sexta-feira, 30 de agosto de 2024

Hoje nem tempo tive para me sentar na quimera do tempo mas, ainda assim!! Olhei a rua vazia de emoções, através da vidraça embaciada da minha janela, de onde posso ver o mundo, pequeno mundo que me cerca…Senti o frio da tarde acinzentada que me invadiu o sentir deixando-me desconfortável pensativo! Serenamente fecho os olhos e imagino ao som desta brisa turva na fascinante dança da natureza que entrelaça os ramos como se de magia se tratasse nas árvores no crepúsculo da tarde que se agita em meu ser feito coreografia … Parece um tango, quando os ramos se juntam neste sentir, rodopiando silenciosamente ! Que final de tarde este, onde os telefones não param mas!! Ouso ignora-los focando-me apenas nesta sonoridade fantástica que se desenlaça como um frenesim que me encanta… Abro os olhos e a noite começa a cair ininterruptamente e me faz retornar à realidade que nem o sonho me pode fazer ignorar, despertando deste momento que vivi sozinho no encalço da minha janela cuja vidraça está apenas mais embaciada… Olho para as minhas mãos...E não sei o que têm para contar...Estiveram tanto tempo esquecidas que têm medo de falar...Se ao menos existissem outras mãos...

segunda-feira, 26 de agosto de 2024

Hoje neste ínfimo lugar apenas reconhecemos, as distâncias implacáveis, os corpos e o cansaço, a estranheza que se entranha até só o escuro poder transmitir-nos alguma calma...As vezes gostaríamos de esquecer sentidos, e outros tantos que fizemos da noite um hábito imperioso...Servindo-nos de um foco de luz para ir soletrando, provando o espaço como quem bebe goles de vida! Antes tínhamos o perdão dos substantivos, a textura e os tumultos de impressões raras, nomes intrusos, e a resina de umas poucas imagens, hoje raspamos o pó que sobrou, para escrever a letra de uma canção, como se a ferrugem dos tempos, fosse uma espécie aguardando algo mais de outra, e é ai, que damos pela falta do mundo, ainda que o não saibamos explicar! A dor ensina a encher um copo de cada vez, e a bebê-lo como quem toca um instrumento, e depois tombamos melodiosos por aí... sem ter onde cair! Existem mundos, dizem-se povoados por choros de culturas antigas que depois do medo ascendiam ao fogo que se fazia crescer entre as mãos e seus reflexos na mais terna Doçura inconsciente dos objetos que se tornam selvagens pelo uso que lhe damos... Por iso eu peço o tédio para alcançar a simplecidade e esta que me faz estremecer perante mim mesmo e nenhum espelho ousa copiar! Que copie as cicatrizes, mas jamais a simplicidade do ser que bebe rastos de lua nas lascas do mármore restintuindo a luz secreta à vida...Tudo se converte na dureza do osso, eu igualmente me converto, em cada passo que atravesso na noite ferida por mil vozes recordando cançoes de água salgada, perdão a todos, por não conseguir sonhar, por não conseguir dobrar o joelhos diante do altar da vida, e percorrer as cavernas ocultas do meu coração! É clandestino o destino, destinou-me a esse lugar, onde as flores não têm nome, nas mãos das palavras ocultas, a tactear lágrimas no silêncio, no secreto mistério da eternidade. Hoje peço que se semeiem estrelas no areal para que o tempo não morra, a cada segundo de ausência. Que se sacie a sede, na água salgada e na ondelação das marés... A terra tremeu e o sol e a lua entrelaçaram os seus fios de luz, na teia dos sentidos, ficou o cheiro a vinho maduro, do mosto do meu meu corpo efervescente, que se tenta agarrar a palavras pela vida! Um dia virá, em que as palavras serão palpáveis, e os sonhos terão contornos definidos... Nesse dia o tempo irá parar, e eu, diluir-me-ei nas cores que sei de cor, e ai também eu farei parte do infinito...

