quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Hoje entro na noite como quem entra em casa. Atrás de mim deixo aberta a porta escancarada. Adianta-se de mim a sombra fugidia que persigo. Vejo como se dilui na penumbra onde estendo o manto de estrelas gasto dos dias remendado com os sonhos que piso. Antes que me encontrem do tanto que sou meu,  ali me escondo como um animal assustado. Encolho-me com medo que um dia aprendam a ver-me no escuro e me vejam assim …de alma nua…Na minha infância nunca me disseram que no asfalto nasciam garrotes de estrangular a vida! Nunca me disseram que as janelas para a rua, teriam grades e cortinas pesadas, por onde o sol pouco passaria... Ainda me iludi, por instantes, com a maciez do chão desta sala que piso e  com os fatos de casaco e gravata que vi... Mas esta manhã reparei que pisava  penas, na sua suavidade de, em tempos já terem sido  asas…Este ultimo fim de semana a minha Mariana,  perguntou-me porque caíram  as folhas das árvores no nosso quintal…E eu deitei-me ao seu lado  e inventei-lhe um conto, daqueles que fazem o mundo bonito…Cada vez que a olhava, podia ver-me, através dos seus olhos de encanto. Lembrei-me do meu Pai, que tantas vezes se deve ter visto nos meus, quando eu acreditava que o mundo era feito à medida das suas histórias.

2 comentários:

  1. Tão bom viver inocência de criança, pior é quando crescemos percebemos que o mundo não é o que vivemos em criança!! Sempre a escreveres de forma única

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  2. Para mim existem em nós 3 grandes e inigualáveis amigas, intuição, fé e a inocência. O amor platónico ou não correspondido é um castigo que a mente deve sofrer pela inocência do coração. Sem duvida que o que escreve , soa a único genuíno e bastante encantador.

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