manto . Leio-te em silêncio e transcrevo os teus suspiros, em sabias brisas ancestrais que em ti projecto sobre o teu manto. Sinto que neste meu acto de contemplação, não só velarei o teu espírito, como embalarei os teus sonhos. Hoje Sentir-me-ei guardião, protector… Quero sentir que com os meus verbos degolo as ameaças de pesadelos e afaste as criaturas das trevas que sempre tentam os sonhos de quem ousa sonha!!! Não, eu não sou o exemplo de homem ao qual possam de chamar anjo, muito menos terei laivos de alguma santidade o que me move é esta profunda e sentida fé no Espírito, na Alma e na bondade com que nascemos aos pés de nossas mães. Acredito piamente que a luz que nos habita à nascença pode ser mantida e alimentada ao longo da vida, mesmo que esta perca o foco em alguns períodos… Sem querer fazer profecia ou até mesmo ser pregador ou ilusionista das palavras, defendo que há entre nós laços que falam no silêncio da noite. Creio que eu te protejo mesmo sem estar perto , e tu a mim …. Sei que não sou a sabedoria do poço mais fundo do teu templo mas tenho a certeza que o tempo em que estamos com aqueles que nos querem bem é sempre um tempo ganho nesta vida…
Hoje não amanheci, deixei o meu corpo na aurora de outro dia, desnudei sobre mim um jardim de cores sem fim... É mágico o despertar dos sentidos, quando em brandos murmúrios recordamos dos impulsos do desejo que outrora provocaram em nós... Escutem o palpitar das hormonas como se fossem palavras e melodias, que um simples sorriso de alegria desenha em nossos lábios. Eu sou um vento cálido, mas muitas vezes precipito-me pelas encostas despidas do teu dorso, arrepiando-te os poros não preenchidos de mil beijos. Hoje entreguei a alma, vestida da pele que tatuo com minhas palavras, deste livro aberto de que vos deixo como uma ave procura voar, num céu azul deste mundo por inventar... As palavras são também feitas de fantasias, de saudade de algo que outrora vivemos...E!! Hoje deixei de vez o meu corpo na aurora de outro dia , sem saber como consegui, tamanha emoção comportar...
Hoje vou incinerar o desejo no mais profundo espaço que te guardo, neste declive que se agiganta, nesta ânsia nefasta de se e ter sido ... Imagino-te como um vício que me é premente… Dispo-me de palavras, deixo escorrer-me pelo corpo da literatura que tenho dificuldade em divulgar ...Mas é nela que me escondo, vai sendo ela que me faz esperar, vacilar, quebrar .Hoje queria ser intenso, mas a penumbra exalta as sombras, fá-las curvar-se perante a magnificência do tempo, como se fossem folhas, vergadas ao vento das monções. Criei em mim uma atmosfera, onde todo o oxigénio se concentra nas inspirações intensas e perdidas, na eloquência de quem diz o que sente sem se preocupar com a morfologia, simetria e outras regras que não só governam as palavras, mas também nos isolam … Tudo é ténue em nós !!! Temos sentidos inebriados, Temos amor derramado pelo chão, pela água das lágrima de prazer e pela dor no olhar que o corpo faz escorrer... Não sei, muito mais que dizer é como se o meu mar houvesse explodido numa vaga, contra um rochedo teu, e no ar se espalhasse todos os aromas que uma colisão assim poderia soltar num tom de grito, incontido, lancinante e perdido num lugar onde já nos tenhamos amado….
