quinta-feira, 31 de outubro de 2024

Hoje fechei a porta que em círculos e cercos, fechou as margens e estancou num pântano o silêncio, consumado na pálpebra cerrada que trancou as sílabas na perfeição do dia, sem enfrentar o íngreme e noturno verbo que esmagou a raiva ao desbravar o vazio do lugar final! Demoro-me nas linhas das palavras, seco as letras, lentamente demoram-se-me os gestos, mais do que seria de esperar, na dimensão dos dias que os enleiam. Ignoro os nomes das coisas e as palavras enrolam-se. Presença inútil a da música que tanto gosto, petrificam-se as emoções e na espuma dos sonhos, dispo-me, gera-se o frio, igual ao de uma pedra sem ângulos nos dedos que ferem a coragem...Não há paz nem na sombra, nem nos claustros, que roçam a dor na demora dos gestos que Inquieta-se a lucidez, fermenta o rasgão no espelho, perde-se a semântica dos sentidos. Hoje é este exercício da escrita que faço, mas!! Este tem de ser um exercício de prazer! Podemos senti-lo como fonte de maior ou menor sofrimento se nos centramos nos nossos dramas ou nas nossas dores. Mas isso seria demasiada exposição trazida aqui a um lugar visível, por isso criamos, então, personagens vivas em metáforas,falamos por elas, porque elas, não se acomodam ao normal curso do tempo e declinam com o voar das folhas secas...Abrem a extensão dos mares, aconchegam as saídas do tempo, em pequenos nadas que transformam em grandezas de encher vaidades. Hoje neste ato criativo uso apenas as palavras de sentimento, em distracções de bem-estar e anseio, em exercícios de representação do que não foi mas podia ter sido, em projecções dos nossos desejos ou dos desejos dos outros, já que os adoptamos e adaptamos. Quando existe um eclipse existem dois corpos celestes, dois centros,mas nunca sabemos qual dos dois corresponde ao que está para além do nosso olhar. Não me levem a mal, os que, pensam, os que acham, os que julgam, os que pressupõem, os que se acham no direito ou na posição, ou sem posição e a torto… de me julgar, de censurar, de caluniar em vão. Não sou pessoa de me reter por pressuposições alheias. Não me intimida o olhar de quem nada me diz. Se é liberdade que todos anseiam, dispam-se das leis que não fizeram. Tolos são aqueles que pensam que podem a alma aprisionar.

quarta-feira, 23 de outubro de 2024

Hoje vejo esta luz intermitente sigo-a e não paro, mas quando o sol declina e a espuma se atravessa nas palavras… Começa a Vindima de ilusões, composição filtrada, para além deste céu onde a luz não pesa, mesmo que esteja quase apagada! Todo o passado fica sujeito a um inventário, enquanto o futuro faz-nos reféns. Sobra o passar dos dias, a sucessão das noites e a curva perante a prática, onde eu apenas tardo diante das letras impressas não por desamor ou por inércia mas pela proporção dos sentidos. É na inquietação antiga do querer e do não querer, que folheio as palavras e verto-as depois. Bebo-as, servindo-me delas para agitar a seiva nos meus dedos e ao senti-las percorrer todos os lados do meu corpo detendo-me na sede satisfeita ao deixar sair das mãos desenhos que os dias vão compondo! Hoje basta-me seguir a direcção das minhas mãos abertas vertendo-se, em letras fáceis, nos degraus do meu prazer... E em dias cheios de planos destruídos este é o único amor a que me rendo...A única cedência que acabo por fazer! Volto a olhar essa luz intermitente, vou e volto como um farol que não se cansa de rodar e rodar e rodar sem vacilar, sem nunca parar...Em mim! Remexo nos meus bolsos vazios, é ai que vou encontrar as histórias planas que aí colocara pela insignificância do dia, ou pela sua dimensão de esboços mal começados e que as vou enchendo de palavras como se enchesse de sentidos uma coisa sem forma, sem rosto, mas que me leva ainda assim a tentar algo criar...Digo ainda que podem ser histórias de partidas, histórias, rumos ou de feridas causadas pelo romper dos sonhos colados à pele. Histórias de desejo. Histórias que com vento,fizeram em mim a projecção do ser no ser ou noutros seres cujas vidas se decalcaram no plano da minha ou noutros ainda que, tenham entrado na janela do meu recordar sendo que tudo o que se recorda está em confusa arrumação numa arca de criações múltiplas. Por isso são sempre histórias...Opto por abraçar-me a mim mesmo e deitar-me no peito das estrelas ...

