quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Hoje se eu pudesse cavalgar os ventos construiria o meu silêncio de granito no fundo da minha alma…Ver-to uma gota de água, cedendo passos  na minha pulsação, tatuo o meu olhar nos céus , nesta estrela, neste silêncio lunar que me banha, dispo-me desta luz que cai oblíqua do céu sem a alcançar, com o fumo do meu cigarro que me coube na sorte das altas horas em que escrevo estas palavras…Assisto ao raiar do dia tantas vezes sem uma única palavra dizer nesta arte inútil de colorir a flor esvaziada pelo tempo! Quero tanto adivinhar as suas cores , expô-la, esconde-la das palavras experimentais de inconsciência nublada pelas brumas poéticas, mas!!! Há valores imperativos, étnicos que desvalorizam a normativa  do livre , é esta revolução interior que contem o orgasmo das palavras…Ficam assim suspensas no âmago dos sentimentos , escondendo a orgia das palavras que em mim levedam, insubordinadas na injustiça débil da “erecção” do amor por viver! Sabem porquê?  Porque palavras são palavras, mas palavras não são coisas, e coisas não são palavras, desmascarar o sentido delas é sim assassinar as coisas….

terça-feira, 26 de setembro de 2017

Hoje acordei despido, nu de palavras, oco mas!!! Depois com o nascer do sol as palavras foram ordenando, ainda que nem um olhar pelo meu se cruzasse. Outrora , entre  letras e músicas, que não sei dançar, eu conseguia vestir-me …Quando palavras se misturaram com o olhar, numa proximidade que nos permita falar,  perdemos as horas a mergulhar nos olhos de outro alguém, o coração acelera. Mesmo sem outro olhar o meu coração acelera, uso as palavras e mesmo sem saber dançar os meus  dedos dançam ... Dançam  sim, atrás das teclas pretas desenhando um  arcos-íris de cor. Hoje descobri, que para além de não saber dançar,  passo dos olhares fugazes, sem palavras, às palavras fortes, sem olhares, é ai que faço dançar as palavras. É nas palavras, simples,  complexas, que nos fazem dançar mesmo que não saibamos  o par dessas danças de eternidade…O amor não nasce para ser simples. Não chega para ser linear. Não nos é colocado na mão para ser moldado consoante o que nos aprouver…Ele vem, muitas vezes de onde não o vê-mos, às vezes de onde nem existia e complica todo um universo dentro de nós. Não é fácil mas vale a pena. Justamente porque é completo e incondicional! Hoje acordei assim pensado que a única maneira de amar, é, com os sentidos do corpo que deseja. Com os sentidos do coração que acelera. Com os sentidos da alma que se funde noutra para estar completa…Mesmo que seja em pensamento e que o medo não as aproxime, a  única maneira de amar é aquela em que o amor, mais do que amor, se transforma em vida. Aquela em que nos esquecemos de como seria o mundo, se a pessoa amada não estivesse ali no nosso coração…Estás ai?

sexta-feira, 22 de setembro de 2017

Muitas vezes aquilo que sentimos é tão envolvente que nem deixa a chuva ou o sol nos tocar ...Por dentro abriga-nos , por fora desgasta-nos deixando-nos encalhar nas nuvens sem porta sem rótulos apáticas, quase mortas pelos punhais  emergidos das ondas convulsas sem fim! Podemos coar o silêncio, sorrir para as estrelas, murmurar na escuridão que os ecos do nosso corpo,  jamais deixarão de caminhar no inventario  das memorias, que o sal acendeu no nosso corpo! Eu já acreditei que podia voar despido  nos canteiros que plantei no teu olhar mas!!! Os orvalhos da noite derramaram a chuva e o clarão do sol nos beijos que um dia selei, são a certeza que podemos ser tão densos como as palavras, como o prazer indeciso na inquietude dos sorrisos que nos despem a defesa do corpo...Eu já vesti as estrelas e lancei sobre a fogueira da vida, a lava de um vulcão, hoje algemo o amor na saudade dos sorrisos  passados e escondo o eco do silêncio no meu olhar...

