terça-feira, 28 de janeiro de 2025
After You
Hoje, abrigo-me na certeza de que nunca posso descansar sobre um assunto, ainda que uma parte de mim assim se mantenha, fico sempre de forma subtil, alerta! Pela janela aberta entra o barulho da rua, vidas que se agitam para mais uma semana que ja a meio vai. Por entre a erva alta do jardim saltitam lado a lado pardais, melros, arrepiados do frio suportável mas inesperado, e os ramos que dançam felizes ao vento fraco, cobrindo rebentos da cor da mudança de estação. Em breve o ar encher-se-á de bolas de pólen , ja não falta assim tanto, para vermos a voarem como flocos de neve ou borboletas distraídas, e as primeiras andorinhas chegarão finalmente, altivas. Em breve...O café que bebo à janela não é suficiente para me convencer a sair à rua. Em vez disso, faz-me procurar o aconchego de casa, do casaco quente, da manta macia. Faço somente o essencial, e decido que hoje o dia será dedicado ao descanso sereno, à transparência da fé, do acreditar, ciente de que as nuvens que cobrem o céu podem também ser apreciadas pela sua singularidade e beleza próprias, mesmo que não deixem o sol aquecer corpos e almas. Olho as horas e certamente uns ainda dormem até tarde,mas prefiro assim, a mente se mantém cheia de afazeres, não havendo espaço para as coisas frágeis, próprias do mundo do sonho, do imaginário. Contudo, sei que os outros também sonham, também esperam e acreditam, mesmo que a parte mais rebeldede de nós negue tais conceitos.Tanto faz! Eu ja conheci esse lado que muitos empurram para o limbo obscuro dos dias e das noites, tentando fingir que não existe, e é precisamente esse lado de mim que me leva a sentimentos que ainda hoje me agradam, e que têm a sonoridade quente de uma voz. Hoje declaro paz a mim mesmo, trago esses sentimentos ao de cima, juntamente com o lado sensível, que escondemos de muitos até de mim mesmo como um mapa de um tesouro que jamais deve ser encontrado,jamais! Na minha imaginação, divido o calor da minha manta macia com as nuvens que se afastam agora, sob o poder de um sol que teima em brilhar à vistade todos. Deito-me no deserto das minhas mãos, enrolo-me no espaço dos braços que me seguram, cheios de galáxias mais antigas que este mundo, e reconstruo-me, enquanto uns contam histórias de vidas passadas ...Sabem do que eu gosto...Do eco de uma voz pelo meu corpo sem rumos nem becos. Numa sentida provocação, sem pressas. Agarro cada palavra e deixo as sílabas à solta por dentro de mim como, mapas, bússolas, ampulhetas que me prendem! O grito vazio da manhã virá como improviso, aurora desfeita pelas naves que partem para universos longínquos levando a história da Humanidade como uma bandeira...Mas até lá é noite ainda ... E este deserto sem mãos onde me deito, ergeu o espaço dos sonhos que me seguram, eles, ainda são o calor que acende muitas almas por aí retira o poder ao passar do tempo. Até lá, pertenço apenas ao universo dentro da minha imperfeição na calada da noite.
segunda-feira, 20 de janeiro de 2025
Hoje está muito frio. Num céu que aumenta a sensação de vazio, já brilha a primeira estrela, enorme! Estamos na era das estrelas. São biliões, só na nossa galáxia, mas um dia todas elas apagar-se-ão, uma a uma, mas por ora enchem os céus, os cadernos dos poetas e os corações dos amantes, em forma de amor puro. Os anjos estão por todo o lado. Não os vemos, muitos deles escondem-se dentro das pessoas. Nesta noite, também eles observam as estrelas. Mas!!Sabem mais, muito mais do que nós, humanos, muito mais do que os astrónomos e os astrofísicos, os filósofos, os céticos e todos os religiosos. Faz-se tarde nesta noite que cumpre desígnios por nós desconhecidos, o frio adensa-se. De longe, de muito longe, num lugar escuro, silencioso gelado, observam-nos as estrelas também. E de lá do alto, onde as estrelas medem forças e moldam a realidade, a noite cá em baixo parece maior, um gigante vazio cheio de nada, onde a raça humana mede também ela forças, tenta moldar a sua realidade e a dos outros. Mas!! Continuamos sem saber nada, suspeitamos de muita coisa mas penas existimos. É essa a nossa condição. Ecoam as nossas palavras em paredes de gelo e só os sonhos me aquecem nestes dias... Porque as palavras são indefesas, gelam assim que embatem nessas paredes geladas feitas de céus negros e ocos. Por isso, deixa as palavras repousarem no silêncio onde elas pertencem neste momento. São elas a quem peço que me perturbem numa doce inquietação, que me agitem os sentidos e que escrevam ousadas mensagens em forma de prosa que se converte em calor, acima de tudo, quando as paredes de gelo derem lugar aos muros caiados de branco, cheios dos reflexos dourados do sol no pico do verão! Já não há mãos que se deem às minhas, mas ao menos, que todas as palavras continuem entre nós como estações do ano, não importando nunca a cor do céu ou as paredes onde essas palavras embatam. O dia ficou cinzento, manhã está fria, chove lagrimas neste céu cinzento e pesado, escurecendo o arvoredo, os caminhos, os bancos de jardim vazios e as horas que marcham indiferentes ao tempo...Contrapondo a isto tudo, há pessoas que parecem carregar uma luz interior tão intensa que, mesmo sem disso se aperceberem, iluminam o caminho de quem está ao redor. O seu brilho não vem de algo superficial, nem se limita a sorrisos ou palavras de incentivo. Transborda em gestos sinceros, na empatia natural e na forma serena de se relacionar com o mundo. São indivíduos que acolhem, compreendem e enxergam a beleza nas pequenas coisas do dia a dia.
