Hoje trago nas mãos gotas de poesia liberto-as dum lago que em mim se extravasa em gotas que reparto com a folhas vazias que vou enchendo na medida que a minha alma vaza... Correm nestas linhas salpicando segredos que por prudência preferi guardar mas!!! Fluem pelas pontas dos meus dedos ,são uma extensão deste lago por partilhar, desisto de obstruir a sua passagem que se alastra para lá de cada margem enchendo o vazio das minhas mãos que se agitam poisando nas palavras que outrora escondia como gaivotas dançando no silêncio das brisas...e calo-me , mas escrevo... E quando escrevo, agrafo os meus silêncios às palavras... E lavo-as numa corrente de ondas batidas nesta força neste caudal que engrossa levando para longe todas as mágoas. Assolo as minhas margens, reinvento-as. E neste rio de breves margens pernoito, vagueio no tempo sem cansaço, risco traços de luz nas águas cristalinas que me alucinam o sentido, gravando no papel cada gemido que não consigo sequer sussurrar...

Não, não tirem de mim as palavras não ditas, se querem adivinhar o que penso!!! Usem as palavras certas e apurem vossos ouvidos para ouvi-las… Não tirem conclusões apressadas não deturpem em vossa mente minhas palavras!! Elas são minhas pois, já que delas apoderei-me ao pronunciá-las…Se não querem me ouvir, se não sabem silenciar por dentro, como podem querer compreender aquilo que digo? Como podem julgar os meus suspiros? Não tenho de forma alguma coração de pedra embrutecido…Apenas o meu desalento faz-me chorar , lágrimas em sangue vertidas, resultantes das brisas com palavras nefastas com o falso orgulho com que se ainda há quem se defenda!!!Tirem a armadura fora sejam gente encare-me de frente …Pois Enquanto ainda é tempo…Enquanto ainda há tempo de serem felizes …È isso que faço não usem o meu desconserto em favor das vossas supostas certezas, pois não frequentam o espectáculo da minha vida!

Hoje pelo amor , preciso de esquecer os nomes das coisas e escutar o murmúrio surdo das árvores , esquecer a sorte no mar brincando e crescer como quem devora as coisas, como esta criança que eu sou e nunca soube conter o sorriso a ninguém!!!Eu já ousei vasculhar a sombra da dor no amor, eu já plantei saudades e vi a ternura eclodir...Eu já senti o aroma da claridade da lua, eu já disse verdades mentindo, eu já recolhi palavras amargas e tingi com o som do que escrevo os sentires dos olhos sem ver...Eu por amor já aqueci o corpo com o meu silêncio e derramei os meus pensamentos descalços na lembrança de um simples abraço que me cobrisse com olhares vacilantes !!! Eu por amor transformei-me numa pedra , fechei os olhos como se me perdesse num longo sono ...Por amor deixei que me tratassem como um mendigo que vivia entre as margens de um destino ...Mas , mesmo assim dormirei com um bando de anjos transparentes e com eles criarei a magia que o meu coração desenhou...

Hoje amanheci na aurora de outro dia e bem cedo olhei para o mar, copiei-lhe as gargalhadas , coloquei-as no coração em pedaços azuis que me segredam enigmas ...Fotografei-o neste dia colorido onde as brisas se estendiam na sua orla e me beijavam a face ondulada por um bailado de marés apetecidas!!! Sinto nos lábios a ternura de uma saudade de : beijos salpicados , nuvens de algodão , viagens em tons de sonho, caminhos ao sol percorridos de olhar avido e sereno.Mas!!! limito-me a abraçar este horizonte e leio o murmúrio de outro alguém , uma voz silenciada num sorriso abafado de uma melodia de amor segredada em tons de brisa... já é noite fecho os olhos e sinto um beijo cadente !!! olho apenas então o céu...