quinta-feira, 21 de setembro de 2017

Deito-me todos os dias fora de horas, mas sei que adormeço antes, talvez tenha perdido a noção da alternância entre a lucidez e a noite escura!!! Adormeço de olhos abertos sobre a mesa onde os papéis descansam de mim. Assim fico, inerte no olhar da vigília, até despertar das imagens ou dos desejos cada vez mais definidos, escondidos debaixo de algumas letras que repito desconexamente. Mesmo em dias tempestuosos, transpirando sob o frio que gela o gabinete pelo lado de dentro, adormeço nos gestos e nos olhos ainda abertos mas sem noite que os faça descansar. As paredes são iguais todos os dias e eu, de olhos abertos sobre a mesa onde as folhas dos livros me rejeitam a vontade, forço contas de cabeça em volta de parcelas apagadas pelo tempo mas o tempo esse foge-me pelos dedos!!! Deito-me e todos os, de olhos abertos mas sem parar para pensar, dou comigo sem sentidos porque os perdi na busca de razões para que o mundo seja este girar contínuo de interesses que nunca são os que interessam, enquanto as pessoas se batem e se combatem por convicções que as viram de costas umas para as outras. E também se abatem na necessidade de confronto. São poucas as horas do dia e é pouco o tempo para aquilo que verdadeiramente é importante, parecendo que a importância está nos argumentos da afirmação falível. Já são poucos os dias em que não me deito fora de horas, fora de mim, e se o desejo permanece é porque se alimenta desta vontade de passar para além da realidade e negar aos olhos e ao entendimento a aproximação precoce de um precipício . São poucos os dias em que permaneço inteiro. Hoje deito-me muito cedo certamente antes de cair a noite e vou rebuscar as peças para me enformar mais uma vez, colando-me destes pedaços que me compõem !!!

segunda-feira, 18 de setembro de 2017

hoje pergunto-me , qual será a nossa maior fortuna que nos eleva até ao infinito da alma...Podemos caminhar destemidos enquanto os nossos gestos vão desmaiando a cada olhar descalço no partir ...Devíamos ficar assustados como quem perdeu o caminho da sua origem ,  sem rasto a seguir, pintamos na retina o rosto das palavras  divinas que brotam do fermento que se gera no cérebro...Fico assim! Vou sustentando muralhas, com o meu olhar, gestos, horizontes,  neste cais flutuante que me sustem nas águas da bênção gelada da espera onde os fascínios agitam os sonhos dos fantasmas que sobrevoam cada palavra que vou colando neste quadro, onde as sombras  estremecem as asas e concertem o seu voo numa luz que impele os dedos a desaguar as mágoas na nua espera sem acordar...Há um ruído nos nossos passos que despejam os silêncios nas sombras dos  abandonos , asas que planam na desordem de suspiros ofegantes viajam em pêndulos de sexo prisioneiro... O amor ficou como uma hélice de vácuo que enche o cálice das memorias !

sábado, 16 de setembro de 2017

Hoje relembro quando era pequeno, que existiam mulheres que trabalhavam em casa de outros. O termo era , andar aos dias , e isso era fazer de tudo um pouco em casa alheia, numa condição de gente de fora. Desse tempo guardo a estranheza da expressão, a fragilidade dos vínculos e do contínuo vaivém. Quando homem me tornei, resolvi essa estranheza dentro de mim. Compreendi que na vida andamos todos aos dias, ensaiando entradas e saídas, agarrando por dentro e por fora aquilo que podemos, sabemos e sonhamos. Tem dias que são sínteses do que somos. Parecem criados para nos confirmarem e chegamos à noite convictos que as horas, todas as horas do dia, somadas, traduziram a nossa identidade e ao mesmo tempo a nossa fragilidade…É esta que nos faz ser aquilo que somos, únicos e imperfeitos, únicos e ignorantes, únicos e acutilantes, únicos que vivem aos dias!!! Sem forma de traduzir o que o nosso coração sente, pedimos emprestadas as palavras a quem escreveu um dia, aquilo que neste dia experimentamos, condensar em meros suspiros a nossa identidade!!! Hoje dói que as coisas passem, sem marcar as pessoas e é por cada instante que de mim foi vivido que busco um bem definitivo em que as coisas do amor se eternizem para todo o sempre…