quinta-feira, 22 de agosto de 2024

Hoje devo ter batido já um deserto inteiro, à máquina, cada grão uma sílaba, e não vejo o fim disto, nenhum eco me trouxe o que buscava, e, hoje seria uma ofensa se alguém o tentasse trazer! Tenho cinquenta, os pulmões cheios de musgo. Quem nos lê, vê-nos por aí entregues, aos restos mortais do impossível, a minoria de que fazemos parte, tu e eu e uns poucos mais, esforçando o ritmo, para atingir o âmago, tentando fazer saltar, o reverso da vida. Mas!! Para quê? Seguimos para o funeral de outro de nós, alguém que puxou a sua rede um pouco mais cedo...Hoje sinjo-me a lavar a loiça, os pratos estão alinhados, é apenas um! Sentido de ordem que antes levava alguns a viver de roda de um soneto, fico aqui no alpendre, enquanto acendo um cigarro e o deixo nos lábios do tempo, ardendo a sós, apreciando a colecção de garrafas, com as suas diferentes medidas como se fossem vasos com um pouco de terra e mais nada... Recordo, gestos vivos, perfis genuinos intactos, após três dias de terror, diante dessa esquiva graça, e se uns se desgraçam perseguindo formas, outros perderam o juízo entre murmúrios, parecem alimentar-se de sons, devorando as intimidades do idioma. Talvez isto possa ser o suficiente, mas!! Pelo pátio espalha-se a poeira, mal se escutam as passadas ofegantes, pouca coisa tem a dizer-nos este tempo, as grandes lições os triunfos a sabedoria que mais nos comove os sussurros da seda, as melhores vozes tudo o que vibrou e deu gosto aos dias está por aí enterrado, nos textos, e os amantes colhem toda a exuberância... No passado, os mais tumultuosos reflexos, ecos de flores, dos corpos, dão-se sacudindo o ouro, para que se possa de novo, respirar, para que os milénios passem por nós e nos ofereçam o seu abalo... Se somos velhos, essa paixão do que se respirou sobre a terra é o que fala ainda por nós! Hoje digo, se não fosse a compaixão que nos arrasta para dentro da terra e os devolve ao pó, se ela não se ocupasse nós, o que seria dos incapazes de obras ou de um sincero sorriso? Apenas restariam por aí, esquecidos de si próprios, sem esse gesto que afinal é doce e compreensivo! É essa a última dignidade, que alimenta a necessidade da recordação, libertando música que leva os fantasmas que ainda nos falam, perguntando pelos gestos de que vivemos suspensos, essa trama íntima sacudida assim é tudo o quanto ela nos tira, é disso precisamente que o ser humano num tempo tão desolado como este, deseja para erguer a sua árvore! A luz não nos obedece! É difícil segurar-nos e persistir, tão à flor de nervos desarmados, saber de nós nesta língua de farrapos, a rebentar de ecos, roncos, entre tantos remoinhos, regressos a outras idades, as misturas, e os estragos que isso faz num homem, a consciência zunindo com um gosto a tempestade, e mesmo desconfiando da própria respiração, vemos o que nos resta com toda a força, as evidências extraordinárias do que se abate contra nós, e se escrevemos é na ânsia de dar ordens ao tempo, humedecer-lhe os lábios, para deslizar entre essas formas leves esse modo de evadir-se, que deixa aos versos aquele tremor das grandes verdades...

domingo, 11 de agosto de 2024

Hoje pairei no vento, enquanto este elevava as folhas na promessa do final do veráo, não sei se o céu estava desprevenido na face da sua ausência, mas, confio na estação vindoura, como o arial, fosse um mapa, exposto na sua fina fragilidade do relevo imposto. Visto a armadura preparada para os contratempos, sei que as lágrimas são apenas a tatuagem da angústia que emerge na pele nos dias sombrios, sei que os ofícios que me destratam não pedem favor, mas também sei onde está o refúgio em mim, nessa bússola que levanta o olhar para a paisagem oceânica onde são inventariadas as nossas vivencias. Eu há muito que descobri que a pele contrariada é apenas um peso medido pelos sobressaltos, como uma mão que ergue a meio da tempestade e a concilia… Sinto-me como um corpo que se mete no estuário deste rio, sem medo da maré-viva. Sou apenas mais um lugar da vida , mapeado de cicatrizes, que se reagrupa como moléculas que compõem os palcos de outrora onde um tempo se jogou. Mas , esse tempo está fora do jogo. Agora, sou eu que estou fora do tempo. Congeminando à minha intemporalidade. Sei que posso sair das fronteiras do tempo e procurar-me em qualquer mapa de vida, é como se tivesse descoberto a porta do tempo que me fornece múltiplas possibilidades de ser apenas eu. Não me escondo atrás de biombos que diminuem a minha estatura. Não fujo do que sou. A minha estatura é a dos mares todos juntos. Jogo as marés no propósito da minha viabilidade, não no propósito da minha visibilidade . Sinto que sou mais do que o corpo que o espelho mostra. Não preciso de paradeiro ,sou um mapa que se reinventa. Todos os dias.

