segunda-feira, 7 de maio de 2018

Hoje dentro de si mesma, a noite não revela contornos , serve-se de sombras…Abro janelas de afectos, caminho sobre as horas, que exibem o desejo que o vértice das pernas esconde ! Imagino um corpo sobre mim, debruçando-se pelo meu lado selvagem , outrora adormecido num bosque imaginário,  de prazeres sem grades! Sonhamos que em algum lugar estarão sempre dois braços,  dispostos em forma de casa,  para receber o  nosso corpo quando cai. Eu já cai e muito…. Mas!!! E imaginei que havia um corpo com dois braços capazes de segurar-me  firmemente na queda…Mas não …Tive de recriar-me num estranho abrigo ao longo dos abraços imaginários no limiar do percurso da vida ...Aproximei os olhos da vertigem dos céus, fiz das estrelas barcos, para sulcarem os mares do meu coração em desordem, criei gestos para contrariar as palavras, exilei-me do tempo pelo medo que enrouqueceu o cansaço nos rostos desenhados em silêncios, nas noites adiadas. Como se sentisse alguma perversão, a minha boca desenha gestos poéticos, excêntricos,  que corrompem qualquer palavra que a luz da manha enrola nos meus olhos , em mais um dia que acordo com um som estranho dento do meu peito… Como se dum eco se tratasse,  de uma palavra tatuada em mim,  que eu não reconheço mas, mesmo assim,  atravessa a fronteira como um fantasma apavorado pela luz que asfixia…

sexta-feira, 4 de maio de 2018

Antigamente escrevia textos elaborados , mas hoje tenho poucas palavras para os elaborar… Antigamente quando os deuses eram grandes eu respirava silabas e transpirava  sonetos, hoje, ando humildemente nos arredores dos verbos, naqueles degraus invisíveis onde as árvores dão frutos mesmo rodeadas por incêndios…Estou como muitos, no interior do que arde, esmagando o coração contra o peito, apagando-me devagar com sede! Há quem diga que é preciso viver uma vida inteira para entender o que é encontrar a serenidade neste mundo,  mas nem a vida nem o mundo se encontram… Tenho duvidas deste futuro, luto apenas pelo presente , o presente é de todos,  construir uma casa e  existir dentro dela… Perdi a esperança, esperança é o consolo dos frágeis , mas!!! Eu não me sinto frágil!!! Por dentro o meu coração não renuncia à esperança …Que dilema este,  com apenas uma casa como testemunha…Oh!!! Mas as casas morrem não só na sua demolição, elas morrem com a morte das pessoas…Hoje estou assim, com a minha luz percorrendo, extinta, mundos nesta cinza onde não consigo decifrar  porque o meu sonho é gigante !

quarta-feira, 2 de maio de 2018

Hoje tento saber como me vestir por  dentro, quando este desgaste,  grita bem alto…sinto a minha  sombra  sozinha a manter letras em chamas a flutuar dentro de mais  um sonho! Há coisas que passam por nós , somente deixando rastos, outras ficam e nos fazem tombar pela falta de incapacidade em detê-las, podemos até disfarçar a melancolia das trevas , sem revelar o nosso nome… Como se fossemos um vulto olhando o horizonte, desta margem , sem revelar quantos barcos avistados pela proa do nosso olhar! Hoje percorro então, uma a uma , as horas por viver, mas não avisto arco-íris para colorir esta minha insónia! Há em todos nós este , lado sem luz, de sombras,  onde se desenha na memoria as nossas mãos vazias …Há anjos nesse labirinto, que desejavam perseguir os ângulos nítidos do olhar, há angústias no azul do céu que vela a brisa das manhas e deixa as asas na textura da vertigem a encher os pressentimentos !Hoje estou assim, de rosto tatuado pela invisibilidade dos sentidos ...E lá fora, a chuva cai , tão suave que até me faz sede!

domingo, 29 de abril de 2018

Sei que já houve um tempo, em que as minhas asas foram vento, em que os meus silêncios foram canto de embalar e que vos elevaram a alma e vos fizeram sonhar. Nesse momento, a minha essência libertou-se, abandonou o corpo à sua sorte e ergueu-se no infinito céu onde busco uma estrela nesta noite profunda sem fim. Lembrem-se dos mundos distantes que percorremos nessas viagens deambulantes onde misturamos as cores do arco-íris para pintar as histórias acabadas de sonhar, em tintas frescas que repousavam sobre as telas deste mundo de encantar que tanto sonhamos... Esses eram tempos em que a vida tinha as suas ambiguidades, em que entre nós não haviam saudades porque sempre nos fundíamos num só corpo, numa só brisa, nesse instante dilacerante que nos unia. É deste alimento que vivo, neste vácuo constante onde me fecho, onde oro, e choro o sal das minhas lágrimas em poemas dessincronizados, desprovidos de fragrâncias. Um dia hei-de voar de novo, por entre os destroços do meu corpo, feito sopro de vida que se ergue do abismo sobre uma praia sem espírito.Estou farto de ser ilusão, apenas esperança e mensagem que invada  corações , quero alimentar alma com a vontade de seguir a diante, de ser gente e viver o que vida me deixou para os últimos dias ...Não podia por aqui passar sem rasto deixar... olhem para trás e vejam o que eu deixei !!!