Hoje acordei a meio da noite com o som da abertura das portas onde passa a alma !!! Senti o universo, o tempo onde fluem os sentidos com que te invoco aos céus ...Desistam eu não sou profeta, nem Deus, apenas a energia que emana de mim flui nos vossos sonhos... Recrio-me numa imagem pálida de luz que habita em muitas dimensões . As minhas letras são vozes que se propagam no vazio inconsciente dos meus dias e a minha voz é uma melodia que se inventa em cada nota tocada...Escutem!!! Mas, não ousem em extrair a essência ao que amam, sobe pena de obterem algo insípido, desprovido de sentidos que pode ser tudo, ou será já nada... Parem ! Deixem-me ficar, guardado para sempre nessa caixa secreta, onde guardei os meus escritos mais sagrados, deixem-me ser o perfume que emana da pele quando já nada mais reste de nós a não ser o brilho da aura invisível. Só assim não deixarei de estar presente quando me queiram. O corpo é vago, vive por toda a eternidade está naquilo que guardamos e não naquilo que tocamos.Hoje foi assim a minha noite, cruzei a ilha, parei numa jura no local onde apareceu o corpo do meu Pai... lutei com todos os fantasmas, sem poder fazer mais nada...Tenho no peito o tamanho de uma prisão, e foi um poema que me apeteceu escrever apenas porque sonhei com um Anjo e...CRUZAMOS OLHARES
Hoje eu sei o que é um sentimento de não posse, hoje sei que estes conduzem a lugares sem regresso e sem tempo, que fingem ser o único destino e nos cegam, ou alheam, o futuro… Desejo muito mais ser do que temo parecer... Com isto digo muito!!!Sei bem que há muitas formas de dizer que amamos, mas , num tempo de amar e eu estou no avesso das minhas palavras…Estou há muito nos gestos, do lado de fora dos espelhos… Só as as sombras são cúmplices , apenas elas nos reflectem com luz própria e num breve instante baralham e transformam as pistas que nos encaminham para a saída.. Ignorá-las significa ignorar a possibilidade, de cair…Mas !!! Recordá-las expressa o discernir da distância que produzem dentro de nós. Hoje sei porque nos tenhamos afastado, inevitavelmente, da mesma fonte de luz…
Hoje sonhei e dobrei-me sobre o teu corpo, passei os dedos por uma pequena fresta da tua pele, senti o teu arrepio quente e escutei as palavras que nunca disseste... Lentamente, como quem atravessa uma fronteira em clandestinidade, toquei-te com as minhas mãos, fiz renascer em ti a palavra não pronunciada, invoquei o desejo aos céus, entre pensamentos disformes, apertei-te contra o meu corpo, percorri-te como quem redescobre a vida... Mas !! és uma pertença sem nome... olho-te como se os teus olhos escuros fossem o espelho dos meus... Escrevo milhares de melodias entre os tempos...Avolumo o prazer, o desejo que sem ti me faz afundar, como um conquistador ou naufrago...Quando desdobro as tuas palavras, como telas envelhecidas, reinvento-me em simples gestos , olho no espelho a tua imagem e sobre ela deixo cair por uns momentos, a magia do amor...que em mim ancorou sem duração nem historia...Se querias saber o que sentiria se a tua sensualidade não me turvasse os sentidos e a razão...Apenas te direi que jamais seria o Mesmo!!…
Hoje sei...É apenas aqui que olho o meu céu particular, onde me permito voar através das palavras! Sei que sou só um humano desajeitadamente intenso que escuta o silêncio… Sinto um esvoaçar de asas trémulas e cintilantes no meu rosto. Talvez seja apenas o respirar, compassado com a batida no meu peito. Mas!!! Ergo o rosto e uma brisa harmoniosa invade-me a pele... Talvez sejam umas mãos que me estejam a tocar de novo, num toque macio e arrebatador, com ânsias de carinho e protecção. Levanto-me e sigo na direcção do luar. A sua luz preenche-me e aquece-me a alma. Sim, talvez seja a ilusão quem me lê por inteiro, e me despe de rodeios e me namora às escondidas…Talvez seja apenas um sorriso , que esboça-se pela última vez na forma de uma estrela cadente a passar , para me embelezar a noite e colorir o rosto, que se tornou cinzento desde a vida vivida outrora… Hoje se eu voltar a sonhar serei a tinta, outro alguém a tela; hoje se eu for a chuva , outro alguém será a minha aguarela; hoje se eu sonhar serei apenas o sal, outro alguém a areia branca, onde eu me transformo em mar numa longa maré cheia... Hoje se escrevo a voz do coração, numa carta aberta ao mundo, então é porque sou o espelho da `emoção num olhar profundo, onde nascem as palavras que vivem dentro de nós, escondidas ,em florestas de silêncio, permanecendo assim, presas no meu corpo e na alma...Tenho palavras em mim mas não as sabem ler ... Palavras que não tem coragem de se auto pronunciar no tempo e no espaço próprio...Era ai que elas fariam a diferença abismal entre o som e o silêncio... Hoje tenho em mim palavras cansadas de não acontecerem, palavras agitando-se num grito inaudível... palavras que o tempo vai calar ...
