segunda-feira, 11 de julho de 2016

Hoje abri as cortinas da cidade, estremeci com a nudez, esta é presença nas ruas acorrentadas. Engulo horas geradas no ventre da noite que amadurecem na encruzilhada do meu nome!!!Espio pela fresta dum frio de extinção, toco o vazio nos dedos hirtos e inflamados pelos rostos densos de raízes, com faróis presos ao silêncio... O espelho é a minha idade , reflecte desejos húmidos em sonhos escondidos, que soam em vozes semeadas nos espaços da sobrevivência. Há traços no meu rosto traços de pensamentos, abarcados à saudade... Há um olhar baço , há vozes que se perderam, um verbo por conjugar no cansaço de quem amou e chorou... Há abraços desabitados, lamentos diluídos… no âmago da existência. Há o canto num peito naufragado em caminhos divergentes…Desafio as sombras no silêncio de mais uma noite em versos nos meus dedos que se diluem no tempo... Completo-me numa imagem!!! Sinto o ontem, o hoje e expressões sem rosto de um amanhã...Abre-se uma imprecisa fenda e no sóbrio fulgor desta vida é o mar que me abraça...
Embriagado em meus sentidos surge uma presença a me envolver, que vai dominando meus pensamentos...Nesta brisa aconchegante do amanhecer! Ela toca-me a minha alma...Acaricia a profundidade de todo meu ser num sopro de amor que me acalma e perfuma o jardim do meu espaço. Cerro os olhos e começo a reviver o seu sorriso e suas palavras de sedução que me olham como um anjo que adentrou meu coração. Adormeço fora do sonho ... Mas!!Acordo...Sento-me numa Rocha da falésia junto ao mar e escuto os seus mitos na sua imensa solidão, e ali fico...
Rasgo o infinito em mim nas meras palavras escritas derramando lágrimas que caem sem fim ao som das palavras não ditas. E nesse mergulho de versos que a saudade vai ecoando, revestida de sonhos dispersos murmurados de amor e verdade... Esta tristeza muitas vezes é aflorada com um turbilhão de sensações em tons de poesia que me revestem de emoções. Escrevo e transformo em letras meu sentimento que grita o silencio em minha mão traçando nestas folhas do esquecimento e o descompasso do meu coração. Um dia talvez possa compreender o quanto tentei alcançar... Um dia vou acordar de um sonho apagado, cheio de dores tatuadas em mim e ai, olharei as nuvens e verei o meu semblante desenhado...
A vida é muito estranha e quando esta nos priva de de realizar, a nossa mente vagueia pelo mundo dos sonhos pois é lá que encontra algum consolo que apazigua a alma!!! Quando os lábios do outro não nos podem tocar, quando o toque do corpo não nos pode alcançar, o prazer entranha-se no nosso corpo aprisionado pelo tempo... É esse corpo que nos pede mais e esse tempo que nos dá menos!! Sabem, o amor outrora fora meu e o tempo ousou roubar de mim. Para "longe" o levou e colocou reticências a um romance que não passou de um sonho e do papel...Não sei viver sem "muito" por isso lanço sonhos para o alto e monto uma escada para subir até eles Mas !! Sempre que tentei subir , a escada se mexia e me derrubava a meio, por isso subir sem alcançar o esplendor é muito duro e cansativo ...Entre palavras que escrevo e outras que nunca partilhei digo que este tempo todo continuei a subir as escadas que deveriam ser subidas a dois ...decidi partir, sim é verdade pois as escadas apenas me levavam a tombos... Sempre só uma vez que nem uma mão tive para me erguer ...Mas eu sei sonhar não custa nada mas é as palavras, quem tem o poder em mim por isso acabo por referenciar um pensamento de Gabriel Garcia Marques que é sem duvida o meu ídolo " É necessário abrir os olhos e perceber que as coisas boas estão dentro de nós , onde os sentimentos não precisam de motivos nem de desejos de razão. O importante é aproveitar o momento e aprender sua duração, pois a vida está nos olhos de quem sabe ver" Moral da historia a vida é uma sucessão continua de oportunidades!!
O silêncio é quase uma embalagem , imensa onde cabem e ressoam todas as palavras mas há que senti-las com cuidado ...Existem palavras redondas e macias , palavras que iluminam a boca de doçura e amor contrapondo com as palavras ardentes que nos matam os sonhos e estas é sempre melhor deixa-las habitar no fundo da caixa do mundo!!! dentro do Silêncio há palavras iluminadas que mergulham no oceano dos sentidos , adormecem-nos nesse oceano de solidão que arrebata a alma por isso escrevo!!! Escrevo para quebrar a solidão do dia, que vive abraçada a este mar de estrelas que entra na janela do meu olhar...Escrevo sem rimas , apenas escrevo em busca da alma, nos devaneios nocturnos de sentidos loucos. Escrevo e coloco as palavras numa embalagem que chamo pensamento ...Derramo-as nas águas à própria sorte neste rio de solidão!!!Com isto não quero ferir a sedução das palavras , nem tão pouco , arruinar os vestígios e ecos que se soltam ao vento traçando a linha infinita como caminho até à foz do meu olhar...
O melhor do abraço não é a ideia dos braços provocarem o encontro dos corpos. O melhor do abraço é a subtileza dele, a mística dele... A poesia do toque , o segredo de literalmente aproximar um coração do outro para conversarem no silêncio que dá descanso à palavra. O verdadeiro abraço é o silêncio onde tudo é dito sem que nenhuma letra precise se juntar à outra.O sentimento do abraço reside no charme de fazer com que a eternidade caiba em segundos, na mágica de possibilitar que duas pessoas visitem o céu no mesmo instante ...Um dia gostava de ter a idade destas pedras que o mar acaricia e abraça com língua salgada. Por muito que diga que não , acho que adoro quando o horizonte corrompido pelo fascínio da minha sombra suplica apenas um abraço!!!

