sábado, 14 de maio de 2016
Hoje o dia acordou feio e sombrio, correu em mim um frio húmido, num vento grave que sabe a descontentamento onde a água afoga a terra… Acordei assim nu, agasalhado pelo sonho , com estas palavras beijando o papel branco onde não havia luz para o inicio dos gestos!!! Hoje liberto os sonhos e as distâncias dando braços à ternura fazendo cair as ânsias…Hoje estou como uma criança de mãos vivas cheirando a vida, envolto neste grito de saudade e nostalgia!!! Abro os braços uma ultima vez amputando o adeus do dia… Os sonhos não têm cor, os homens não têm asas, as auroras escondem as estrelas, os segredos sobem o abismos da alma nesta floresta de palavras onde cravo um punhal na tela onde pintei uma mulher …Não encontro um lugar na palavra para o confiar neste enredo que aqui escrevo, duro e rude calei o coração, faço-me mar neste denso e húmido nevoeiro onde lancei a âncora nas correntes de uma paixão….
Hoje acordei de corpo nu sem a tatuagem indelével do desejo!! Hoje neste silêncio que a noite me oferece, olho-te, cobiço-te, desejo tocar-te com a ponta dos dedos, e retocar-te o olhar. Mais uma vez resisto ao contorno que a luz incendeia em mim, eu sei que vem ai o dia, e com ele o despertar dos cabelos amarrotados soltos no sabor dos sonhos. Espero-te, pacientemente, como quem sabe degustar o momento, retendo-me, adiando-me por mais uma vida, segurando a vontade de tomar-me no abraço que te encaixa e toca em desatino numa melodia gemida de ondulações e silêncios musicais que só os corpos em cumplicidade sabem tocar. Um dia vou abrir-te como se possuísse a chave que enclausura o teu ser, um dia haverei de roçar o olhar nas portas dos teus segredos para descobrir nele a janela onde penetrar. Vocês poderão dizer que que vivo de ficção, que em alguém apenas reside a simplicidade duma mulher que quero. Mas para mim, no jeito diverso com que a olho, com todos os filtros de paixão e sedução, amor e perdição percebo o quanto é divina a sua criação que contemplo. Tantas e tantas vezes me questiono porque o Criador não me entregou para cuidar, este precioso tesouro que tanto amo e desejo talvez seja por eu apenas ser um simples mortal que te ama.
Costumavam nascer-me asas no dorso, como aquelas que usam os anjos...sim essas!!!Elas faziam-me voar pelos universos, descobrir portas de acesso aos mundos mais escondidos, onde os sentimentos de cada alma eram segredos que guardava para mim…Só para mim!!! No rodopio das noites chego a ser pescador que, com rede feita de estrelas, pesca os sonhos, adornando-os de fantasias e emoções, devolvendo-os depois às águas deste mar que invento em mim…Não sei onde me perdi, se no calor dum inferno qualquer, ou tão simplesmente no meio duma noite escura, onde nem as estrelas para poder guiar o meu caminho… não existem caminhos, portas ou destinos que me façam sair deste abismo. Hoje não sou mais o ser que vela o sono de outro alguém…Sou apenas um pobre diabo, que em vez de asas no dorso, lhe nasceram espinhos, um animal de garras afiadas que por ironia do destino não sabe sequer alimentar-se num mundo que não lhe pertence…Espero que me sequestrem deste lugar, desejo que o céu escuro se rasgue e a mão salvadora me agarre e me leve daqui para fora!!! Hoje seria preciso sulcar os mares, mergulhar nos seus sentidos, para perceber quanto de mim neles está perdido… Seria necessário voar, vestir as asas e saltar do precipício da vida, para poder entender o vácuo como alimento que me sustenta... Seria preciso deixar pairar a música, como sinfonia incompleta do destino, que me leva e trás como um barco á deriva abandonado na corrente... Seria preciso ter um caminho já traçado que me indicasse por onde pisar...Em que chão, por onde sulcar o mar, por onde riscar, desenhar o céu. Era importante que o meu voo não fosse apenas o de um pássaro na deriva da vida, gostava que me levassem para lá dos limites da atmosfera, e deixasse-me sair desta placenta que me aperta, para cruzar o infinito