O ser humano perdeu-se por inteiro no caminho pela evolução. Deixou-se cair em tentações, em luxos , em coisas dispensáveis que só nos trazem a falsa ilusão de que estamos felizes. Meus amigos o caixão não tem gaveta , quando cerrarmos os olhos automaticamente abrimos as nossas mão... Não tem lógica que explique a loucura do ser humano, acordar cedo, trabalhar, engolir sapos, fingir que amam, enquanto esperam , de se dopar para curar as dores do corpo, respirar fundo, ler, esperar, ver o de sempre, o mais do mesmo, todos os dias, correr de um lado para o outro, fingir que se cuida dos filhos quando se foge deles para trabalhar!!. Seja na janela de casa ou num outro local já experimentaram fechar os olhos sem nada ao redor, só vocês e você? Já cruzou as pernas, sentiu o ar puro vindo da natureza e pensou em tudo? A gente se perde no silêncio. Ou no canto dos pássaros. A gente se encontra na solidão. Ou no barulho das quedas de água!! É essa água que segue a maré e nos faz viver de pé. Esqueçam redes sociais, telefone, rotinas, obrigações e deveres. Faça o que querem, pois é tudo da lei. Da sua lei precisamos não só de nos ouvir mas ouvir também os outros para deixar de fazer parte de um mundo louco, hipócrita e egoísta e começar a reestruturar o nosso próprio mundo...Eu estou farto de viver no canto do mundo dos outros...
Hoje escrevo no silêncio com o olha, e com a arte de quem sabe o que procurar, mas, com a volatilidade de quem não se deixa encontrar... Hoje sou apenas um homem e o meu caminho, ficou invertido nas asas de um anjo!!! Hoje fui ao baú das minhas energias, esgotei-as e deixei-me deambular por labirintos míticos, onde os meus passos ficam desenhados na capa do livro que escrevo! Tenho dias que chego a acreditar que a minha alma exerce um magnetismo que atraía a mim outros espíritos. É essa força da natureza que se manifestava na capacidade de por nas palavras os sentidos certos, que, fecham e saram as feridas. Poderão até vocês dizer que tudo isso é uma utopia, que nessa vaga de mim, tudo o que não tem chama apaga-se, deixando apenas o fumo pelo espaço vazio viajar… Enganam-se se assim pensam!! Quando falo de sentimentos não falo em quantidades, quando falo de sentimentos, simplesmente transcrevo aquilo que me mete medo! Ou porque seja um reflexo de mim mesmo, ou, porque temo que sentimentos não passem de uma utopia da minha demência… Pergunto-me, como podemos tocar o ar se não o vemos? Será que tocá-lo é colher a brisa quando esta se desloca para um outro lugar? Bem eu até sei a resposta mas fiquem descansados eu sei bem que construo castelos no ar, que crio ilhas de inverno nas primaveras dos Outonos tardios… Sei bem que se agora colocar os pés no chão, é admitir que perdi a razão, que agora que entrei dentro dum sonho, não quero acordar… Então vocês amigos me dirão , que um cadáver não pode ser salvado pelo menos neste mundo factual onde a realidade é o cutelo que retalha os sentidos e os formata em padrões predefinidos...

quarta-feira, 27 de abril de 2016

Hoje moro numa casa de ausências onde invento trilhas desenho barcos no horizonte roendo as horas... lei-o uma saída, mas o meu olhar paira nas esquinas onde revejo palavras obscuras , insanas e irreais que se pairam como fantasmas...Depois de acreditar nos outros calo a fome da alma e tranco as portas da casa com toda a força deixando os meus punhos em brasa. Nos véus do tempo e penduro um amor numa parede imaginária num pedaço do meu viver. Será que alguém me pode dizer com o azul do céu que me diverte ao dar nós na linha do horizonte da minha vida, porque os caminhos são incertos, os dias imaturos, e nós apenas uns fantoches comandados pelo ego e pelas areias movediças da vida?? Eu queria entender o movimento instintivo dos átomos a estrutura das estrelas o metabolismo do Universo, mas primeiro apenas escrevo mais um verso tentando compreender humildemente porque me fazem tão mal!!!! Apenas peço que não remexam no meu silêncio se não estiverem dispostos a escutar o seu barulho , e aprendam que é preciso amar as pessoas e usar as coisas e não, amar as coisas e usar as pessoas....Eis o meu Evereste!!