quinta-feira, 14 de setembro de 2017

Há uma força qualquer que me atira para o fundo, que não me deixa emergir e expirar demoradamente. Tento perceber o que me agarra os pés e não me deixa ver a claridade de um novo dia, que já deve ter surgido no horizonte. Olho para baixo e uma névoa embriaga a minha visão , vejo de um modo afunilado e isso faz com que a minha razão desista pouco a pouco de lutar contra a falta de oxigénio deste interior de um nada que amedronta os meus movimentos pela vida fora…. Há uma qualquer energia que solidifica os pingos de sentimento do meu coração e me insensibiliza de tal modo que só o negro do vazio estremece enregelado junto ao meu desalento. Há uma dor hemorrágica que não falece, há uma dor, que vagarosamente serpenteia no interior do meu corpo. Os dias nascem em mim mas vejo-me embriagado , obrigado a esconder o sangue que me escorre pelo olhar com o recurso a um sentimento paliativo, que me é concedido pela necessidade imposta de não chorar jamais. E assim vou perdido pelo resignado penar dos dias!!! Mas, não choro porque mais vale aparentar a força do que transparecer uma fraqueza que sempre nos trai porque é verdade. Arrasto-me com um simples olhar por falsos sorrisos e abraços imperfeitos. Dou o nada que é tudo o que tenho para dar e espero que essa força desista de me fazer fraco e me deixe encarar o meu próprio insucesso, sozinho, na sombra vacilante de uma luz no horizonte... Fico expectante na sombra assassina dos sonhos que desenho timidamente em folhas brancas de papel, ergo os olhos aos céus e suplico que essa cesse a sua vocação aniquiladora da minha existência e que, um dia, me deixe emergir e respirar o suspiro de um amor…

quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Hoje, acordei e caminhei descuidado na rua furtiva da ditadura que não desmorona com a revolta... Sigo os passeios da guerra abrupta da desordem embriagada nas revoluções em curso, faço este passeio como um fugitivo, um mendigo, pedinte de tantas juras ! Há rezas  perdidas nas confrarias do desejo, há fome de palavras proibidas, mensagens interditas que os deuses rogaram na revolta do sol que nos incendeia! Fica a vontade democrática da paz, sem direito a fome, sem direito a olhares, neste céu azul inacabado que entra pelo mar…É neste caminho  descuidado, que...Meu Deus,  deixei rasgar as teias dos meus silêncios, vesti-me de uma selva magra, consciente de passos imprecisos …Escondo a rota, resultante da palha seca que queimou e secou os sonhos! Eu não temo pelas curvas da estrada, eu teimo pelo findar da estrada, nunca tive medo de labirintos, devia ter mas !! É no pânico que me acho , é na perversidade das castas que eu loteio o suco que vai dando cor ao rosto que  espelho na revolta, desta guerra onde fiquei , esperando!

domingo, 10 de setembro de 2017

Hoje o meu corpo é apenas mais um, no meio de tantos outros que deambulam por esta camada física a que chamamos mundo. Mas !!! Não me permito a uma entrega leviana e oca de sentimento. Deitar-me com alguém pela mera necessidade física de me satisfazer é completamente diferente de permitir que alguém me dispa com o olhar e me transporte para um outro mundo, esse sim, talvez metafísico, de um nós, e não de um eu, em que a entrega é apenas a tradução física de um amor sentido e consentido... por dois!! se Amar é: “sentimento que induz à aproximação, afeição e Protecção da pessoa pela qual se sente afinidade.” Tal como diz no dicionário. Será assim tão simples? Se o é, porque sofremos e cometemos os atos mais vis e cruéis para com quem sentimos afeição? Porque nos afastamos? Porque infligimos dor e angústia em nome de uma qualquer razão ou um qualquer ideal? A complexidade que acompanha tão mui nobre sentimento é de tal ordem avassaladora que o ser humano não é capaz de uma total compreensão de si mesmo, e por isso age das mais variadíssimas formas nos momentos mais diversificados. Agimos sob a forma de anticorpo quando o dito sentimento se comporta como um vírus em nós. Se ao menos existisse uma forma única de como e quando amar, um guião que nos auxiliasse. Amar é a forma mais egoísta que o ser humano tende em ver realizadas as suas expectativas num alguém que não ele próprio. Projectamos no outro o que tanto precisamos e esquecemos-nos de certificar se o que se encontra projectado em nós exerce perfeita simetria para quem amamos. Ninguém está totalmente preparado para ceder, para perceber se dançamos ao mesmo ritmo; e por isso tropeçamos, pisamos, infligimos dor com a desculpa de que somos desajeitados e que dançar não se nos afigura uma virtude. Amar consome-nos a alma, amar é mais do que um verbo, amar é a perfeita antítese de tranquilidade e controle de nós mesmos, é querer sem poder, é ter sem direito, é saber e descurar, é ouvir e negar, é desejar sem limites, amar surge como desculpa para quebrar todas as regras moralmente feitas pelo homem. O Grande dilema é saber porque razão amar nos doi mais do que nos faz felizes...