Sei de lugares do corpo, que à muito não visito, aprendi-os no tacto dos momentos em que os olhos tocam como um piano de teclas macias. Conheço a nudez de todos os ângulos, em todos os tons, em todas as dimensões, em todas as extensões. Sei dos detalhes onde se soltam os ventos, aquele particular instante em que entre um e outro olhar se desprende o grito garganta que nos acolhe... Na ponta dos meus sentidos visto-me, abraço-me como se absorvesse o impacto hipnótico da minha sombra, amor é isso !!! É os sentidos que escorrem como saliva ardente e perdem o controlo ignorando os rios ardentes barricados sem limites, espelhando as estrelas aglutinarem-se em hemisférios cerrados de luzes …Sentidos, são os caminhos enlaçados como a alegria de um orgasmo que nos deixa fecundo em outro alguém para todo o sempre…

Hoje dissipam-se as vestes da noite, que por tantos dias me revesti!!! Restam as sombras que num açoite trémulo deixam a nu as penas com que me cobri..Quebro os muros na minha orla e em pequenos Rasgos de luz risco o infinito no olhar , adormeço a lua, que sem demora me eleva o silêncio ao som do meu grito...Há sem duvida dor que dói, sem que se a veja, resta-nos divagar entre a lucidez e a ilusão , tecendo na alma um entrelaço de saber, apagando os porquês de cada questão que outrora nos fez parar!!!Tanta palavra borbulha em mim na espuma lavrada num mar de silêncio onde guardo e desprendo pedaços meus…Escorrem como lava ardente abrasando as mãos vazias que vão incendiando estas folhas em branco… Talvez não passe de ousadia, refúgio, reflexo do que me habita dependência exagerada sede doentia…Luz poisando sobre mim mas!! Quando as palavras se instalam no papel é como se tocasse no céu que de cinza se pintou , retoco os silêncios e num arrepio faço gotas de neve cair inundando os espaços vazios cingindo o meu tudo num doce convergir como um lindo carrossel de sentimentos...

Hoje eu sei que há dias em que não há nada, dias sem cor, depois segue-se o silêncio! Hoje eu sei que há dias em que nada existe para lá do vazio….Mas!! há dias que nasce o verbo em nós, e ele, acende-nos as luzes..È na composição dos verbos que o ser humano vê e sente que há um mundo imenso à espera, do seu olhar perspicaz e das suas palavras. Quando os rios secarem e as tempestades passarem a ser apenas um sopro uma brisa sobre a nossa pele gretada , e a dor se erguer em flor de inocência, os olhos magoados serão um bailado no sorriso que enfeitara as linhas do rosto em límpidas palavras…Escutem o silêncio , ele inventará então todos os nomes e essências dos dias que nos fizeram  peregrinos do enlaço colhido da dádiva, da transgressão, do coração pulsando acorrentado, esquecido ma esquina dos pensamentos!!!Eu sei que os meus passos me cansam e a minha voz não entoa neste respirar que sufoca o presente, mas se escrevo é apenas para que o futuro me endoideça!!!

Há um mundo imaginário dentro de todos nós e de mim também , há um lugar secreto onde nos refugia-mos e meditamos em busca de compreensão e entendimento.Quando ali estamos, pensamos em tudo em nós e no mundo, no silencio absurdo que se faz dentro do nosso interior, tentamos escutar uma voz sábia...Nesse silencio absurdo escuto-a, sinto-a pulsar dentro de mim...È nesses instantes especiais inesperadamente que nos tornamos um, criador e criatura unidos por mágicos pensamentos, pensamentos esses que se Interligam a uma luz , luz essa que só se faz presente, se as portas da vida permanecerem abertas, abertas, para que através dos pensamentos, além do mundo imaginário, ele sempre possa vir ao nosso encontro...Vivemos de pensamentos e palavras. Vamos até à cova com palavras. Submetem-nos, subjugam-nos. Pesam toneladas, têm a espessura de vales, montanhas. São as palavras que nos contêm, são as palavras que nos conduzem. Mas há momentos em que cada um redobra de proporções, há momentos em que a vida se afigura iluminada por outra claridade. Há momentos em que cada um grita: - Eu não vivi! eu não vivi! eu não vivi! - Há momentos em que deparamos com outra figura maior, que nos mete medo. Uma figura abstrata que nos guia suavemente!!!