Hoje vou recriar o desejo numa tela , com as minhas mãos resvalando no corpo nu na janela do olhar entre o céu e a imaginação, recriando sentidos na humildade do meu corpo despido. Ergo os braços e enlaço as mãos sobre cores, de amores que se roçam nos corpos frenéticos, desenhado ali os desejos pintados. Haverá alguma simbiose mágica, ou, mais mágica que dois corpos, dançarem em compassos incertos, como quem se passeia pelo vazio, preenchendo-o com audácia da fome da carne nua?! Derramo-me no declive desta planura, onde as mãos suadas dos amantes, que persistem no êxtase da criação, nesta arte que é já devoção, entre o Amor e paixão de fazer “gemer”, estremecer, recriar , sobre a plástica do quadro, de corpos emaranhados, perdidos sem medo, tocando os vértices e contornando as curvas, deixando pingar os espessos fluídos que como rios se desaguam em imagens de prazer …Hoje esgotam-se os materiais na criação de uma pintura de amor feita, deste meu corpo extenuado, perdido, caído, no chão onde semeei os meus silêncios …
Hoje cubro-me com o silêncio das paredes enquanto as noites caminham lentas embrulhando a lua quase nua, que acaricia com sua meiguice sentimentos estranhos albergados nas folhas adormecidas que caíram das árvores despidas...Sinto as coisas inanimadas provisórias sem valor algum...Ergo os olhos tento influenciar o luar antes que as horas tragam a madrugada...Mas!!! Sou poeira dos tempos um mero aprendiz de longos milénios exilado de outra dimensão!! Sou o pregão da vida...Tenho as minhas escolhas e muitas vezes gostaria de as eliminar e ser apenas a impassível lua para estar no foco dum outro mero olhar... Amar pode ser isso não se mede a sua intensidade , nem se reclama retribuição ...A verdade é que amo!!! E amar não é possuir , amar é sentir é conviver, é desfrutar, é descobrir um mundo novo pelos olhos de outrem, é doar ás palavras a vida é ser voz, é colocar os desejos de alguém antes dos próprios desejos...Amar é alternar as emoções, entre o desejo e a ternura é colocar toda a alma em uma só carícia, é sentir que o tempo pára e o mundo desaparece nas sensações de um beijo...
Hoje ressalvo que a gestão de uma coragem absorve-nos muito tempo...Estive tanto tempo na sombra apenas a observar a covardia e falta coragem que comigo tiveram hipotecando-me os sentimentos! Eu sei que a paixão queima, o amor enlouquece, o desejo trai. Talvez esses fossem bons motivos para ajudar a decidir entre a alegria e a dor, sentir o nada, mas não são. Se a virtude estivesse mesmo no meio termo, o mar não teria ondas, os dias seriam nublados e o arco-íris em tons de cinza seria . O nada não ilumina, não inspira, não aflige nem acalma, apenas amplia o vazio que cada um traz dentro de si. Não é que fé mova montanhas, nem que todas as estrelas estejam ao alcance, para as coisas que não podem ser mudadas resta-nos somente paciência porém, preferir a derrota prévia à dúvida da vitória é desperdiçar a oportunidade de merecer esse oportunidade…. Para todos os erros há perdão para os fracassos, chance para os amores impossíveis, tempo…. Tempo esse que urge e de nada adianta cercar um coração vazio ou economizar alma. Um amor cujo fim é instantâneo ou indolor não é amor … Nesta vida de sentimentos perdidos apenas vos adianto que não há nem enormes poetas nem belos poemas !! Há sim palavras que nos agarram no momento certo mas isso não faz com que saibamos amar pela metade pois amar de vez em quando não é amar! Hoje vejo que a hora de perdoar não é assim tão complicada , complicado é esquecer .