quarta-feira, 31 de julho de 2024

Hoje os nossos rostos surgem nos mais frágeis reflexos, como eles os recortam, não fazendo ideia do que somos apenas do que parecemos...As nossas vibrações são desmentidas pelos outros, tócam-nos de um modo que nem nos impela a sonhar! Somos como unma luz que não se deixa prender, com a alma que se cala, tornando-se indeferente ada noite que sobrevivemos, enchemos um copo entre os restos desse enorme dia que se tornou a mais estranha das viagem, onde uma e outra onda ainda nos revira, sacode, e o mar obriga-nos a beber esse gole glacial enquanto juntos levantamos a rede num mudo entendimento diante da vida e desse sol macio no esforço de ler a última linha que escrevemos! É tão pouco o tempo que temos, talvez por isso saiba a grogue, a bebida dos condenados, levamos um gole o mais longe que podemos, imaginando como seria bom provar ainda alguma outra coisa, um travo que abalasse a existência, de tal modo que a memória nos servisse de alimento como uma eternidade dilatando os poucos dias vindouros...Gostava de poder despedir-me do sentindo e a realidade coincidir uma última vez comigo mesmo, as árvores a respiração a gravidade em esses sítios assombrados, onde os anjos deixam nas paredes sonhos ...Há tantos gritos que se engole ao longo de uma vida tudo parece alheado, e então às vezes olhas para cima e o céu nocturno deixa-te a sensação de que todo esse brilho toda essa dispersão talvez seja uma lembrança, que se espalha após a queda de um anjo ! Toda essa luz capturada, esses ecos sem saída, e de algum modo é possível que seja este o efeito pretendido, olhar o mundo e a própria infância como uma civilização perdida, e que talvez só por isso nos cause uma tão grande comoção e saudade. Hoje pergunto-me porque nunca ninguém teve o cuidado de juntar todo o pó que já fomos, houvesse tempo, e certamente que as mãos resistiriam na berma dos sentidos entre o vazio e a dispersão da memória! Todos vão perdendo a capacidade de segurar a conrrente ou a luz dos gestos vagos com que um dia nos apropriámos da vida, sobre o reflexo dos astros nas águas...Ficamos fracos para o ritmo e para as visões que nos davam a posse momentânea e o gozo deste mundo. Hoje o absurdo prevalece, o idioma mal se toca, ou roça à sensíbilidade da matéria, e chegam a passar-se anos sem que uma só frase venha respirar à superfície, tome parte desse rumor que se ouve à flor dos caminhos... Parece confuso mas!!!Resta-nos abrir fossos, salgar o chão dizer pouco, o mais breve rasto, e pôr tudo num resto, fazer a guerra num detalhe, assim achamos os venenos mais íntimos dos homens, as sombras distraem-se em outras latitudes, mas deste lado tudo parece quebrado, frio. Se outros lavam a boca, nós preferimo-las sujas, o gosto revoltante de um beijo e assim voltamos ao embalo e à espuma dos dias que nos querem,cerveja, mar, essa canção que trazemos dentro como ossos e sangue, buscando o infinito na carne. É um modo de dizer, de o repetir de rasgar os últimos sinais e decorar a ausência, dispor os versos como ruínas e poeira junto dessas plantas secas firmando a névoa, e de invocar o desejo quando este se tornou a mais rara e a mais perturbadora das distâncias...

