sexta-feira, 5 de maio de 2017

Hoje tentaram pintar-me  o olhar em retrato ... Esse retrato frio e pálido, de preto e cinza sobre branco amarelecido pelos anos, no qual me olho  com o tempo que não soube esbater. Pintei a carvão, os olhos negros, os sorrisos cinzentos, os rostos com tons de palidez eterna. Julgaram-me sem me ver!!! São apenas loucos para julgar que olhavam para mim e captavam a alma nesses tons forçados… Traíram-me tanto quanto a arte consegue trair alguém. Foi insensatez, essa linha certa e perfeita que nos traçou os bustos, pois jamais serei apenas um retrato a carvão! Há vestidos a vermelho, rostos de uma pele clara  levemente marcados pelo sol e pela idade, eu lembro-me bem, que a vida não tem cor se os nossos olhos não forem sérios honestos para reflectir apenas a cor que cada um reluz . Os nossos olhares, podem ser verdes, roxos, amarelos e cor-de-rosa…Ter a cor do vento, a cor do céu, a cor do mar, a cor da eternidade de um amor de sangue. Sabem , todas as cores do arco-íris, se podem ver ! As que não se vêem são aquelas que escondemos nos nossos baús , são as que envolvemos em mistérios  que só nós víamos… Podem até tentar pintar a carvão a minha  morte…Mas!!! Esse dia em que as estrelas se apagarem e os pássaros não puderem cantar, o Outono ficará gélido, como o Inverno, e o tempo perde o seu fundo onde as memórias são apenas papeis amarrotados sem nenhum conteúdo...Sei de cor todas as angústias, e pesadelos mais profundos. Eu sou o silêncio, aquele que pacientemente, escuta, que não interrompe a lamuria e deixa que conduzam as palavras para os lugares certos, fazendo da  oração uma prece que  prova  devoção. Sei que há pessoas que sempre viveram na luz, mas hoje escondem-se nas sombras porque temem demasiado o brilho,  temem não ser de todo entendidos,  porque afinal, são alma e corpo, são diferentes de todos os demais , que apenas são humanas como eu…Hoje pintaram-me um retrato que ficou na parede branca do meu quarto, este ultimo reduto onde cada palavra dita quebra o ar e agita a energia que sustem a  minha raiz, nesta intimidade do meu silêncio onde abraço barcos abandonados no cais da eternidade

1 comentário:

  1. Olá Paulo, muitas vezes aparecem seres do nada que nos pintam de cores que não temos nem nunca tivemos , chamo a isso passageiros do vazio, pessoas que nada tem para dar aos outros a não ser, apropriarem-se de coisas que não são deles.
    Há sem duvida seres que vivem na luz por nunca terem sido confrontados com dificuldades , mas isso não os faz nem mais nem menos que nós...Abraça o teu silencio esse te acolhera sempre e te vai projectar para um caminho sábio e de cumplicidade. Beijo paulo mais um texto magnifico , ímpar que me amarra no teu cais a todo instante .

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