terça-feira, 29 de agosto de 2017

Hoje acordei muito cedo mesmo, ainda era noite fui ao quintal,  sentei-me no chão com a cabeça entre os joelhos. Precisava de ar. Sentia a garganta apertada como quem tem um desejo demasiado profundo de se enterrar na  própria dor para a transformar noutra coisa qualquer , pois ela queimava-me a pele… Meus olhos gritavam mesmo fechados sem que uma lágrima os preenchesse. E foi então que a senti entrar. Sorrateiramente, como se tivesse medo de acordar os meus sentidos dormentes ou de atiçar simplesmente a minha fúria. Entrou lentamente, pé ante pé, demorando dois segundos a compreender que eu sabia que ela estava ali…Meu Deus a minha pequenina dizendo que estás a fazer pai!!? Bem apenas lhe disse que estava a ver as estrelas …Ela não se conteve e disse Pai hoje não há estrelas o avô zé ainda não acordou…Sem  contestar as suas palavras. O vazio da minha resposta  era o silêncio de sempre a percorrer-me as veias, como se pudesse chegar a todo o lado e preencher cada célula do meu corpo….Como vi que ela não me compreendia aproveitei para lhe explicar que tinha saudades do Avô Zé, ela exclamou só agora tens saudade dele?! Fiquei de  olhos secos que contrastavam com a minha cara pálida da minha dor que não parava nem abrandava um pouco. A saudade, no entanto, já se tinha alojado em mim, tomado de assalto o meu corpo… e ela queria que eu chorasse. Abanei a cabeça a custo, respondendo aos seus desejos. Peguei na minha Marianita e entrei de novo para dentro, a porta bateu violentamente quando o vento soprou mais intenso. Por mais forte que seja a saudade ela não era mais forte que o meu amor por ela. Não era mais forte que as minhas promessas e não era mais forte que as minhas palavras quando um dia, há muito tempo atrás,  o meu Pai partiu eu prometi não chorar e cuidar dos que ficaram…Sei que não é fácil compreender este tempo dilatado , este espaço que diverge entre dois mundos, nem sempre há resistência anímica de te ter apenas durante o sono, sonhos, por isso guardo-te como um anjo...

5 comentários:

  1. Paulo, apenas quero dizer-te e para não sensibilizar-te mais quando estas " saudades " nos invadem a alma, que fica aqui um ABRAÇO de quem te quer muito bem...

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  2. Pelos nossos filhos fazemos tudo, lutamos sem barreiras nem obstáculos, por ele vamos ao fim do mundo! Abdicamos de nós próprios e da nossa própria vida, por mais cruel que seja!! Pelos que partiram deixaram nos a missão de cuidar dos que ficam!
    Somos fortes resistentes soldados sem fronteiras! Apenas em poucos momentos seremos nós e o nosso espaço, pois vivemos sem tréguas, a vida não permite o descanso! Muitas vezes são eles que nos limpam as lágrimas obrigando nos a não baixar a cabeça! Pois marchamos pelos nossos!

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  3. Sem palavras......... ❤❤❤❤❤

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  4. Olá Paulo, que lindo o que partilhas, sem duvida, que chega o momento em que pelo menos eu penso que tens algo de divino em ti. Como nos fazes viajar ... Sentir saudades assim de alguém é duro mas por outro lado é um sinal de vida , ou melhor, que ao sentirmos e pensarmos os nossos ente queridos ,estamos desta forma a fazê-los viver nem que seja apenas dentro de nós. Esse tempo "dilatado que em ti e em todos nós diverge" é a via láctea dos nossos sonhos , tu atravessas a minha via láctea . Beijinho com carinho

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