sábado, 20 de julho de 2024

Hoje não tenho palavras sábias se procurais essas palavras, esta não é a melhor porta para bater porém, o mundo está repleto de homens sábios de sentidos virtuosos que, certamente, vos dirão as palavras que os vossos corações doces e generosos, tanto procuram e anseiam! Estou a ficar cansado, serio! Não dos débitos e créditos, mas das alíneas dos números, dos artigos e leis dos decretos-leis, produzidos por juristas que tudo sabem... Mas hoje as circulares e dos ofícios-circulados, através dos quais os directores e patronato, debitam para o vulgar o que se deve entender que entenderam, repito, estes pensadores sem estatudo cansam-me... Mas,não me considero um mero funcionario triste, porque a um funcionário não se pede nem se paga para ser triste...Um funcionário é um funcionário, despido de adjectivos, como diriam os proclamados Juristas da palavra, a leitura e a mensagem das alíneas dos números nos artigos das leis e nos decretos-leis que regem os funcionarios absorvem e ocupam um espaço desmesurado na mente de todo e qualquer executante ...Objectivamente, sou um funcionário cansado e estranho que só agora me ocorra este cansaço, quando passei tantos dias, anos a atualizar-me, mas hoje arranjei coragem para mandar às malvas as alíneas dos números nos artigos das leis e nos decretos-leis e ir com as aves para bem longe! Pois é meus amigos, é assim o tempo tudo devora no seu fluir incessante. Muda o mundo em cada hora, e a verdade em cada instante. Passam as horas, vão os dias, vão os meses vão os anos, e breves são as alegrias, pois os desenganos são tantos...Tenho resistido bravamente à vontade que tenho de falar, de escrever. Guardo uma caixa de rascunhos, cheia de Msgs escritas e não enviadas, como se ao escrever, eu pudesse exorcizar todas as situações, que me açoitam a alma e o coração, a minha pele, a minha boca, fecha-se e quarda todos os sentidos, teima em guardar os pensamentos com suavidade que outrora moraram em mim...! Como podem imagens vividas e pensadas nos assombrar assim? O vazio chega a ser avassalador. Ainda me perco nesta vontade quase constante de me abrir, de partilhar aquelas coisas pequeninas que nos habituamos a guardar só para nós! intermináveis pensamentos que nos correm no olhar do acordar ao som do silêncio da noite... Sinto saudades, claro que sinto saudades de descortinar um mundo encantado, diria que quase irreal, que muitas vezes nos propomos viver quando somos sonhadores! Mas o mundo é tão real em suas cobranças, em nos moldar ao seu jeito, em nos mostrar que sonhos são apenas sonhos... Talvez só ai vejamos que talvez tenhamos exagerado no nosso sonhar... Os sonhos na vida ficam na esmagadora maioria das vezes na gaveta, como que na esperança um caminho melhor por isso, me invade uma sensação estranha, que, me aterroriza o silêncio que fica em vez de ousarmos enfrentar os virtuosos pensadores das verdades nos ditos decretos leis que de tudo falam esquecendo o sonho de um ser...Rendido ao cansaço, por vezes sinto que essas lembranças, de momentos menos bons acabam como neblina no cálido calor do sol da manha, invadindo-nos como uma avalanche, que nada deixa pela frente, fazendo-nos frágeis, soterrados sob situações que vivemos e do quão pouco que restou desses sonhos que um dia sonhamos...