Isso é o que torna essas pessoas especiais, é a capacidade de confortar e inspirar sem julgar. Elas reconhecem que cada ser humano enfrenta as suas próprias batalhas e se abrem para ajudar, sem esperar nada em troca. A luz que carregam não se manifesta apenas na alegria, mas também na serenidade em momentos difíceis. E, mesmo quando atravessam momentos difíceis, elas seguem fortes, guiadas por um sentido de propósito que ultrapassa o entendimento comum...Ter alguém assim por perto é um presente que não tem valor, é perceber a importância de compartilhar palavras de carinho, um abraço aconchegante ou olhares de compreensão. Essas pessoas com luz lembram-nos, diariamente, que é possível transpor barreiras e, principalmente, que a esperança se fortalece, quando encontramos força uns nos outros....É apenas isso que preciso hoje!
quarta-feira, 15 de janeiro de 2025
Hoje falo da felicidade, esse sentimento que muitas vezes procuramos, de forma desmedida mas ianda assim, foge-nos das mãos sem a vivermos em pleno...julgo que é algo que se contrói, muitíssimo devagar, com cautela. Porque o que nos tornava felizes aos vinte anos tem muito pouco a ver com aquilo que, hoje, nos satisfaz. E, possivelmente, será diferente do que amanhã nos tornará venturosos. Mas!! Algo, contudo, se mantém na minha existência. É a vontade de tocar a felicidade. Julgo que ela jamais me abandonou. De cada mágoa fiz sempre um exercício de ultrapassagem. E foram várias, as vitórias que conseguidas apesar de todas as adversidades...
Chegada a uma fase em que muitos esperam pelo fim, eu ainda sonho com o que me falta fazer. Por idiotice? Não sei, mas talvez por pura convição de que essa é a minha única forma de viver. Por isso me espanto com amigos que, na escalada da vida, se demitem de lutar por aquilo que, acreditam, e os tornará mais afortunados. Porque "já" não vale a pena. Como se a vida tivesse chegado ao fim, mesmo antes de ter terminado! Não serei um homem totalmente feliz. Mas sou, seguramente, um felizardo que, a prestações, soube sempre o que era a felicidade e me recuso a dela abdicar! Posso até fechar os olhos para escutar o meu interior. Entre as promessas que fiz para mim, carrego também as que quebrei! Percebo, contudo, que é nessa humanidade falhada, que encontro potência para recomeçar, voltar a tentar... O ano pode não ter chegado como uma brisa que afaga o rosto, ainda assim, vou carregando a possibilidade de ser, de criar, de sentir. Respiro fundo, deixo o pulsar do presente lembrar-me de que cada segundo é um convite a abrir portas, a acolher o desconhecido, a renovar-me já que ao abrir os olhos, não vejo apenas o calendário mudar. Vejo-me a mim mesmo a entrar num novo ciclo, que como o verbo, diz, renovar conjuga-se todos os dias...E esse fio de luz que rasga o silêncio em que a alma se encontra em alguns suspiros! Há um instante em que tudo parece suspenso nesta vida, o tempo dobra-se, e cada batida do coração carrega um misto de emoções e é nessa fronteira tão subtil que, sinto-me como se dançasse na beira de um abismo, mas sem medo de cair, apenas a plenitude de estar vivo, ainda que a vida seja feita de incertezas não me escondo dos desafios que os dias me colocam...
