quarta-feira, 20 de março de 2024

Hoje vos digo que por vezes damos de caras com a coisa certa apenas quando fazemos a coisa errada. Da mesma forma que as palavras encontram sempre o seu lugar exato num texto, a vida tende a nos surpreender até nas esquinas mais inóspitas e sombrias. Procuramos ferozmente o grande esquecendo o minúsculo que nos surge por entre as linhas da vida. É certo que ambicionamos a grandeza, e está tudo bem com isso, mas adulteramos o simples, o pequeno e as amostras de luz que a vida nos dá. Durante esta fase em que tudo é tão temporário e impermanente, busco, tal qual muitos outros, manter o equilíbrio, a sanidade e não cair no esquecimento do que verdadeiramente se está a passar... Sofro por antecipação, cancelo planos, refugio-me na esperança em que a cura aparece tão depressa quanto a minha vida foi alterada... Mas!! Também equaciono-me, na tentativa de também eu me salvar, por meio de questões tão íntimas, mal amanhadas por falta de clareza e, possivelmente, sem capacidade de resposta. A vida não está a acabar, nem o céu, nem a terra, nem o universo, nem ninguém. Porém, há uma certa tendência para nos protegermos como que toda a vida ficasse suspensa por um fio. A montanha não é o seu topo. A montanha é a composição de toda a matéria que a constitui. Vou escalá-la, o topo é apenas o ponto mais alto que tem. O restante reside na base e que inclui toda a vida e não vida que nela habita. Apontamos muitas vezes o nosso olhar apenas para cima. É onde pretendemos chegar, eu sei! Todavia, teimamos em não honrar com a mesma intensidade a base e as pequenas coisas. Uma das coisas que aprendi ao longo da minha vida é que tudo conta. Os pequenos e os grandes. Os altos e os baixos. A força e a fraqueza. A queda e a ascensão. E que a vida, tão sábia que é, nos presenteia com o pequeno da mesma forma que nos incentiva com o gigante. Um ponto de luz, por mais pequeno que seja, tem a capacidade de iluminar toda a escuridão. A aprendizagem que estou a adquirir com o que estamos a passar de momento dita-nos em quem nos estamos a tornar. Talvez precisemos de reparar mais nas pequenas amostras de luz que a vida nos está a dar. É tempo de encararmos o simples. De transformar o complexo no acessível e ver, por mais empenho que isso signifique, a beleza única das pequenas coisas. Uma das coisas que mais cumpre bem o seu propósito da minha vida é a simplicidade, talvez essa Arte de Ser menos me faça ser mais...Não vou temer as sombras, elas só significam que há uma luz brilhando, ter luz não é sobre brilhar, é sobre iluminar e a alma tem um peso gigamte nessa luz. Tem o peso da música, tem o peso da palavra nunca dita, prestes quem sabe a ser dita, tem o peso de uma lembrança, tem o peso de uma saudade, tem o peso de um olhar, que pesa como pesa uma ausência uma lágrima que não se chorou e esta sim tem o imaterial peso da solidão no meio de outros.

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