quinta-feira, 11 de julho de 2024

Hoje ressalvo que o Amor é, bem mais velho que o mundo, porque, é fascinação, tempo sem tempo, já que amor é, o sol que sempre regressa à sua fonte de origem e contempla o outro com os olhos do coração...Hoje sonho pela alvorada fora, nessa sede de absoluto abandono, mesmo que os dias sejam sempre azuis e a felicidade corra nos corredores da mente! Teço muitas palavras, deixo-as solitárias sem memória, assim nenhuma me interroga nas minhas lágrimas, onde há sempre uma ou outra que se afoga... Deixo-as sós ante o vazio, ignoradas, entre pensamentos azedos, fechadas, numa ânsia rendida de medos, sussurrando na solidão, sem que possam encontrar refugio numa outra paixão... Respeito-as muito mas!! Não procurem piedade em mim! Não ousem decifrar sem mim o tempo que a alma demora a se instalar...Deixem-me o caminho percorrer, nos tons aveludados que os versos abandonados tecem a cada passada! Haverá rasto de meus passos sempre, que é todo o consolo que guardo, de cada palavra, nua, lançada nas expressões que as atitudes não colheram...Ninguém consegue descobrir, desbravar novos oceanos se não tiver a coragem de perder de vista a costa! As grandes transformações acontecem quando ousamos atravesar o fogo, eu sei que é proibido; rir dos problemas, náo lutar pelo que se quer, abandonar tudo por medo, não transformar sonhos em realidade, não demonstrar amor, fazer com que alguém pague por tuas dúvidas e mau-humor, deixar os amigos, não tentar compreender o que já se partilhou com eles, Chamá-los somente quando necessita deles, não sermos nós mesmos diante das outras pessoas, fingir que elas não te importam, ser gentil só para que se lembrem de ti, esquecer aqueles que gostam de ti..Mas!!! Há tanta coisa proibida na nossa sociedade, há um nivel de exigencia absurdo em relação à vida, queremos que absolutamente tudo dê certo, e às vezes, por aborrecimentos mínimos, somos capazes de passar um dia inteiro de cara amarrada na perpeblicidade !Vou dar um exemplo, trivial, que acontece todo dia na vida de todo o comum mortal..Quando um vizinho estaciona o carro muito encostado ao vosso, em vez de simplesmente entrarmos pela outra porta, ou, sair com o carro e tratar da nossa vida, bufamos, praguejamos, esperneamos e assim acabamos por desgastarnos mais no resto do nosso dia.Será que me fiz entender? só nos acontece a nós ou aos nossos amigos também acontece? Mas, eles parecem felizes, será que nada dá errado na vida eles? Pois é dá aos montes, só que, para eles, entrar pela porta do lado, uma vez ou outra, não faz a menor diferença...Que audácia é contrariá-los em toda a dversidade que a vida nos coloca...Talvez a porta do lado seja, uma boa entrada ou uma boa saída...

sábado, 6 de julho de 2024

Hoje o dia nasceu cheio de sombras, por vezes somos obrigados a pintar-lhe cores , as nossas cores, aquelas que passeiam sorrisos, fantasias onde despejamos as cores dos frutos verdes, com aromas de mar e calor de areia nos pés. Eu vou deixando as minhas pegadas presas na areia da praia, obrigando-me a flutuar sobre o caminho. Mesmo que vá metamorfoseando as palavras que cada vez mais se tornam mudas! As sombras imperam neste amanhecer, vem do ventilar da noite escura sem estrelas, neste enlace que nos doma e torna cada vez mais calmos, desertando o incerto em utopias que construímos em nós…Tenho o sorriso incógnito, porque retribuo tudo em sonhos que as brisas nos levam a baloiçar nas noites de vigília! Quando tudo na vida parece desmorona-se, sem aparente hipótese de salvação, eu fico em meditação, agradecendo interiormente a celebração da razão na suavidade dos gestos… Hoje, aquieto-me embevecido aqui neste recanto do jardim dos pensamentos, pudera eu segurar o tempo na palma das mãos! A paz desceria sobre a terra, deixando tudo no seu lugar, no lugar certo... Não existe diferença entre as pétalas das flores, e os espinhos dos catos, que no canteiro da vida se entrelaçam com a mesma beleza! Nos momentos assim, talvez os sonhos até sejam objectos que possam ser tocados...Tivesse eu escrito pela manhã, bem cedo, e apenas saberia falar do vazio crescente, que este dia cheio de smonbras embola no peito, e, nos torna o corpo e a alma mais frágeis, ao ponto de nos emocionar, com tudo, e por nada...Ás vezes surge um soluçavar dentro de mim, a caminho de um rio de margens magoadas pelas ilusões, que ficaram presas na esquina da vida entre paredes, iluminando-nos com uma luz ténue, que espelham tantas coisas misteriosas, da própria vida, e da alma insondável pelo mundo. cada sonho é um misterio, se a vida não tivesse mistérios, tudo se tornaria demasiado previsível, e, os dias seriam o rosto do próprio tédio... E eu a única coisa que quero de previsível, em todos os dias da minha vida, é o som de cada passo que exerço ao alimentar o coração e a alma, que me desfragmenta a monotonia da existência, que por vezes se instala de uma forma clandestina como o destino! Sou perito em mastigar o silêncio de suco amargo que, como coágulos de sangue vermelho gritante, circulam pelas artérias rasgando a escala de décibeis avuledados! Gosto deste lugar onde as flores não tem nome, gosto de colocar as mãos nas palavras ocultas tenteando o silêncio no mistério da eternidade ...Gosto das estrelas semeadas pelo areal e que a sua sede , seja saceada com a água salgada na mansidão das marés, deixando a lua entrelaçar os seus focos de luz como uma teia de sentidos! Hoje sinto o cheiro deste vinho maduro que o mosto do meu corpo efervescente derrama pela vida...Um dia , todas as palavras serão palpáveis e cada sonho terá o seu contorno defenido, e, só nesse tempo o dia irá raiar diluindo as cores que sei bem de cor, como as estradas do infinitio...

