quarta-feira, 1 de junho de 2016

Hoje o mar não dança nos seus brandos sapatinhos de espuma…Contorce-se por entre novelos cinzentos num rugido de gemidos trazidos como lamentos… Cheira a sal, a maresia…E para lá do horizonte da minha janela O mundo passa veloz. Correm e choram as nuvens vergam-se os galhos, na rendição á dimensão que me silencia a voz…Serei lembrança fugaz e espaçada, flutuando na memória do tempo, uma obra escondida que de tão acovardada ancorou no cansaço que agora invento, sou a letra que encravou pondo fim ao toque ousado dos meus dedos nas prosas e rimas que Deus me segredou e que sucumbiram à força da mordaça e do medo…Sei que um dia deixarei de ser um verso batendo no charco ou a folha em branco onde me demarco em inquietantes silêncios do meu ser!! Serei então ponto final uma última linha de um livro que se fecha, de uma vida de pontos e vírgulas que o mundo esqueceu…Quando calo escrevo quando escrevo agrafo os meus silêncios ás palavras neste rio sem margens onde vagueio e rabisco traços de luz nas águas cristalinas onde lavo cada gemido meu sem sequer sussurrar…
Procuro-te nas cinzas do meu fogo que se extingue, mas numa réstia de esperança que me corre nas veias, grito na solidão que ninguém ouve nas minhas estradas onde se passeiam!!! Procuro-te…Nos restos perdidos da noite fria, lenta, de palavras abafadas que não me disseram ...É no fundo da minha alma cinzenta que solto a escrita que jamais leram, porque , procuro-te neste porão onde encovo as minhas lembranças, onde, desperdícios de goradas tentativas, vislumbram infundadas teorias de exercícios, de buscas a que me obrigas amor tardio ... Procurei-te em toda a parte em qualquer lugar… Se te algum dia encontrei foi num tom desajeitado de fazer de amar. Nas minhas juras despejadas com fulgor e nos gestos espontâneos que não me prenderam Até que um dia… O vento seque o sal da minha dor e disperse as sementes que de secura, permanecem em mim!!!Não me arrombem a entrada nem me tranquem a saída , sou como terra lavrada pelo arado da vida...
Eis a primeira noite do ano,é, calada, como um rio roçando as margens dos meus sentidos e nesta aguagem silenciosa, leva os gemidos que se perdem no vácuo, escuro e frio...Vai fluindo este dormente caudal onde me navego insónia dos meus encontros, uma guarida onde afogo a madrugada entorpecida e com ela, os espólios do desassossego..Mas!! é quase dia, num chegar leve de olhares incolores no filamento do gelo que desliza na janela do meu olhar...Não consigo nem sei se é a raiz do meu mundo a perder a vida ou o fruto da Luz do meu encanto , mas é tão salgado como o mar…
Hoje e agora aqui, solto as palavras à toa…elas pairam sem tempo indefinido no branco imaculado de uma folha como um borrão disforme, sem encaixe nem compreensão…Fogem de dentro de mim num sentimento que tem tanto de calmo e agitado, como de luz e escuridão. As trevas do que não sei cerram-me o olhar desviando as cortinas dos meus olhos. Não alcanço, não vejo, só sinto. Nesta dialéctica aberta, quase surreal vagueio pelas frases desconexas que almejo entender e rendo-me tantas vezes à evidência de nada ter e pouco ser…Magoa a impotência que se alonga e engrandece à medida que reduz a minha insistência a um mero esforço que aos poucos padece...E só quando exausto quase rendido encosto à margem; é que olho o deserto que me faz tropeçar nas fendas ressequidas dos seus trilhos...Fico assim despido de raciocínio e me aprisiono e me abandono ao rosto amargo do declínio, aceitando o fim da viagem…Tudo acontece...Cheira-me a terra molhada, este tapete de sementes vivificadas onde caminho regadas pelo mar em plena maresia. Antigamente esta energia arrepiava-me a alma…Hoje, acorrento-me à luz do entendimento que me agita, definindo bordados reluzentes soprando meras palavras…Os meus dedos espezinhados balançam frenéticos de confiança. Ignorando as cicatrizes, eles dançam traçando um rasto de esperança, e das palavras à toa a ferro e fogo lavradas, Permanece a certeza tão boa de que elas são o “TUDO” Dos meus insignificantes "nadas"!!!
Hoje peço silêncio, perdoem-me a contradição, pedi tantas vezes o dom da expressão... Pedi uma boca sem bloqueio nem receio que se soubesse expressar...Mas hoje, peço o dom de saber calar. Calar-me do fútil, do inútil, do intolerante do arremesso, da falta de senso, do discurso arrogante...Calo-me do jeito mordaz que nem sempre é capaz de ter um bom efeito, de frases sem raciocínio que levem ao declínio do que sinto no peito...Rejeito as palavras pretensiosas que de acutilantes fazem doer, rejeito ser voz que dói porque me mói e me faz sofrer... e me faz arrepender...Quero abster-me da opinião como juízo de valor, quem sou eu para julgar? Sou apenas pecador! Por isso peço ,o dom de saber calar. Que falem meus olhos num olhar terno. meus ouvidos escutem com submissão, minhas mãos se estendam num gesto fraterno. mas minha boca se abra com contenção...Eu sou simplesmente o mesmo sempre mas não serei certamente o mesmo para sempre!