Hoje sinto o incêndio que queima cada pedaço do meu cio, olho o céu estrelado que penetra no meu profundo vazio e é por esse caminho que sigo, por entre o olhar e o brilho das estrelas…Olhem-me sou uma chama intensa, sou um mar de lava adormecida, sou, o eclodir dum corpo nu sobre o horizonte , sou a água fervente que inflama a mente na devassidão e na tempestade. Eu já fui a força dum vulcão em plena erupção!!! Hoje sou apenas o despertar da letargia, que os meus dedos transpõem em pura magia. Hoje em dia amar é esculpir uma obra de arte, é pintar o céu com os tons da lua, como se tudo em nosso redor crepitasse num fogo suave que nos derrete os sentidos. Hoje amar não é só desejo é também conhecer todo e qualquer segredo, descobrir todos os lugares onde nos guardamos, é libertar as loucuras que escondemos nas fantasias a sete chaves fechadas. Hoje já não sou capaz nem quero quebrar os limites que fundem corpo e alma, desejo e luxúria, que fazem dos sentimentos a mais profunda sensação. Prefiro percorrer o silêncio dos meus gemidos, percebendo as curvas que os contraem, a ondulação cadente com que os sonhos ficaram suspensos nas minhas mãos…Muitos de vós Dir-me-ão que escrevo apenas letras, descrições , utopias , ilusões mas nesta amalgama de sonhos vocês todos sentem-se parte integrante do meu presente narrado nesta saudosa viagem que não me canso de inventar…
Hoje vim abrir as gavetas. porque as palavras também podem mofar, eu sei. vim varrer os cantos e soprar a camada de pó sobre os móveis da minha vida, para que esta casa não pareça abandonada. Sim, vim recolher a pilha de cartas que interrompi na abertura da porta que deixaram escancarada . Vejo pelos cantos envelopes quase desbotados espalhados pela entrada do meu coração mas esperem deixem-me dar comida à minha gata…. jogar o lixo fora… Mas não se surpreendam apenas vim para deixar um bilhete, pendurado no canto deste espelho que me tem reflectido, em letras tortas e apressadas para os que ainda entrem hoje neste quarto escuro iluminado apenas pela sobra das paredes!!! com o tempo aprendemos que a vida é curta demais para não fazer o que se tem vontade, que nossos ideais nem sempre são a melhor opção, que as pessoas sorriem mas nem sempre concordam com o que pensamos e acreditamos, que Deus é bom mas tudo depende de nosso livre arbítrio, que as paixões vem e vão mas o amor verdadeiro é eterno, não é carnal, não é egoísta, que as amizades nem sempre duram para sempre, que a família é sagrada, que as pessoas podem mudar e se tornarem melhores ou piores, Enfim, o tempo faz de nós senhores de nós mesmo e muitas vezes nos surpreende quando estamos em nosso pior momento, trazendo coisas boas e desafios a serem enfrentados só precisamos buscar aquela força que fica escondida e amedrontada dentro da alma…Sejam felizes, porque no amor cabe o mundo, o Universo, o Sonho e a honestidade ...

terça-feira, 26 de abril de 2016

Hoje até era capaz de escrever o poema que tenho submerso em mim, ele tem a capacidade de romper o meu silêncio e minha solidão. Hoje sacudia a minha alma, enquanto esta está espiando os meus sentimentos, mas!!! Tenho este poema bem guardado, em recantos e cores de outono adormecidos, insinuando-se em meus segredos!! Por acaso não os tenho mas tenho a capacidade de os instigar alinhavado-os de lembranças a flor da pele em suaves olhares urgentes do tempo onde o retrato da vida é tecido! Hoje era capaz de redigir um poema infinito que não cabe nas palavras, mas, proclamar a ternura de um amor antigo, é um voo longo, e me escapam as letras nas teclas desta tela onde era capaz de pintar um poema submerso no meu peito guardado assim em palavras embaciadas na garganta rouca e perdida na multidão...Eu Hoje era capaz de escrever um poema mas perdi-me quando quis me doar , deixei mais do que deveria de mim, para quem talvez não merecia os pedaços que agora me faltam.

Hoje tenho saudades da urgência da palavra...Sabem aquela sensação que nos faz dobrar os papeis pelos dedos cansados, urgindo guarida apenas...