Hoje desci dos céus e olhei-me em silêncio nos segredos da alma onde ainda rabisco sorrisos de futuro. Olho-me em palavras que respiro,escrevo em sussurro mágico.Olho-me, vejo-me a caminhar numa estrada paralela, onde o tempo não existe e o horizonte é uma aguarela pintada, colorida, cheia de sonhos! Mas a solidão esconde-se no arco-íris onde silêncio canta na voz dos anjos, o desejo dança sem ritmo!Olho-me, sonho-me! Não me canso de escrever beijos nos lábios de papel, como se as palavras tivessem asas. Hoje olhei-me mas não me vi...

Hoje vos digo que tinha saudades das palavras mas ás vezes, as palavras queimam, abrem lumes de prata na covardia e na impossibilidade de as dizer. São como a lua que se derrete no mar. Luz. Música. Silêncio líquido. É essa poeira lírica do céu que a mão frágil de quem escreve semeia. Ousadia, a minha talvez!!! Dizer que as palavras enredadas nos dedos são desencantos,são medos e esperanças. Com elas, adoço a vida, escrevo para o mundo e partilho a minha imagem como quem conta um segredo. Trago na voz mapas de sentidos dum tempo que já não conta. Podia até chamar a esse tempo de "folha dourada", soa-me divinamente...Mas!! Os bordados deixados foram arrepios que o vento acendeu nas paredes dos meus olhos. Escrever deu-me as asas que trago na voz...Deu-me a musica que as palavras rezam na dança dos sons, deu-me a paz branca que deixam cair no silêncio ... Sinto-me artífice de gritos, de silêncio, do mundo, do tempo da eternidade, pois cada vez que escrevo deixo uma ilha por mim colonizada ...Quando amamos alguém e a tocamos , é ai que conseguimos sentir que a nossa melhor parte do corpo está a ser tocada...

Hoje o tempo que se esfumaça é apenas visto da janela em que se espreita a vida. Hoje irei sufocar com o alaranjado do entardecer, este traz de nostalgia como se a vida também desaparecesse com o sol ao final de cada dia. Não se vive uma história sem amor não se faz um caminho sem coragem, não se passa os dias sempre em branco...Há em cada dia uma chegada e uma partida, coisas que estão além do bem e além do mal.Cada dia tem sua dose de ironia e de amor sua dose de rotina e sua dose de humor, mas quando chega ao final "morre" com ele tudo que se passou, morremos nós, ficam as lembranças do que marcou, o resto fica num labirinto de imagens, engavetados na memória, sem uso... Cada dia amanhece e anoitece à mesma hora, cada um com seu destino ou desatino, entre um e outro há o tempo que não volta... O tempo parece brincar com o nosso olhar entre dias compridos, coisas novas e coisas velhas. Depois desarruma tudo e vai-se embora...Daqui a pouco não saberei mais onde colocar tantos desejos !!! No meio de sonhos inacabados, deixo então que o meu coração continue a voar no horizonte dos sonhos por haver,  nesta janela que me espreita....

Procuro-te nas cinzas do meu fogo que se extingue, mas numa réstia de esperança que me corre nas veias, grito na solidão que ninguém ouve nas minhas estradas onde se passeiam!!! Procuro-te…Nos restos perdidos da noite fria, lenta, de palavras abafadas que não me disseram ...É no fundo da minha alma cinzenta que solto a escrita que jamais leram, porque , procuro-te neste porão onde encovo as minhas lembranças, onde, desperdícios de goradas tentativas, vislumbram infundadas teorias de exercícios, de buscas a que me obrigas amor tardio ... Procurei-te em toda a parte em qualquer lugar… Se te algum dia encontrei foi num tom desajeitado de fazer de amar. Nas minhas juras despejadas com fulgor e nos gestos espontâneos que não me prenderam Até que um dia… O vento seque o sal da minha dor e disperse as sementes que de secura, permanecem em mim!!!Não me arrombem a entrada nem me tranquem a saída , sou como terra lavrada pelo arado da vida...