Não sei bem como mas ainda não sei como procurar o caminho de regresso a casa, esta noite desci dos céus e ainda carrego nas asas a humidade do ar. A Noite foi fria e deixou em mim a vontades de ser pássaro, os desejos de ser vento… Não sei porque para aqui vim, arrastado pela corrente, deste corpo ausente, seguindo o curso deste trajecto infinito. Não sei porque sou, o que sou, e porque ainda existo, quem me tornou filho deste vazio? De quem é a obra deste destino que em mim se traçou? Sei que atravesso os espaços, como um raio que antecipa o trovão, aguardando pelo som que estilhaçará o silêncio, a solidão. Ainda assim guardo-te, como quem vela o sono, como se fosse a tua sombra, que a todos os lados te conduz. Sei que esta luz encandeia o olhar, mas ao mesmo tempo, também faz sonhar. Estou aqui, sentado no canto da esquina onde enrolas-te no meu corpo, esperando apenas por um olhar... Mas tu dormes profundamente, envolta na tua própria vida… Hoje escrevo e sou apenas o suporte que transporta as letras, elas são o sentido que o lhes ofereci, é a essa mensagem que devemos estar atentos…
Hoje deixo de ter necessidade de desvendar os mistérios da vida e daquilo que nos faz parar e declinar , vou limitar-me a escutar o nosso silêncio, com o olhar, com essa arte de quem sabe o que procurar, em quem já não se sabe encontrar… Hoje eu sou apenas um homem e tu o anjo, invertemos os pólos, porque esgotei todas as minhas energias, todas as minhas magias, tu vieste, como que enviada pelos Céus, para me salvar. Sabes que deambulo por labirintos míticos, onde figuras de estilo se passeiam e os meus passos, vão descompassados como se eu fosse uma mera personagem dum livro encantado. Cheguei a acreditar que a minha alma exercia um magnetismo que atraía a mim outros espíritos. Que era uma força da natureza que se manifestava na capacidade de por nas palavras os sentidos certos e nos lugares certos e que curariam o corpo e sarariam as feridas. Mas tudo o que me disseram não passou de uma utopia, que nessa vaga dei de mim aquilo que não tinha e a chama apagou-se, deixando apenas o fumo deambular pelo espaço vazio. Perguntam-me pelo Amo, quando apenas sei falar de sentimentos, divagar sobre momentos e nunca, contar pelos dedos quantas chagas tenho no peito por assim amar. Por isso fujo com o olhar, porque temo ter de contar, ou tão simplesmente porque sinto o que vejo no fundo desse olhar. Mete-me medo! Ou porque seja um reflexo de mim mesmo, ou, porque tema que sejas também tu uma utopia da minha demência. Pergunto-te, como se pode ver o imaterial? Como se pode tocar o ar se não o vemos? Ou colher a brisa se apenas a sentimos roçar e já partiu para outro lugar? Sei bem que construo castelos no ar, que invento Primaveras em Outonos tardios, em Invernos cheios de frio, mas colocar os pés no chão, é admitir-mos que foi tudo ilusão…Nesta história de encantar, já que entrei dentro dum sonho, não quero acordar.
Hoje relembro que tudo acabou sem ter começado ...Fechei-me num despretensioso segredo que se refugia num olhar, sem mais, sem ninguém o imaginar...Contemplo as brechas da alma raiadas de vermelho vivo, e espelho o olhar bem no fundo de mim enquanto o sol me vai inflamando , devorando até me extinguir ...Agora, sangra-me o adeus sem palavras e escorre-me o mar salgado de mim até á face!! Que me resta? A bússola que me norteia o resto dos dias, porque sei que o meu presente jamais terá futuro. Talvez nada mais seja importante para além da brisa ardente do mar, do apregoar dos pássaros, e do cair do dia enquanto o sol vai declinando na linha do horizonte. Deixei de banhar-me de emoções e a alma esta apenas me recorda que sempre fui filho de um adeus e agora o Diabo me fez filho de Deus. Mas não desisto. Procuro-te no calor do sol, tento encontrar o teu rosto no oceano, nas dunas da praia, até nas rochas que as vagas acariciam deixando-me invadir por vezes pelo silêncio apenas quebrado pela agitada e estranha pronúncia das águas do mar. Tento ouvir o teu riso na melodia que sempre me acompanha. Olho para os lados imagino-te sentada naquele banco gasto pelo roçar da recordação e pela solidão de um pássaro negro parado na árvore dos meus dias a meu lado esperando pela brisa que me traga o teu cheiro a frutos bravios. Porém julgo que te procurei nos sítios errados, tentei ao menos ver-te em todos os locais onde não estás !! Acabei por te encontrar entranhada em mim, e como duma paisagem te tratasses , vou pintar os meus derradeiros dias de cinzento leve, mas sempre com um pingo de vermelho rubro de paixão ... cinzento pelas horas incertas o vermelho pela ilusão que me fizeste viver de retoques de esperança. E assim, lentamente e sem arte que deixo escorrer o diluente na tinta de água na tela da minha vida.