sexta-feira, 11 de outubro de 2024

Hoje vê-se o mar da cama, e à volta desse mundo, os sinais de uma vida descuidada, deixando cair o copo da mão e a boca ou o olhar tentando prender um gosto, que a janela aberta, deixa trespassar pela paisagem bêbeda, com a terra ancorada no horizonte do olhar, decrépita discutindo com o vento, enrolando-se como quem se converte em poeira… As ondas revoltam-se contra as águas que já nem se defendem desse seu sal afogado. A luz do dia de hoje não cumpre horários, vem vagueando à superfície do céu meio ausente, parece que o mundo revela sinais de se acabar! Faço as malas, bebendo águas claras com um som que se intromete nas veias, essas amadas estruturas do corpo que se resguardam em tão poucas linhas com a sua lealdade eterna às coisas ásperas…Elas sabem dispor secretamente as intimidades da paisagem no seu exato lugar. Fiz as malas e saí, arrastando tudo, mas não encontro a noite, o seu timbre, essa pura distância com estrelas, que parece não ter fim, mas apenas nos chegam uns restos, à noite levantada outra vez como uma torre, tudo o que oferece luta antes de por fim… Hoje a noite e o silêncio volta a fazer-se alto, e eu foco-me em tudo de bom, escuto as melodias perfumadas de maresia, daquele mar, iluminado pelo manto do luar, que afagam meu sentir em carícias de fantasia, segredando que a alvorada será eterna em mim! Porque, apetece-me navegar na serenidade, das ondas da minha felicidade, esquecer as horas esmorecidas, dos dias de sol apagado, pelas angústias caladas! Apetece-me absorver o ar da maresia, das minhas saudades, fechar os olhos às tempestades, dos desalentos vividos!Sim porque todos os temos, mas!! Apetece-me escutar os murmúrios das fontes de águas cristalinas, cantando sentidos, jamais esquecidos! Apetece-me pensar no futuro sem o desalinho das consciências, e deixar que este tempo presente, se dissipe entre nuvens de esquecimento! Hoje nesta noite volto a ser irreverente ergo as mãos como quem consegue fazer com elas a paz e a guerra, porque há mãos que são para cultivar a terra e outras as que afagam os sonhos...

sábado, 28 de setembro de 2024

Hoje o tempo corre na nossa margem, e sem nos violentarmos, voltamos costas ás desordens pré-estabelecidas que as palavras e os seus multiplos silencios descompassados nos deixam nas mãos...Apredemos com essa forma de estar, a habitar, nas catedrais vazias do nosso olhar, no abstrato da vaidade que nos deixam infinitamente frágeis e pobres perante o imprevisto...Estou cansado, atingi hoje o mais um limite,que está continuamente a ser renovado, hoje gostava de comofecha os olhar, como quem dorme deixando de existir! O cérebro, não tem força para retomar o controle do resto do corpo órfão! Sinto falta do verde das árvores, neste caminhar que ignora a perfeição até de forma ofensiva, da cinza espalhada pelo caminho deste bosque... Eu gosto de me lembrar dos amigos, isso gosto, e sinto saudades deles todos, e é desse modo que diariamente lhes reafirmo a minha fidelidade. Assim, só em lembrá-los, os amo. Amo mais gente, como negá-lo mas excluo o adverso, ainda que, cada vez me sejas mais disperso e ilegível. Muitas vezes, embalo meus vivos, os meus mortos, muito junto do coração, e rio, e choro...Este misto de sentimentos que colidem no meu olhar quando , ouço música, vejo um filme, ou simplesmente naufrago na intensidade de tudo o que cabe num simples pensamento ou até mesmo num poema! Os poemas quase sempre estão a abarrotar de tragédias, pressinto-as, mesmo que belos, os versos sejam, por isso cada vez mais, admiro os poetas que leio que já li, são magníficas as cidades que os habitam, em momentos de lenta clareza é possível alcançar, sob uma luz imprecisa, a janela de uma dessas cidades...É ai que, julgo poder apanhar pequenos fragmentos da luz palavras que devoram o prorio criador...Somos feitos de palavras, elas são a nossa única realidade ou, pelo menos, o único testemunho da nossa realidade! As palavras são agora árvores altíssimas, tão altas que seus frutos existem apenas para além da extensão dos meus braços... A luz que delas irradia é sombria, mansa e misteriosa como os dardos luminosos que caem na floresta, ao sol pôr. É um inigma cada letra do alfabeto cada voz que se desnuda, lhes dá um tom diferente, junto todos estes ramos caidos destas árvores, como lenha para acender o lume do poema que percorre um manto de silêncios carregado, de vegetação rasteira, sob os meus pés indecisos...