quarta-feira, 6 de julho de 2016

Quem és tu…Que deixas o nome nos meus sonhos e o teu perfume a transpirar na minha pele? Hoje a minha boca traçou um trilho de palavras gemidas dizendo que sou teu sem nunca o ter sido...Quem és tu… Que me estende uma mão inquieta...Um coração… uma casa aberta… que os meus dedos invadem, até ao fundo dos sentidos…E sem medo chego ao fim para voltar ao principio, decorando o que já sei, e é sempre nova a leitura da pele… Quem és tu …que não escreve; sussurra…Que não fala; murmura…Que descreve em palavras secretas que não fecha a porta, retém-na aberta para a entrada triunfal do desassossego de passos desconexos, gestos perdidos em olhares e sentires de um poema ainda não escrito!!!?Quem és tu… Que soltas a mão e crias traços sem rumo no meu corpo…Dormes sobre o cansaço embalado pelo momento breve da esperança...Divides comigo os intervalos da vida. depois partes como qualquer ave de Verão....

domingo, 3 de julho de 2016

Hoje sei que nascemos na paragem entre o que nos transporta e o que é transportado... Entre a miragem do que inicia a dor e a dor do acabado...Nascemos na margem da vida... Nascemos na paragem do futuro incerto onde os minutos contados fazem o tempo...Nascemos na paragem ou à margem de um mar? O nosso nascimento vai do ser ao saber e do ter ao guardar... A nossa vida é um barco à vela, que não sabe navegar...Ficamos ali na margem desses mar onde tudo se há-de passar!!! Na margem, vemos crianças sentadas na paragem logo depois de nascerem, vê-se adultos já cansados acabados de nascer, vê-se um filme colorido que a preto e branco se viu passar...Na margem desta vida escrevo um livro, na margem, dizem que se ama muito mas nunca ninguém sentiu o abstrato do amor...Nascemos todos na margem e um dia acabamos por lá ficar numa tarde  esperando o luar para quem sabe nos reinventar-mos...