Hoje precisava de um suspiro de sinceridade, sinto falta disso ...Por vezes ou sempre, as pessoas , perdem isso da na sua bagagem outras nem a consideram “bagagem”…A paixão é mesmo isto, nunca sabemos quando ou como acaba ,ou se transforma em amor, por vezes temos de ser honestos para que a paixão possa resistir à erosão do tempo, ao frio dos dias, ao vazio da cama, ao silêncio da distância. Há um tempo para acreditar, um tempo para viver e um tempo para desistir ou não…seria muita sorte conseguir viver todos esses tempos no modo certo. Não seria mais honesto dizer logo que apenas se quer conjugar o verbo desistir?Demorei muito tempo a perceber que, às vezes, desistir é o mesmo que vencer, sem travar batalhas. Antigamente pensava que não, que quem desiste perde sempre, que a subtracção é a arma mais cobarde, e o silêncio a forma mais injusta de deixar morrer os sonhos. Mas a vida ensinou-me o contrário. Hoje sei que desistir é apenas um caminho possível, às vezes o único que os homens conhecem. Aprendi que o amor é uma força misteriosa e divina. Sei que já ensinei muito, mais do que imaginam e do que agora conseguem alcançar. Só o tempo vai dar tudo o que de mim guardaram, esse tempo é uma caixa que se abre ao contrário… de um lado estou eu do outro tudo o que toquei nesta vida!!! Nela está tudo o que desejo... Não sei quando a voltarei a ver ou a ter notícias, mas sabem uma coisa? Já não me importo, porque guardei-a no meu coração antes de partir. Numa noite perfeita enquanto olhava o céu estrelado, ao sabor das ondas do mar imaginei-a olhei-a, liguei o meu coração ao dela com um cordão de estrelas invisíveis e troquei uma parte da sua alma com a minha…
Hoje relembro quando era pequeno, que existiam mulheres que trabalhavam em casa de outros. O termo era , andar aos dias , e isso era fazer de tudo um pouco em casa alheia, numa condição de gente de fora. Desse tempo guardo a estranheza da expressão, a fragilidade dos vínculos e do contínuo vaivém. Quando homem me tornei, resolvi essa estranheza dentro de mim. Compreendi que na vida andamos todos aos dias, ensaiando entradas e saídas, agarrando por dentro e por fora aquilo que podemos, sabemos e sonhamos. Tem dias que são sínteses do que somos. Parecem criados para nos confirmarem e chegamos à noite convictos que as horas, todas as horas do dia, somadas, traduziram a nossa identidade e ao mesmo tempo a nossa fragilidade…É esta que nos faz ser aquilo que somos, únicos e imperfeitos, únicos e ignorantes, únicos e acutilantes, únicos que vivem aos dias!!! Sem forma de traduzir o que o nosso coração sente, pedimos emprestadas as palavras a quem escreveu um dia, aquilo que neste dia experimentamos, condensar em meros suspiros a nossa identidade!!! Hoje dói que as coisas passem, sem marcar as pessoas e é por cada instante que de mim foi vivido que busco um bem definitivo em que as coisas do amor se eternizem para todo o sempre…
Hoje acordei com a falta do cheiro e do toque do papel. Estou trémulo preciso sentir o deslizar da caneta , suavemente , no meio da seda das palavras . Vou descrever a solidão desfazê-la em mil pedaços. As palavras fluem sem sentido e sem rumo na conversa entre a minha alma e a mão que escreve, vivo um diálogo mudo. Os meus dedos são o mensageiro fiel que serve de fio condutor, ousando entoar uma frase arriscada… Se volto a tentar repetir uma rima é pecado se penso em em recriar a entoação original é dúbio. Será então isto um privilégio de poucos!!! Comunicar com silêncio… Mas sabem eu consigo-o quando escrevo pois direcciono a minha voz , o meu amor e faço os meus olhos viajarem daqui até ai…E os meus lábios esses saboreiam cada silaba , cada toque, com eles solto cada palavra que escorre para o papel vindo de minha alma, como um grito que se solta