domingo, 22 de setembro de 2024

Hoje com ponto por ponto, vou costurado, a fachada deste meu coração, mesmo sem nada ser espontâneo, mantenho.me no caminho sem ceder ao desvio, para no sinal de hesitação, mas… sei que não. Leio-me sem pausas e sem pressa , pois o trilho que percorro ainda tem luz para penetraer no meu coração... Imflamam-se os vitrais do olhar, desta vista cansada de espaços, numeros, silêncios onde as palavras nem sempre são juvenis! Deixo continuamente um espaço em branco, entre linhas como um verso em declinio nas estrofes que precedem o infalivel ponto final que com idade, são como espinhos ou pequenos ciclos que nos mostram diferentes visões de um mesmo caminho! Como se apenas mudassem as janelas por onde espreitamos, mas fossem os mesmos momentos os visitados, bem como os olhares a visitá-los. Quando as mãos se reencontram o tempo, ficara gravado por entre os dedos, sonhos que se não fizeram, sequer se ponderaram a pulsar de intensidade, como se chorar, assim, sem vergonhas oferecesse um amanhã, para, outra vez fazer tudo bem, ou talvez aprender mais um pouco... Sinto que somos donos de um privilégio, quando escutamos o nosso interior, e a isso eu chamo de, alquimia onde e teimamos em asfixiar o pensamento. É neste agora que perante todas as estradas só podemos decidir ir frente, por uma qualquer mas nunca esquecendo de onde viemos! Se conhecer-mos outra dimensão, que uns lhe dão nomes que não entendemos, como vamos conseguir juntar as peças todas e construir-nos de uma só vez?! É tao confortável sentir-me em silencio, atirar as minhas mãos, e desafiar o vazio… fica mais fácil, desprendo-me do sentido e aceito-me por um momento, as mãos libertaram-se do momento e fizeram o passeio do tempo. Entre o nada e o agora, poucas coisas são tão belas como a liberdade. Um forte abraço com sabor a tudo percorre o sentido das letras que se juntaram, o imediato parece diferente, visto de perto! Sonhámos com montanhas, porque lá em cima tudo parece possível. Pois quando alcançarmos a planície seremos apenas uma memória. As mãos baixam, o peso dos dias, aniquila a imagem do sonho foi tanto e depois apenas tudo aquilo que é. Hoje tenho em mim a cor dos tempos, desse feito de momentos, em que os sonhos eram querer e a vontade era poder. Tenho as lutas e os instantes, em que o exausto me quebrava, pelo medo dos passos que ensaiava. Tenho os risos e alegrias, dos momentos que busquei e o orgulho assumido, concreto e tão definido de tudo o que conquistei. Tenho as dores do que perdi, dos meus sentires intrincados, das palavras mal empregues, dos sonhos alinhavados. Tenho universos de estrelas, em brilhos de amizade, partilho sentires feitos de verdade e isso para mim é morrer de amor e ainda assim, continuar vivendo!