quinta-feira, 7 de setembro de 2017

 Hoje adorava pesar verdades, abrigar um olhar a maturar, a crescer a dar fruto e semente para voltar a semear...Adorava descobrir as luas seguras, que fintam as estrelas no reflexo da pintura do  sorriso polar! Cada vez sinto, que é mais raro atirar pedras ao lago adormecido, por muito que nos questionemos, jamais teremos as respostas que nos faltam, os sorrisos sem trevas, o  cortar das searas no entardecer das palavras, a vertigem do sonho a renascer e a espuma das ondas reprimidas que não ousamos surfar... É neste jardim à beira mar plantado onde vacilo entre a luz  e as sombras, entre as verdades e mentiras, entre as danças de corpos e a cama de metáforas que faço, onde me deito espiando aquela estrela, lá bem longe brilhando e tatuando a sua embriaguez no mais puro poema de amor sem corpos…

terça-feira, 5 de setembro de 2017

Hoje sei que os dias foram expulsos do seu tempo e não corrompem nas noites de lua envidraçada de escuro...O tempo perdeu o seu compasso, deixou-se prender à liberdade datada nos finitos sinais da luz no olhar! Deixo-me rodar sobre os risos amargos, reflectidos em espelhos quebrados ...Sinto esse vírus a intoxicar, deixando por terra os sorrisos abertos, neste barro que amasso e de que sou feito tapando-me os poros, deixando-me à deriva  sob os sentidos dormentes que o barro aderiu nos meus segredos!! Hoje se os dias em mim , não tivessem sido expulsos eu moldaria o verão da fantasia , o outono do desejo, o inverno do sossego e a primavera dos sabores nas nuvens de algodão mas!!! Para quê moldar um mundo novo se apenas tenho as minhas mãos para o fazer? Deixo-me ficar inerte de mãos vazias neste cais onde os dias foram expulsos e a lua envidraçou o escuro da noite…

segunda-feira, 4 de setembro de 2017

Hoje, criamos florestas, desenhamos árvores sem idade, criamos a noite nos gestos em vão de procura do tempo em nós perdido, ausente na espera do amanha! A fortaleza em meu torno é uma areia movediça,  um oásis de sede florescente de água derramada nos olhos...Cego de mim, movo o leme do caminho, percorro nevoeiros de ventos parados em sombras sem terra à vista! Procuro arpoar o afluente deste mar navegado, berço de muita gente naufragado. Avisto aves ao longe, intactas de mim, alagam o rio escuro da nudez divina onde o meu destino habita, sussurro mais uma onda, iço a vela, atiço o rastilho da ultima pólvora escuto lobos marinhos, neste horizonte de tristezas que a madrugada de magoas deixou à deriva nas nuvens maturadas de graus inconstantes que ousei pintar na face do luar...fecho mais uma noite nesta aurora que se avizinha  de palavras que o equinócio quis trazer até à minha Janela...

Hoje vos digo que muitas vezes criamos um paradoxo em nossa rotina diaria, podemos até ter feito de tudo, virar os dias do avesso, quebrar ...