perdendo-se pela brisa que passa... Será que vocês sentem o que escrevo!!!?? Será que sentem o que ainda vou escrever??!! Eu até podia mudar o tom da minha escrita e fazer o papel amolecer, suavemente, como num toque de veludo, como num mimo lento que vos deixo, mas!!! A tinta que inicialmente parece criar uma forma terna , solta-se, espalha-se, evolui e deixam a impressão que as silabas já perfilam: Muitas vezes queremos-nos convencer que o outro lado da pagina precisa de tempo para voltar à realidade pois esta é a única forma de sentirmos que fomos importantes para alguém …
Hoje irei ser uma janela sobre o mar, onde uns olham e limitam-se a apreciar a vista… Há quem tenha medo do que possa descobrir e não se atreva a dar uma espreitadela. Ninguém imagina os segredos que se escondem, para lá da rebentação das ondas no horizonte do meu olhar, mas também há os que têm a certeza que há mais do que mar e marés. Hoje vou abrir essa janela que eu sou e ficarei ali como se o tempo subitamente parasse, para que a brisa doce vá soprando ao longe como um sorriso e torne a janela que sou indiscreta!!! Da minha janela embriago os aromas do mar de paixão, ergo um vendaval que sucede à brisa, mostro outras janelas que existem em mim, que o vento abre de par em par…Encandeio-me sobre o tempo infinito, vejo que junto ao mar os sonhos não ganham raízes, vão-se transformando em areia molhada, por isso, fico aqui olhando-a derramar-se na ondulação, onde há sempre sol no horizonte. Mesmo em dias de chuva, quando as gotas molham a minha janela eu deixo-a entreaberta , é assim esta minha janela, com vista sobre o mar…
Hoje amaria ser a tua sede, ser teu cio, ser teu calor, ser teu frio, ser o teu amor... Esta vontade que tenho de arar a tua pele com meus dedos, esta vontade que tenho de beijar os teus lábios provoca em mim a secura da tua ausência , e no meu corpo o grito incandescente dum só lamento, dum só segredo. Escrevo em laivos negros como os teus cabelos, traço nas palavras a tua imaculada beleza, que me deixou a nu sem ti, sem norte nesta destreza de rota que é o teu corpo flamejante...Hoje olhei as estrelas e no teu céu desbravei as minhas matas verdejantes!!!. Haverá maior precisão nesta vida que a capacidade percepção do olhar? Que o detalhe de descobrir o significado de um abraço que nos acolhe? Não claro que não!!! Então deixa que o silêncio se quebre num murmúrio lancinante, e que o apetite voraz nos devore a nós e aos nossos corpos..., Deixemos que a incerteza, seja esquecida num canto qualquer e nos abra portas à aurora, que de teus olhos despontam em mim... Recordo-me agora dos teus olhos como quem chora de alegria desbordada. É desta forma, quase incongruente, que circulas em mim como um rio fluente, que desagua o meu ser e leva o pó da tua ausência em vagas pequenas até ao mar.
Hoje acordei silenciando o olhar , acordei sem horas, o tempo parou devoro a solidão, revejo-me perdido no meio da multidão…Vivo num misto, entre uma trovoada e um Sol que me banha como um sopro de vento, fazendo-me viver aquilo que não compreendo!!!Cresço como uma árvore, sem norte e desnorte, com uma justiça injusta, numa vida curta...Fecho os olhos e deixo-me levar nesta rua sem nome onde o palácio está sem Rei, onde sou recebido numa sala sem chão , onde me sento-me numa cadeira sem pernas , onde cumprimento um homem sem mãos , onde bebo dum copo sem fundo, onde escrevo uma carta sem tinta , onde passeio a trela sem cão, onde embalo uma filha sem colo, onde parto em viagem sem bagagem, onde cavo o solo sem terra, onde visto-me sem corpo, onde pinto a minha tela sem cor, onde subo uma árvore sem troncos, onde navego no rio sem água, onde mergulho num posso sem fundo, onde te amo-te sem te ter...
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