quinta-feira, 12 de setembro de 2024

Hoje o rugido mudo das estátuas de pedra e ferro, na minha vida pulsam neste turbilhão de gente apressada, talvez seja o sol ou a sua Luz excessiva, talvez, não sei! De súbito, espalha-se no ar o desalento de sonhos mal nascidos, mas, os passos passam, traçam roteiros nos olhares que mal se cruzam, que mal se tocam nestes mapas de vida onde as linhas pateticamente paralelas se refugiam, solitárias, ao som de pequenas notas musicais. Aqui na rua debaixo dos candeeiros desabrigados, que acendem-se em falsos sossegos e o chão, converte-se num imenso tapete rolante...É ai que as minhas utopias, descem dos céus pela gravidade que me amplia e abrevia na distância que o meu nome carrega na secura dos labios do desassossego ... Tem dias que engulo a vida como um chuvisco onde a voz derrama-se no coração num ruido de tudo debaixo de uma claridade de ti minha filha...E inspiro, e expiro mais devagar, não vá a aragem querer desdizer, como tantas vezes desdiz, a consistência do instante. Nenhuma palavra ousa a subida aos lábios. Fico imovel, como vidro frágil de candura e silêncio, que pouco me define...As minhas mãos mendigas, as nossas, agarram-se à insuportável ternura dos dias, que tanto tem faltado paulatinamente, apenas pergunto porque!? Sinto-me longe, do lado aveso do coração , mesmo estando na sombra do equilibrio das mãos que razam as folhas caidas que o vento arrasta nas vozes que nos libertam de uma existencia minima...

terça-feira, 10 de setembro de 2024

Hoje já dentro do setembro volto-me para trás e vejo-me e invariavelemte, tb vejo tudo o que levantou a mão e disse adeus, nas margens deste rio que corre a nossos pés e corre agora vasto entre nós sem nome, que qualquer um, porém, o nomeará com justeza exceto obviamente o do esquecimento. Ainda que alguns se julguém efémeros, sabemo-nos imortais enquanto de uma janela da memória, alguém na outra margem, nos acenar em sinal de presença... Nem sempre é fácil falar dos dias. Mesmo nos mais solarengos, gravam-se as sombras nos nossos pensamentos, ou nos meus, apenas! Os dias nunca se repetem. Qualquer pensamento em contrário, qualquer pensamento maior ou menor que contradiga a afirmação, ser-me-á completamente indiferente, porque os dias não se repetem...As lembranças dos dias felizes. Alguns, na eterna repetição de calendário, já são apenas tristes, ou muito tristes. As gargalhadas não se repetem, os silêncios não serão mais ouvidos, as partilhas... Nada nunca mais será igual! Ainda hoje ouço uma voz voz... Os dias não se repetem, nem as lágrimas, estas serão sempre renovadas, nas águas que correm no meu rio. É clandestino o destino, destinou-me a esse lugar, onde os céus invocam nomes, nas mãos das palavras ocultas, a tactear no silêncio de tanto lamber o mistério da eternidade que a cada segundo em que me ausento de mim mesmo, me faz com que me sinta a embalar até que adormeça uma criança....As palavras cansam, nos seres que são de outros mundos, só lá existem verbos à altura dos tempos que correm. Grandes, sábios, fecundos, capazes de fazer deslizar à superfície das frazes nas mais impressionantes ruínas do Tempo, à vista de todos, na sepultura do desmembramento humano. Que gume é este que nos fere a alma, à saída dessas páginas tão autênticas, tão verdadeiras, tão reais? Que gume é este? Apenas comparável ao absurdo, como um jardim sem rosas, um coraçáo vedado ao amor numa especie de extreminio no feitiço das palavras...O deslumbrado orgulho de alguns, mas poucos, faz-nos fracos, obrigando-nos a ajoelhar-nos perante , deuses que ora, aparecerem ora, desaparecem, como um sol entre nuvens. Esses, jamais os poderemos chamar de casa, por isso façamos de conta que nada mudou, agora que o verão está a findar, e as folhas mortas já se amontoam, nos cantos do pátio dos nossos sonhos, façamos de conta que tudo ficou como era antes, por fim, apenas como as palavras soltas que nunca souberam pronunciar...Façamos de conta… Afinal o verão acabará como tudo acaba e, imparável, o outono se tornará na estão do olhar...Hoje eis-me diante de vós, com um branco esvoaçante que a simplecidade alcança, neste meu jardim de palavras de fogo...