segunda-feira, 17 de junho de 2024

Hoje vivemos mil vezes em apenas uma vida, lutamos por causas perdidas muitas vezes sem sair vencedores. Viver é estar antes do ontem e depois do amanhã, é desconhecer a palavra recompensa apesar dos seus atos...É caminhar na dúvida cheios de certezas, é correr atrás das nuvens num dia de sol, é alcançar o sol num dia de chuva, é chorar de alegria e muitas vezes, sorrir com tristeza. É e será sempre acreditar quando ninguém mais acredita, é cancelar sonhos em prol de terceiros, é esperar quando ninguém mais espera, é identificar um sorriso triste e uma lágrima forjada! viver por vezes é ser enganado, e sempre dar mais uma chance, é cair no fundo do poço, e emergir sem ajuda, é estar em mil lugares de uma só vez, é fazer mil papeis ao mesmo tempo, é ser forte mesmo quando nos sentimos frágeis...Viver, é nos perdermos em palavras e depois perceber que nos encontramos nelas, é distribuir emoções, que nem sempre são captadas, é comprar, emprestar, alugar, vender sentimentos, mas jamais dever...Viver é e será sempre, construir castelos na areia, ve-los desmoronados pelas águas, e ainda assim, amá-los, é saber conceder perdão, é tentar recuperar o irrecuperável, é entender o que ninguém mais conseguiu desvendar, é estender a mão a quem ainda não pediu e doar o que ainda não foi solicitado... viver é não ter vergonha de chorar por amor, é saber a hora certa do fim, é esperar sempre por um recomeço tendo a arrogância de viver apesar dos dissabores, das desilusões, das traições e das decepções. É ser pai dos seus filhos, tendo confiança no amanhã e aceitação pelo ontem. Viver Hoje é desbravar caminhos difíceis, em instantes inoportunos, içando a bandeira da conquista, mesmo que nem sempre consiga entender as fases da lua ...Os filhos não são nunca nossos, pertencem a eles mesmos, mesmo que não consigamos concordar com tudo o que fazem! Por estranho que pareça , só temos obrigações para com eles, e o direito que temos é apenas de lhes fazermos as malas, colocando cuidadosaamente todo o tipo de utilidades, ensinamentos e valores... Gostariamos que seguissem sempre o melhor roteiro , não o mais fácil, mas o mais honesto...Há muito de nós que não conseguimos partilhar, não que não queiramos , mas são eles que não querem...Hoje viver é ter a alma em peso de luz, peso da música, peso da palavra, peso das lembranças, peso da saudade, peso do olhar, peso da ausência, peso das lágrima, peso de tudo o que é imaterial que sentimos como a solidão no meio de tantos outros como nós!