terça-feira, 24 de abril de 2018

Hoje viajei dentro da madrugada, sonâmbulo, deambulando entre dois mundos, sim!!! Aqueles mundos que enquanto dormes, invadem o nosso corpo, deslizam pelos lugares recônditos como quem os quer iluminar na madrugada...talvez seja apenas um eco de loucura sem contornos... Mas!! A escuridão é assim, alimenta as fantasias mais inconfessáveis...tudo acontece numa dimensão onde a razão está entorpecida...Escutamos palavras que ninguém disse, como quem atravessa uma fronteira em clandestinidade, cheios de pensamentos disformes, como um traço no horizonte de infortúnio atravessa a distância que nos separa do absurdo. Há quem enlouqueça a olhar o mar, vendo os barcos sangrando sobre as costas, há que encha a boca de silêncios, na míngua de alegria, como se uma noite inquieta ardesse nos ossos deixando as aves segredarem ausências sem recuo. Não há silêncios legítimos, para calar os medos, apenas há dias que se tornam intrusos de vida, nada é gratuito, a não ser a espera, de mãos entreabertas …deixem-me estar, recuso-me a ceder por dentro do sonho. Recuso-me ancorar o meu rosto num lugar comum, neste contrabando de afetos…


segunda-feira, 23 de abril de 2018

Hoje irei fazer-me nómada da noite, entrando dentro do coração deste texto, com todos os amores que sonhei… Entro dentro deste texto, como quem entra num corpo carente , que estremece no meio de beijos que deslizam pelo corpo imóvel…Dispo-me perante os olhares que incitam os meus desejos... Só, escrevendo, perco-me em lábios que inebriam os meus arrepios na doce magia que deixa o meu corpo como uma praxe de amor perante o imprevisto completamente abandonado… Perdi os filtros, do que escrevo hoje… Escrevo de alma, fazendo as palavras voarem como pássaros sem rumo, mas assumo!! Assumo, que tudo o que me acalma é derreter este suor, é sorrir sem deixar escapar emoção, é dividir as entrelinhas pelos desejos,  é sentir sensualidade sem deixar ela turvar os meus sentidos e a razão…Gostava de conseguir, deixar de procurar,  num corpo a sensualidade que não lhe pertence, queria saber o que me faria sentir se não a procurasse, e apenas sentisse no meu silêncio as obscenidades que alimentam os meus sonhos… Hoje apenas queria amar sem  fantasiar , sem “penetrar” nas palavras a inocência da descoberta! Queria que os orgasmos não tivessem nome, nem objectivo, queria abraçar, emocionar-me e arrepiar-me sentido apenas as saudades do futuro… Queria apenas  palavras como dantes, que o tempo apagou-me das mãos!

sexta-feira, 20 de abril de 2018


Hoje escrevo no silêncio com o olhar e com a arte de quem sabe o que procurar, mas, com a volatilidade de quem não se deixa encontrar... Hoje sou apenas um homem e o meu caminho, ficou invertido nas asas de um anjo!!! Hoje fui ao baú das minhas energias, esgotei-as e deixei-me deambular por labirintos míticos, onde os meus passos ficam desenhados na capa do livro que escrevo! Tenho dias que chego a acreditar que a minha alma exerce um magnetismo que atraía a mim outros espíritos...É essa força da natureza que se manifestava na capacidade de por nas palavras os sentidos certos, que, fecham e saram as feridas. Poderão até vocês dizer que tudo isso é uma utopia, que nessa vaga de mim, tudo o que não tem chama apaga-se, deixando apenas o fumo pelo espaço vazio viajar… Enganam-se se assim pensam!! Quando falo de sentimentos não falo em quantidades, quando falo de sentimentos, simplesmente transcrevo aquilo que me mete medo! Ou porque seja um reflexo de mim mesmo, ou, porque temo que sentimentos não passem de uma utopia da minha demência… Pergunto-me, como podemos tocar o ar se não o vemos? Será que tocá-lo é colher a brisa quando esta se desloca para um outro lugar? Bem,  eu até sei a resposta mas fiquem descansados eu sei bem que construo castelos no ar, que crio ilhas de inverno nas primaveras dos Outonos tardios… Sei bem que,  se agora colocar os pés no chão, era admitir que perdi a razão, que agora que entrei dentro dum sonho, não quero acordar… Então vocês amigos me dirão , que um cadáver não pode ser salvado pelo menos neste mundo factual onde a realidade é o cutelo que retalha os sentidos e os formata em padrões predefinidos...