quinta-feira, 5 de setembro de 2024

Hoje sento-me à espera da passagem, na qual e de volta passaremos a ser apenas o pó da terra e a matéria que já não existirá! Hoje formatados em complexos e administrados pela competência do "Criador" inexistirá também a dor! Todas as dores. As das traições, aquelas outras das desconfianças, as das mentiras e ingratidões e outras tantas como a de nos sentirmos menores por não estarmos com um jaguar ou com aquela gravata exibida pelos milionários nos eventos nos quais os vinhos tintos tem gosto de sangue! Quando vier a tão falada e esperada, passagem, seremos apenas luz projetada no infinito do espaço. Só em pensar que nos livraremos dessas injustiças sociais que, no final de contas, caracteriza-se pelo absurdo de que apenas uns milhares de pessoas privilegiadíssimas possuírem tanto quanto o resto da população, basta vemos um continente como o Africano considerado pelas grandes nações como o vaso sanitário da humanidade, faz-nos a todos, torcer-mos o nariz, mas ainda assim vamos aguentando por aqui esses solavancos existenciais. Chega de hipocrisia, chega de ver aqueles que acumulam riquezas, subtraindo os outros para tal acontecer...Sinto que pessoas assim nem imaginam o quanto desqualificadas são! Não sei se o fazem já de forma inconsciente, mas era bom que ficassem plenos de que suas vidas tem tanto valor como outra qualquer...Hoje pergunto que outra liberdade psicológica temos nós senão a liberdade de sonhar, esse é o desvaneio de quem se sente livre, porque não nascemos para ser iguais a ninguém, náo crescemos a olhar para uma vida que não nos pertence, não vivemos a pensar num passado morto e muito menos num futuro sem amanhecer...Não julgo pela aparência e não comparo caminhadas incomparáveis, não acredito que tenha de carregar o mundo dos outros nas minhas costas, nasci para olhar em frente e viver apenas uma vida, presente sem o peso do passado e a ansiedade do futuro. Procuro conhecer o conteúdo das pessoas e amparar pessoas na sua caminhada, assim como me tem amparado a mim, desejo voar ao lado de quem me reconhece os defeitos e virtudes e assim, pousar onde consiga ser eu mesmo, porque a vida não é de todo um passeio, mas também náo é uma corrida... A sê-lo, vence quem aprecia tudo e não quem corta a meta em primeiro lugar...Hoje olho para a vida como uma escola, aprendo e ensino todos os dias, não quero uma vida perfeita, não quero ser vitima nem culpado, não quero ter medos, não quero ter planos a longo prazo, só quero paz interior para aguentar as tempestades da vida e coragem para aceitar o que não consigo mudar...Só quero manter acesa a chama à qual dou o nome de “acreditar”, porque as leis da vida, são as leis do coração...Tudo aquilo que me faz bem é lei da minha vida!

sexta-feira, 30 de agosto de 2024

Hoje nem tempo tive para me sentar na quimera do tempo mas, ainda assim!! Olhei a rua vazia de emoções, através da vidraça embaciada da minha janela, de onde posso ver o mundo, pequeno mundo que me cerca…Senti o frio da tarde acinzentada que me invadiu o sentir deixando-me desconfortável pensativo! Serenamente fecho os olhos e imagino ao som desta brisa turva na fascinante dança da natureza que entrelaça os ramos como se de magia se tratasse nas árvores no crepúsculo da tarde que se agita em meu ser feito coreografia … Parece um tango, quando os ramos se juntam neste sentir, rodopiando silenciosamente ! Que final de tarde este, onde os telefones não param mas!! Ouso ignora-los focando-me apenas nesta sonoridade fantástica que se desenlaça como um frenesim que me encanta… Abro os olhos e a noite começa a cair ininterruptamente e me faz retornar à realidade que nem o sonho me pode fazer ignorar, despertando deste momento que vivi sozinho no encalço da minha janela cuja vidraça está apenas mais embaciada… Olho para as minhas mãos...E não sei o que têm para contar...Estiveram tanto tempo esquecidas que têm medo de falar...Se ao menos existissem outras mãos...

