quinta-feira, 5 de dezembro de 2024

Hoje reinvento as palavras desbravando-as como sementes sensíveis esbanjadas pelo destino incerto em fragmentos de papeis salpicados pelos sonhos amarrotados que resvalam nos dedos desavindos…. Esta doçura que as mãos vertem em palavras soltas nas janelas do olhar, são pomares de letras na confissão dos dias, porque, se um dia as pessoas que nós amámos e nos supostamente amaram se reunissem para elaborar um relatório sobre nós, de certo, que nenhuma estaria a referir-se da mesma pessoa . Porque o digo, talvez por achar que não amamos todas as pessoas da mesma forma! Quantas pessoas diferentes não teremos sido, ao longo da vida, relativamente àqueles de quem gostámos? Quantos seres se não terão corporizado num só, de cada vez que esse sentimento chamado amor despontou no nosso coração? Umas vezes, porque tentámos corrigir erros passados que não queríamos repetir. Outras, porque, sendo o amor agregador, recebemos muito mais do que esperávamos e tentámos retribuir. Outras, ainda, porque o pouco que nos davam terá secado a torrente que, no início, nos alimentava. Outras, também, porque o tempo e a idade vão emoldurando, pulverizando, singularizando, os nossos afectos. Na amizade passa-se algo de semelhante. O "outro" apresenta-se aos nossos olhos de uma forma diferente daquela pela qual certos amigos o veêm. E é essa singularidade que, juntamente com a nossa própria, selará uma relação que será diversa daquela que se estabelece com uma pessoa com distintas características. E vice versa. Também a forma como somos olhados dependem do olhar do outro, da sua capacidade de nos ver... Não serão, afinal, estes condicionalismos que fazem com que certos amores ou certas amizades durem uma vida inteira, ao contrário de uns ou umas que não deixam qualquer rasto? Quantas vezes não pulverizamos a nossa maneira de ser para nos adaptarmos às situações que julgámos ser as mais correctas, quantas!? Não fizemos bem nem mal, acho eu, tentámos apenas viver os momentos da melhor maneira que nos foi possível. Resultou? Nunca saberemos se, fazendo de outro modo, as coisas se teriam passado de forma mais compensadora no aspecto afectivo...Bem mas, a quantas pessoas eu não estou grato por terem cruzado o meu caminho, sem que elas, sequer, o saibam ... Quantas pessoas não encontrei, por escassos momentos na minha vida, às quais estarei para sempre grato, por me terem mostrado rotas que não conhecia! Quantas me magoaram mas, por isso, me fortaleceram? Quantas, nem sei mas, me tornaram mais justo. Quantas me ensinaram a amar sem que, à época, eu me tivesse dado conta disso? Quantas nem por mim deram e, a essa ignorância, devo alguma humildade no processo afetivo! De quantos bocados de todas estas almas não serei eu, hoje, feito? De muitos, certamente. Gente que nem sequer sonha quantas vezes, num agradecimento sincero, relembro tudo o que me ensinaram, fosse por vontade ou por ausência dela...

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