Mesmo sem ter inspiração apetece-me...apetece-me escrever só por escrever, deixar a tinta derramar correr, alastrando na pagina vazia num desfile preguiçoso e lento onde os meus dedos brotem rebentos sem conexão !! Escrevo apenas por instinto desnudado de pretensão , pois nem tenho em conta as linhas, os pontos, as rimas as frases elaboradas. sem me importar se estarão as vírgulas bem ou mal aplicadas... Não me indigno ou reclamo sobre o que escrevo muito menos me interrogo sobre se devo ou não devo...Quero só que flua ao acaso como quem espalha sementes de existência sentindo que o meu coração reage a cada nova reticência..
Deus quando criou o choro foi para o homem não explodir uma vez que o amor não se implora, não se pede não se espera... Vive-se !!
Não pensem que adorava ser poeta , não!! Eu também sei montar e desmontar do cavalo do silêncio e descobrir o som das tempestades num búzio de esperança…Sei adormecer e acordar dentro do quotidiano vivendo de saudade na ausência dos dias que vou vivendo a exorcizar na insónia ,hoje tão presente a cada instante dentro de mim, turvando meu olhar…Apenas visto de silêncios as palavras que por entre as mais se revelam nos sulcos de areia quente nas horas estéreis desta ampulheta vigilante que me gera!! Escrevo por entre cristais de silêncios que imergem na noite escura e fria , onde, não há sorrisos que ecoem, apenas gemidos mudos das conversas inacabadas , selando este sentimento indecifrável… Ergo os braços aos céus , é tento por nos bolsos a lua para acabar com os meus cinzentos mas apenas moldei mascaras ás circunstâncias do improviso…Neste meu olhar que escondo há estrelas grávidas de luz de um simples orgasmo retido pelo horizonte percorrido ...
Eu pronuncio teu nome nas noites escuras, e teu nome me soa cada vez mais distante!!! Escrevo palavras e estas beijam-me como se tivesse boca, beijam-me como se houvesse esperança, nas horas tardias do amor , mas!!! São palavras nuas que se perdem no meu rosto e recusam-se a saltar muros dos desgostos nas acções colorias...Escrevo palavras sem cor , inesperadas como a poesia de um amor... Letra a letra vou esculpindo o mármore distraído que as minhas palavras transportam nos abraços dos amantes...Vou tendo piedade das palavras penitentes caídas nas almofadas, num montão de pecados de suspiros afogados pela vergonha das palavras que digo , mendigas, que jamais terão um vestido decente para as cobrir na vida...Hoje sou um ser de pés colados ao chão... Amanha serei as reticencias de um voo inacabado!!
Hoje sei que não é difícil estar longe , difícil é não saber o caminho a tomar para te encontrar...Estar longe cria a possibilidade de não conseguir...Deixa-me ir... Mais vale gritar silêncios quem sabe se algum irá eclodir. Deixa-me ir... Mais vale cantar ao mundo numa solidão de lava ardente ... Deixa-me ir... Prefiro não saber as distâncias de cada sentir. Deixa-me ir... Mais vale saber que a saudade é alimento e fogo a fugir. Deixa-me ir... Prefiro que me chamem poeta mesmo que ele nunca existia em mim! Deixa-me ir... Ficarei nesta porta inquieta de uma tela que nada fez fluir Deixa-me ir...Prefiro baloiçar entre a luz e o escuro , entre o salto e o mergulho que sorvo num trago de utopia !!!É neste baloiçar de luz e escuridão, neste desnorte e aprumo onde nunca renego o que me inebria que escuto o meu coração e vou dando voz á alma que me rende e acende a vela das emoções...
Eu hoje venho aqui fazer-vos um mero convite a experimentar escolher ao invés de esperar ser escolhido.. Eu vos convido a deixar ir quem vos rejeita e se abrir para os que provavelmente estarão disponíveis afectivamente, para os que querem viver a mesma história que vocês. Eu hoje vos convido a parar e fazer um movimento contrário para que possa atrair o que vos ilumina, agrega, alegra. Eu vos convido a tomar coragem para aprender a receber, trocar e não somente se doar ; eu vos convido a tentar conviver harmoniosamente, quando se relacionarem, e não se subtraírem, pois ninguém é apenas uma metade, Eu vos convido a viver a inteireza por mais que estejam condicionados a acreditar que o vosso tamanho é menor do que o real, pensem em sentir imenso e a não aceitar menos do que merecem...Eu convido a serem gratos e merecedores de coisas grandiosas é esta simbiose que precisamos todos para que o coração possa respirar com autonomia …Desculpem se o meu caminhar hoje é apenas um convite mas a minha companhia é para poucos uma vez que apenas me permito a certeza que a incerteza me impõe!!!
As únicas tiranas que tolero em mim neste mundo são as palavras que me silenciam por isso partilho as que me nascem na ponta dos dedos...Mas há outras que me mordem a língua com vontade de sair...É por isso que digo que são as palavras que me amarram o corpo em devaneios, que me prendem a alma ao chão, que se perdem na solidão da noite, que se enamoram em arrepios ouvidos, que se transformam em carícias, que pintam um arco-íris no olhar, que encantam o olhar inocente, que nos fazem viajar num mundo encantado, que tocam levemente o corpo do ser profundo, que vão do desejo sonhado à ilusão real, que partem muros construídos, que se ouvem em silêncios mudos, que choram de saudade, que cortam o coração em pedaços, que encarceram a alma e que rasgam o vazio dos sonhos...

Hoje vos digo que muitas vezes criamos um paradoxo em nossa rotina diaria, podemos até ter feito de tudo, virar os dias do avesso, quebrar ...