quarta-feira, 5 de junho de 2024

Hoje pinto quadros surrealistas nesta tela da vida, desusada no rosto da culpa sem mãos na procura da agulha neste palheiro em chamas …Tenho as cores distorcidas burlando o olhar, a definição das imagens perdem-se na miopia das palavras sem som como linguagem gestual que nem um surdo mudo consegue explicar… Mas! Movo-me de forma invisível, de tão minúsculo que sou ,mas hábil nas renuncias que a gravidade dos sonhos nos obrigam a construir neste baloiçar da razão no mundo de um Deus só! É difícil encontrar a estrada certa, neste salpicar de sonhos e estrelas que nos focam na estrela polar que nos pode orientar… Ou asseguro, ou rejeito ou até mesmo, afronto todas as regras e privações que hostilizam a liberdade de um ser! Todos temos habitos diferentes, uns olham para as janelas ao seu redor, outros para as janelas do fundo, uns removem as cortinas da janelas outros fecham-nas por isso são obrigados acender as luzes muito mais cedo , esquencendo-se do sol, e do ar que vem de fora...Uns tem habito de acordar de manha em sobressalto porque já passa da hora, estão atrasados até para tomar um café, não leem os jornais porque não podem perder tempo...Ou comem uma sandes porque não tiveram tempo de almoçar...saem a correr o trabalho para tentarem deitar cedo porque já perderam o dia sem o ter vivido! Outros, abrem o jornal e leem sobre a guerra, aceitando-a , ignorando as perdas humanas, aceitando os numeros sem acreditar numa paz vindora! As pessoas acostuma-se para não se "ralarem" preservam a "pele", evitam feridas, para poupar o peito e a vida que aos outros se gasta de tanto nos acostumar-mos até a ela se perder a si mesma...Como nos perdemos, na nossa essência, no nosso querer, no nosso saber, por isso, hoje apenas escrevo como quem leva os dedos em chama evitando a pele, para não abrir mais fissuras nos cálices de mar salgado na alvorada dos desejos que voam sem asas! Sou a sintese de todos os meus ecos, muitas vezes silencio um a um para que outros irompam os seus, faço-me intimo da raíz do tempo onde cada palavra repouso docemente na fantasia do horizonte distante, onde as luzes se escondem lentamente na espera ao por-de-sol.

quarta-feira, 15 de maio de 2024

Hoje aquilo que é o óbvio chateia-me, na vida, nos gostos, até nas pessoas, prefiro sempre o inesperado. Uma música nova, um local junto ao mar desconhecido, um sorriso completamente original. Nunca consegui ver a beleza como um padrão, mas como algo que se reinventa todos os dias. Não percebo as pessoas que só gostam de um estilo, que têm um perfil do que gostam e valorizam, eu também sei ser preguiçoso mas isso é mais que isso, é comodismo mental! Eu gosto de não ter um guide book. Pelo contrário adoro ver a beleza nas mais inesperadas coisas. Engraçado, que para partilhar as coisas que me inspiram tenho de me dividir entre amigos "óbvios" ... já sei qual é que vai perceber aquela música, aquele texto, ou aquela imagem. São raros os que me entendem… As pessoas com quem posso partilhar tudo são claro, também elas não óbvias. Por isso talvez nos entendamos ! Não há nada que mais me orgulhe do que navegar entre mundos diferentes onde o obvio não se enraíze, talvez isso me ofereça a capacidade de viver muitas vidas numa só… Conhecer um pouco mais além e me tornar mais resiliente perante as adversidades e com isso tornar a vida que levo porventura também mais agradável. Muitas vezes fico maravilhado por alguma forma de sentir o perplexo e a alma que se deixa em constante devir perante cada situação da vida, mesmo que isso não a torne nem um bocadinho maior, mas sim, completa, embora isso se calhar, até é óbvio, eu é que não o sabia….Dizem que todos procuramos um sentido para a vida mas penso que o que a esmagadora maioria procura, são experiências que nos mantenham vivos ! Para uns, a jornada é muito curta para o que se desejava viver, mas é agradável, para outros, a jornada é acidentada, longa como uma maratona que não tem fim à vista e em alguns momentos, dá vontade de desistir... Estamos aqui para aprender, não para sofrer...À medida que ganhamos experiências, um pouco mais nos é revelado deste mistério que é a vida, ninguém é igual a ninguém e ninguém é perfeito…A vida vai nos dando coisas com que consegui-mos lidar, conforme vamos aprendendo a lidar com elas…É assim que a vida funciona. Avançamos no caminho seja ele qual for através das nossas vivências que a nossa energia atraí para dentro da nossa vida! Reparem que nada é por acaso, Nós colocamo-nos numa espécie de “trilho”, que sempre existiu, o tempo todo, à nossa espera. Não escolhe-mos o nosso destino, seja ele qual for, temos de o viver! Ninguém consegue mudar o que não consegue encarar, talvez seja essa razão que, onde quer que nos encontremos, é exatamente onde precisamos de estar, nesse momento… Só faremos algo diferente quando estivermos preparados para o fazer…E digo mais, há sempre alguém à espera da pessoa na qual nos estamos a transformar ou nos transformámos! A cada momento, cada um de nós está a passar pelo processo de Ser e de se tornar por isso sinto que quem perde o telhado da sua vida, acaba por ganhar sempre o olhar e a luz das estrelas…