sexta-feira, 3 de janeiro de 2025
Hoje falo da intimidade, sendo que a palavra implica, uma habilidade pessoal para ter coisas em comum...Mas, não confundamos entre “íntimos” e “próximos”, que são conceitos muito diferentes. De facto, tenho vários próximos, por educação, gosto, admiração... Mas íntimos tenho muito poucos. Talvez mesmo só tenha dois e com um tipo de intimidade diferente com cada um deles! A intimidade é um sentimento que se cultiva, que se aprofunda e que em certos momentos quase, se torna como uma espécie de extensão de nós próprios...É complexo definir intimidade! Ela varia de relação para relação e pode, inclusive, num mesmo relacionamento, amizade, ir tomando aspectos diversos ao longo do tempo. As minhas filhas foram e são os meus mais próximos, mas não são os meus mais íntimos. E, pensando bem, creio que a intimidade, no sentido que lhe atribuo, que está na nudez da alma de um face a outro, não deve ser a tónica mais importante do sentimento que une pais e descendentes. Todavia muitos acreditam que esse sentimento comporta uma forma de intimidade emocional. Mesmo que assim seja, a própria natureza da relação pais/filhos impõe certos limites, que levam a que nenhum dos membros se desnude inteiramente face ao outro. No entanto, aqui, a diferença geracional também pode ser factor inibitório. A maior parte das vezes, julga-se que a intimidade está ligada ao sexo, pelo que o desejo mutuamente satisfeito e os eventuais sentimentos de afecto daí decorrentes, podem ser confundidos com ela. Noutros casos a intimidade manifesta-se sob a forma de momentos partilhados. Porém este tipo de partilha é comum também aos que nos estão próximos. Assim, parece-me que a intimidade nasce em primeiro lugar daquilo que nós estamos dispostos a partilhar com os outros e depois da escolha desses outros. Ora é na diferenciação deste sentido que irão colocar-se aqueles que são íntimos e aqueles que são próximos. Por tudo isso eu digo que o amor não é de todo um ornamento, é sim um impulso divino que irrompe pelo interior de nós mesmos , surpreendendo toda a nossa humanidade, recriando-nos, ampliando-nos, expandindo-nos em gestos que nos melhor definem...Talvez seja essa a razão para o amor ser para mim o estado em que somos nós mesmos com mais satisfação.
quarta-feira, 1 de janeiro de 2025
Hoje recordo-me do que uma amiga me perguntava, há dias, o que fazer quando alguém desistia de nós. Conhecendo eu bem o seu pragmatismo, a questão surpreendeu-me. Disse-lhe que sabia pouco e cada vez menos da alma humana, portanto nada lhe podia adiantar. Com efeito, nunca desistira de ninguém, bem pelo contrário, o que talvez também não fosse de recomendar...O que sabia, isso sim, era como desencantar-me de alguém, o que não era bem a mesma coisa... Podemos levar anos a guardar um amor, a conserva-lo, a alimenta-lo e, de súbito, sem esperarmos, a vida colocar-nos na posição de vermos esse amor noutro ângulo, que sempre lá esteve, mas nós nunca quisemos descortinar.
Numa comparação demasiado fácil, era como guardar durante bastante tempo uma flor que simbolizasse algo de muito importante e não dar pela passagem dos anos sobre ela e, sobretudo, também sobre nós. Um dia, sabe-se lá porquê, é necessário abrir a caixa e a flor está lá, mas quase reduzida a pó... E só nesse momento é que percebemos que o que guardáramos já não existia. Invade-nos, então, um misto de tristeza e de alívio, com o qual iremos fazer o resto do nosso percurso. E, eventualmente até, rescrever o passado e dar um novo valor ao presente. Disso, felizmente para mim, eu podia falar, porque fora uma utilíssima aprendizagem, que, no fundo, me tornara mais realista, mas me não azedara, porque fora resultado de uma escolha minha. Ao invés, quando alguém desiste de nós, não sendo nossa a escolha, deve doer bastante mais. Curiosamente, a minha amiga acabou por me dizer que, de modo indirecto, eu lhe havia respondido à pergunta!Com isto posso dizer que há pessoas amáveis, admiráveis, viciantes, são assim: expressivas, expansias, esplêndidas e por essa razão, ficam a navegar no nosso sangue, porque se cravaram além dos olhos e da pele, na alma. E lá, vivem para sempre. Até nos reencontrarmos... A vida contém infindas surpresas e o amor é a maior energia do universo, para as experênciar, vivam-na!
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