sábado, 2 de julho de 2016

Ah!, como seria bom escrever um verso de amor interactivo que me permitisse rabiscar sobre um corpo sublime, com minhas mãos desmaiadas trémulas e soltas, por vezes firmes, mas sempre suaves, a percorrer os relevos, das margens, dos recantos, que promovem e excitam as pétalas do desejo...Ah!! como era bom que uma boca tocasse a minha nesta janela virada para o céu, e viesse calar meus suspiros, ávidos do calor delicioso do labirinto do fogo genital, esse amor, deslizaria a minha boca sobre a sua pele macia para cobrir de beijos molhados cada pedacinho sem véu!!! Tirar a roupa do corpo é uma tarefa fácil para o ser humano!!! Deixar a alma nua é para poucos …
A mim não me basta apenas ser o corpo que me pertence... Não basta querer algo sem pensar, não basta ser a alma e o coração não me basta amar... Se a vida fosse só uma forma de morrer, se a morte fosse tudo o que temos a receber , se nos bastasse o que sentimos, não nos poriam onde sei que estou...Há dias que começam no final e outros que terminam no principio!!! Há conversas que nunca foram tidas, saudades que nunca foram vividas ...Há uma lua no solstício de Verão, um sol que não pára de chover , há um beijo que nunca vou esquecer, nem deixar de sentir a urgência de saber o que é real ...Se me bastasse eu ser o que sou, se me bastasse ter o que não tenho, se me bastasse simplesmente amar, eu certamente seria a medida de alguém...tentei nomear esta dor mas não a consigo decifrar, já que podemos ser na vida uma muralha , pedra, betão mas um dia seremos apenas uma brisa no rosto de alguém...

sexta-feira, 1 de julho de 2016

Acaba-se a inspiração quando se esgota os sentidos!!! Parece um sintoma de uma vida em transformação!!! Gastam-se todos os suspiros de uma só vez, por não se ter mais nada a observar no futuro longe. É a vida que funciona a priori, intensa, até que nos expõe. Somos máquinas de colher solidão como aquelas que se usam para desbastar os campos!!!Deitado nas nuvens, vejo o homem que há em mim, dilui-se como água da chuva em terreno árido. Finda-se a ideia, em mim, de uma apnéia em seco !! O que aqui há dentro destas palavras não é leitura de se abrir os olhos, nem leitura de fechá-los à noite. Não é tortura de alimentar o ódio, nem saúde de curar os vícios. O que há dentro das minhas palavras , não é capricho de um corpo afoito nem sossego de um talento lírico. Não é rabisco de um papel marcado, nem um evento narrado em vida. O que há dentro das palavras não é sólido, nem líquido, nem gasoso, nem frutífero. Não é definido por sua natureza de estado, nem supostamente um estado de espírito. O que aqui escrevo é o que há em qualquer espaço, mas não é coisa química, nem mundo físico. O que há dentro das minhas palavras não é a métrica do quadrado, nem a convergência de um círculo. o que transpiro aqui são palavras inteiramente densas que de mim ver-to!
A vida é tão ritmada, que podemos escutar o som da nossa alma e sentir o pulsar do coração nas nossas veias. Na nossa infância, o som da alma era tão leve que parecia o mais belo e perfeito entardecer, era lindo ouvir bater um coração, tão inocente, e ao mesmo tempo tão poderoso, capaz de derrubar ou transpor qualquer adversidade, apenas com um olhar arrebatador. Logo veio a esperada,e tão sonhada adolescência,que por muitos nós foi desejada e por muitos odiada!! Não dava para decifrar se essa alma sorria, gritava, sonhava ou chorava , era uma mistura tão emocionante, até que chegasse o seu verdadeiro propósito, ou digamos, viver ou escrever a canção esperada!!! Hoje o nosso peito queima de ansiedade,de preocupação e de todos os sentimentos,que nos causam rejeição a uma vida adulta, e completamente transformada... E como todos os ritmos tem uma canção, e toda canção tem uma letra, a vida aproxima-nos disso, após viver e sentir todos os ritmos da alma ... Chegamos á conclusão que voltamos a escutar apenas o som da nossa alma, pois ela doma suas fantásticas utopias com chicotadas de embriaguez, onde não há pão nem poesia!Apenas há lâminas do palavreado em pequenos arrepios...

Hoje vos digo que muitas vezes criamos um paradoxo em nossa rotina diaria, podemos até ter feito de tudo, virar os dias do avesso, quebrar ...