segunda-feira, 26 de agosto de 2024

Hoje neste ínfimo lugar apenas reconhecemos, as distâncias implacáveis, os corpos e o cansaço, a estranheza que se entranha até só o escuro poder transmitir-nos alguma calma...As vezes gostaríamos de esquecer sentidos, e outros tantos que fizemos da noite um hábito imperioso...Servindo-nos de um foco de luz para ir soletrando, provando o espaço como quem bebe goles de vida! Antes tínhamos o perdão dos substantivos, a textura e os tumultos de impressões raras, nomes intrusos, e a resina de umas poucas imagens, hoje raspamos o pó que sobrou, para escrever a letra de uma canção, como se a ferrugem dos tempos, fosse uma espécie aguardando algo mais de outra, e é ai, que damos pela falta do mundo, ainda que o não saibamos explicar! A dor ensina a encher um copo de cada vez, e a bebê-lo como quem toca um instrumento, e depois tombamos melodiosos por aí... sem ter onde cair! Existem mundos, dizem-se povoados por choros de culturas antigas que depois do medo ascendiam ao fogo que se fazia crescer entre as mãos e seus reflexos na mais terna Doçura inconsciente dos objetos que se tornam selvagens pelo uso que lhe damos... Por iso eu peço o tédio para alcançar a simplecidade e esta que me faz estremecer perante mim mesmo e nenhum espelho ousa copiar! Que copie as cicatrizes, mas jamais a simplicidade do ser que bebe rastos de lua nas lascas do mármore restintuindo a luz secreta à vida...Tudo se converte na dureza do osso, eu igualmente me converto, em cada passo que atravesso na noite ferida por mil vozes recordando cançoes de água salgada, perdão a todos, por não conseguir sonhar, por não conseguir dobrar o joelhos diante do altar da vida, e percorrer as cavernas ocultas do meu coração! É clandestino o destino, destinou-me a esse lugar, onde as flores não têm nome, nas mãos das palavras ocultas, a tactear lágrimas no silêncio, no secreto mistério da eternidade. Hoje peço que se semeiem estrelas no areal para que o tempo não morra, a cada segundo de ausência. Que se sacie a sede, na água salgada e na ondelação das marés... A terra tremeu e o sol e a lua entrelaçaram os seus fios de luz, na teia dos sentidos, ficou o cheiro a vinho maduro, do mosto do meu meu corpo efervescente, que se tenta agarrar a palavras pela vida! Um dia virá, em que as palavras serão palpáveis, e os sonhos terão contornos definidos... Nesse dia o tempo irá parar, e eu, diluir-me-ei nas cores que sei de cor, e ai também eu farei parte do infinito...