segunda-feira, 6 de maio de 2024

Hoje guardo numa gaveta de velhos objectos algumas palavras, espero tranquilamente que o bolor do futuro as rasure para que só eu as saiba de cor, e mesmo que adormeça mergulhado na conjugação de novas palavras, jamais desitirei das que outrora me espelharam... Fecho os olhos e estas não se desfazem, nascem no meu olhar como palavras sem destino. Ali, nada acontece, a não ser o tempo irrepetível onde os compassos ressoam na extinção do coração que me toma e me escuta, arremessando todas as silabas que a noite exalta nas lâmpadas acesas que revelam os silêncios como um telefone que não toca, silenciado pelo halito das ruas vazias, por isso, tudo o que eu disser e escrever, é apenas eu a perder-me! Não vale apena espelhar-me na angustia, nessa superficie que nada reflete, nunca supus sequer, que as palavras fossem tão permeáveis ao ponto de, fazer com que as nossas vestes se tornassem visualmente ocultas ao olhar de terceiros...Nada nos decifra, nada! Nem a forma docil que nos prende à hipotese do esquecimento que fecha a visão diante dos atos mágicos que trespassam a alma dupla, assim nos fecham as portas do universo! Pode até o pensado universo infindamente ir-se, que para mim o que importa é a abertura da porta ou a fenda que a faz ficar entreaberta até sermos crucificados ...Pouco importa a felicidade ou falta desta, porém nada me impede de relatar o que a fere a cada instante... Hoje abro as coordenadas dos sentidos, elas contorcem-me corpo e alma, em espasmos numa tela branca onde invento e escrevo com o meu toque, os vestígios anarquizados das sagradas promessas de amor que se juntam entre dois mundos . Teria gostava que me tivesse sido entregue todas as partes claras e escuras desse caminho, nas rotinas da sede das patologias sem cura , por isso, faço-me deus das palavras usando a minha imaginação, só assim atravessarei o que não entendo entre estes dois mundos de invulgares e transcendentes impulsos da visão dos sentidos… No designio das palavras, alivio a profunda sede que a noite gelada deixou marcada nos meus lábios secos, desfolho o livro dos sentidos e nele, pinto um inverno entorpecido em varias hibernações que não germinam as sementes lançadas na luz da atitude, deixo a vivencia transformar-se no legado da simples lembrança sem eira nem beira! Hoje estou assim, deixei o meu olhar na aurora de um cálido abraço na ansia da brisa rendida ao que cada um é efetivamente. Há uma imensidão no olhar que me alcança onde não estou! Tenho tatuado na represália do ontem um sinal de aprendizagem que se faz legenda da suavidade dos sorrisos que ficaram no olhar! A saudade é assim, do tamanho dos oceanos, infinita como os céus. A verdade é que o tempo não para, não dá tréguas, obriga-nos a ser fortes e a guardar as dores mas a saudade, ui, essa aumenta não diminui… Memórias são o único pedacinho de paz, capaz de apaziguar, há quem diga que, quando alguém que amamos está no céu, ficamos com um pedaço de céu dentro de nós, quero acreditar nisso! Mas!! Talvez seja melhor acreditar que à minha sombra todos os amores são silvestres ...

Hoje vos digo que muitas vezes criamos um paradoxo em nossa rotina diaria, podemos até ter feito de tudo, virar os dias do avesso, quebrar ...