sábado, 23 de setembro de 2023
Hoje tive de ligar para a minha infância. Liguei-me, sem telefone, imaginem! Dentro de um sonho do tamanho das minhas mãos, bem diferente dos que já vivi ... Quando a minha infância atendeu, não queria acreditar que lhe estivesse a ligar! Não achou que era possível, nem eu...Achou que devia estar a ligar de um futuro muito longínquo, aliás, por momentos, até pensou que eu lhe pudesse estar a ligar de outro planeta... Logo tentei explicar que não, que se acalmasse , pois estava , vejam, a ligar apenas 40 anos mais tarde. A agitação instalou-se , uma vez que na minha infância queria saber tudo, desse trajeto , como se isso fosse possível de um impulso só. Quis saber se era como imaginávamos, idealizamos em pequenos, já que a única preocupação era saber que personagem nos tornamos 40 anos depois...Como se num instante, fosse possível pensar e fazer acontecer! Como hoje, tentei explicar que podíamos sonhar e começamos, logo, ali a flutuar, mas isso era apenas um passo até viver, e nem sempre o que sonhamos , conseguimos viver... Insatisfeita a minha infância, fingiu não ouvir e passou à frente, perguntando, quantos países visitei, e eu, ali retido, neste ponto da vida, tive de dizer que muito poucos , que se contavam pelos dedos de uma mão, porque a vida não me proporcionou, até agora uma estrada para conhecer mais...Mais uma vez, insatisfeita, a minha infância, voltou a fazer uma nova pergunta, quanto ao amor, o que consegui ostentar até essa idade...Bem , fiquei sem uma resposta pronta, pois essa sabedoria não tem idade. Pela experiência que vamos adquirindo vamos aprendendo com as derrotas, pelo preenchimento que nos chega com um sorriso e pela aprendizagem que fica de uma lágrima vertida. Essa experiência , a da vida, por vezes, faz-nos achar que já temos o conhecimento necessário ou, no mínimo, o conhecimento básico sobre quase todos os assuntos do amor. Achamos sempre que já experienciamos quase tudo e que isso é o suficiente para nos dar a bagagem necessária para não voltarmos a errar da próxima vez., mas há sempre qualquer coisa que nos deita tudo isso por terra. Que nos muda as perguntas e que nos baralha as respostas. As relações humanas hão de ser sempre um dos maiores mistérios da humanidade. Desengane-se quem pensa que é sábio em relação a esse tema. Quem pensa que tudo sabe, arrisca-se, seriamente, a viver para sempre na ignorância. Temos que ser humildes e sábios perante as adversidades , não sou diferente. Também eu acho que já adquiri toda a teoria , porque é que na prática é sempre tudo tão diferente …A minha infância ficou incrédula, era eu do futuro a fazer uma pergunta agora ! A minha infância retorquiu logo que ia ter um relacionamento perfeito e acabaria por ser muito feliz , porque não iria dar tudo de uma vez só ... Petrifiquei! Juro que o meu coração bombeou duas vezes mais rápido naquele momento; juro que o ouvi pulsar mais depressa e juro que aquelas palavras saíram da minha infância para virem bater de frente comigo tal e qual uma colisão frontal. Perguntei então eu , como não dês tudo de ti? Como assim? Como é que passamos metade da vida a formatarmo-nos para encontrar alguém que saiba apreciar, verdadeiramente, tudo o que temos guardado dentro de nós para, agora, nos virem dizer que o segredo é não dar tudo? Fiquei em choque. Afinal o eu também posso dizer que só "sei que nada sei" tinha acabado de ter efeito prático. Aos poucos fui recuperando a respiração e as cores também certamente... devem-me ter voltado a face. Aos poucos, foi como se este choque frontal tivesse servido para um acordar letárgico em que me encontrava talvez desde sempre. Fui compreendendo as palavras as palavras que a minha infância enfatizou…desmistifiquei, há pessoas que gostam de sentir que nos conquistam diariamente, como quem ganha um jogo mas tem o campeonato para ganhar, já outros, apenas dão por adquirida a conquista...Eu hoje tenho 40 anos à frente da minha infância, sempre gostei de me sentir especial na vida de alguém, e de fazer a pessoa sentir-se especial na minha vida, talvez demonstrar tudo , seja um erro, não sei, não consegui aprender, porque ninguém consegue sobreviver , recebendo uma mão cheia de desinteresse ...Não somos mesmo todos iguais, nem mesmo somos iguais na infância ou no futuro, eu continuo a preferir não perder um traço da minha personalidade , dou-me aos outros porque acho que só assim as relações humanas podem vigorar de forma saudável, mesmo que a minha infância me tenha feito esvaziar de mim mesmo , recuso-me a conseguir uma vida cheia de nada, porque eu também sonhei em pequeno, e é o que sonhámos em pequenos que nos fará grandes no futuro que ainda está por vir …
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