quinta-feira, 22 de agosto de 2024

Hoje devo ter batido já um deserto inteiro, à máquina, cada grão uma sílaba, e não vejo o fim disto, nenhum eco me trouxe o que buscava, e, hoje seria uma ofensa se alguém o tentasse trazer! Tenho cinquenta, os pulmões cheios de musgo. Quem nos lê, vê-nos por aí entregues, aos restos mortais do impossível, a minoria de que fazemos parte, tu e eu e uns poucos mais, esforçando o ritmo, para atingir o âmago, tentando fazer saltar, o reverso da vida. Mas!! Para quê? Seguimos para o funeral de outro de nós, alguém que puxou a sua rede um pouco mais cedo...Hoje sinjo-me a lavar a loiça, os pratos estão alinhados, é apenas um! Sentido de ordem que antes levava alguns a viver de roda de um soneto, fico aqui no alpendre, enquanto acendo um cigarro e o deixo nos lábios do tempo, ardendo a sós, apreciando a colecção de garrafas, com as suas diferentes medidas como se fossem vasos com um pouco de terra e mais nada... Recordo, gestos vivos, perfis genuinos intactos, após três dias de terror, diante dessa esquiva graça, e se uns se desgraçam perseguindo formas, outros perderam o juízo entre murmúrios, parecem alimentar-se de sons, devorando as intimidades do idioma. Talvez isto possa ser o suficiente, mas!! Pelo pátio espalha-se a poeira, mal se escutam as passadas ofegantes, pouca coisa tem a dizer-nos este tempo, as grandes lições os triunfos a sabedoria que mais nos comove os sussurros da seda, as melhores vozes tudo o que vibrou e deu gosto aos dias está por aí enterrado, nos textos, e os amantes colhem toda a exuberância... No passado, os mais tumultuosos reflexos, ecos de flores, dos corpos, dão-se sacudindo o ouro, para que se possa de novo, respirar, para que os milénios passem por nós e nos ofereçam o seu abalo... Se somos velhos, essa paixão do que se respirou sobre a terra é o que fala ainda por nós! Hoje digo, se não fosse a compaixão que nos arrasta para dentro da terra e os devolve ao pó, se ela não se ocupasse nós, o que seria dos incapazes de obras ou de um sincero sorriso? Apenas restariam por aí, esquecidos de si próprios, sem esse gesto que afinal é doce e compreensivo! É essa a última dignidade, que alimenta a necessidade da recordação, libertando música que leva os fantasmas que ainda nos falam, perguntando pelos gestos de que vivemos suspensos, essa trama íntima sacudida assim é tudo o quanto ela nos tira, é disso precisamente que o ser humano num tempo tão desolado como este, deseja para erguer a sua árvore! A luz não nos obedece! É difícil segurar-nos e persistir, tão à flor de nervos desarmados, saber de nós nesta língua de farrapos, a rebentar de ecos, roncos, entre tantos remoinhos, regressos a outras idades, as misturas, e os estragos que isso faz num homem, a consciência zunindo com um gosto a tempestade, e mesmo desconfiando da própria respiração, vemos o que nos resta com toda a força, as evidências extraordinárias do que se abate contra nós, e se escrevemos é na ânsia de dar ordens ao tempo, humedecer-lhe os lábios, para deslizar entre essas formas leves esse modo de evadir-se, que deixa aos versos aquele tremor das grandes verdades...

domingo, 11 de agosto de 2024

Hoje pairei no vento, enquanto este elevava as folhas na promessa do final do veráo, não sei se o céu estava desprevenido na face da sua ausência, mas, confio na estação vindoura, como o arial, fosse um mapa, exposto na sua fina fragilidade do relevo imposto. Visto a armadura preparada para os contratempos, sei que as lágrimas são apenas a tatuagem da angústia que emerge na pele nos dias sombrios, sei que os ofícios que me destratam não pedem favor, mas também sei onde está o refúgio em mim, nessa bússola que levanta o olhar para a paisagem oceânica onde são inventariadas as nossas vivencias. Eu há muito que descobri que a pele contrariada é apenas um peso medido pelos sobressaltos, como uma mão que ergue a meio da tempestade e a concilia… Sinto-me como um corpo que se mete no estuário deste rio, sem medo da maré-viva. Sou apenas mais um lugar da vida , mapeado de cicatrizes, que se reagrupa como moléculas que compõem os palcos de outrora onde um tempo se jogou. Mas , esse tempo está fora do jogo. Agora, sou eu que estou fora do tempo. Congeminando à minha intemporalidade. Sei que posso sair das fronteiras do tempo e procurar-me em qualquer mapa de vida, é como se tivesse descoberto a porta do tempo que me fornece múltiplas possibilidades de ser apenas eu. Não me escondo atrás de biombos que diminuem a minha estatura. Não fujo do que sou. A minha estatura é a dos mares todos juntos. Jogo as marés no propósito da minha viabilidade, não no propósito da minha visibilidade . Sinto que sou mais do que o corpo que o espelho mostra. Não preciso de paradeiro ,sou um mapa que se reinventa. Todos os dias.

Hoje vos digo que muitas vezes criamos um paradoxo em nossa rotina diaria, podemos até ter feito de tudo, virar os dias do avesso, quebrar ...