terça-feira, 17 de abril de 2018

Hoje sinto que muitas vezes fazemos com que a vida acerte  passo com a corrente constante , só assim o tempo parece parar , só assim parece o silêncio poder ouvir-se …Flutuamos à velocidade com que nos movemos e desprendemos das margens , sincronizando o nosso céu com o deslizar lento do cair da noite ao relento…sentimo-nos sós e não o digo de uma forma triste, não sou uma pessoa que acumula amigos ou aprecia multidões, acho que tenho mais jeito para palavras, muitas vezes penso como seria maravilhoso conduzir relações no papel! Hoje não cabem no tempo, todos os verbos que já aqui conjuguei, neles, retive cativa a pressa que o mundo tem! O que me resta , é a voz rouca repetindo palavras gastas,  olhar desgastado, envelhecido, opaco, que tanto tempo  insistido em não ver... Resta este homem cansado, este sinuoso caminho e um destino distante demais. Do sonho, nada resta, afinal!

segunda-feira, 16 de abril de 2018


Hoje trago nas mãos a nudez das palavras que não se formam em mim! Como um sabor  proibido, recuso meras definições,  românticas ou entoações a pautar o ritmo das minhas palavras. Fiquei retido, cativo, de outras falas, onde as letras perturbadas descem a montanha na vertigem da lua que se esconde, em plena ausência do céu…Há desertos a criar feitiços de desejo, há sombras Iluminadas pelo lume dos lábios, que revelam desordem do ângulo raso côncavo em redor dos olhos! Deixo o olhar despenhar-se na alucinação das estrelas em cio, percorro o labirinto dos contrastes,  partilho com os deuses o vinho dos desejos, como se uma dança ou movimento me assaltasse a idade nas noites sempre adiadas…Eu já coloquei a minha boca num manifesto poético,  gesto indizível, com excêntricos suores nas palavras que geraram a perversão do maior desafio que o silêncio me poderia provocar…Mas!!! A encenação desse mito apenas me deixou entre o fogo dos corpos que a noite vai reacendendo na sombra ….Vou voltar todos os dias a esse sonho apenas para colher meros indícios que o silêncio vai repetindo no meu pensamento…

quinta-feira, 12 de abril de 2018

Hoje deste lado mais perfeito do silêncio, retiro as  palavras, ombro a ombro, como se dum vicio se tratasse …Este desejo inexplicável de refazer todas as noites o sonho despido, leva-me na minha inocência a um tempo onde nada me condena e absolve no erro! Posso até sonhar com o olhar dos Deuses, com as folhagens caídas, que no outono dissipou no meio de promessas excessivas,  soletradas na leveza do silêncio que esta linha sem sentido deixou em forma de coração…Tatuo paginas em branco, nesta noite levemente adiada, improviso palavras sem destino derramadas como conchas, corais, nesta praia intacta onde espero,  como quem acredita no destino, em dar sombra aos muros , que ao transpor me ergam asas no dorso como os Deuses , para eu não me despenhar neste abismo…

terça-feira, 10 de abril de 2018

Hoje quase por impulso  hereditário, sigo o rasto dos sonhos, não dou passos, não caminho,  mas …De uma forma apressada , sulco os trilhos e não lhes consigo, apesar do deslumbramento,  retirar  perigos…Eu sei que muitas vezes enlouquecemos , ao "acasalar" a pele com o azar e a sorte … Querem manipular-nos , culpar-nos, mesmo na inequívoca ruína provocada pelo envelhecer precoce … O pressentimento de derrota, transforma-se numa bússola  de sonhos! Existimos para os consentir,  levedamos os dias inúteis, falsificamos o tempo, criamos fronteiras na vida …Sou gémeos de signo, talvez por o ser, volto a esse lugar gémeo da minha memória,  onde retenho diálogos, danças, ilhas, palavras intrusas na minha boca, que  me exilam e em simultâneo destroem o sentido do silêncio como farpas…Todas as frases, todas as silabas, que os meus lábios fatigados geram, são o atalho de um ritual de sombras que ancorei no meu esquecimento…

segunda-feira, 9 de abril de 2018

Hoje a noite rabiscava um  amarelo na sua lua crescente, não se escutava música de animais, parecia um deserto esta noite, os sons característicos haviam dado lugar a vozes pequenas que se propagavam pela brisa vinda de  norte. O mar acalmou, um por um dos barcos atracados,  começaram a navegar. Bailando com as pequenas ondas, com o céu sem grande brilho deixaram-se  guiar pela cor indefinível da maré,  onde enrolo cada frase na areia desta praia, onde outrora  ancorei as minhas mãos…Aqui ao longe, apenas avisto as suas velas de luto, solidão, que se aprisionaram como pássaros, abrigados de uma tempestade, depois de lhes ser aprisionadas as asas…Esta noite viajei por todo o mundo, procurando o olhar mais doce da noite,  havia um lugar que  supostamente o arco íris entornava o seu excesso de cor , havia um olhar , uma passagem secreta que o desejo ajustava no brilho inocente da lua escondida . Fiz do seu foco  cúmplice enquanto o meu corpo se fez rio na urgência da sede dos olhos aguados deste inequívoco silêncio nas palavras!

Hoje vos digo que muitas vezes criamos um paradoxo em nossa rotina diaria, podemos até ter feito de tudo, virar os dias do avesso, quebrar ...