quarta-feira, 29 de junho de 2016

Antecipei sempre os olhares no longínquo horizonte, quebrei todas as sílabas silenciando as agonias, deixei arrastar as águas dos Invernos, sobre muralhas de vida presas ao compromisso!! Aliviei com silêncios a dor do meu voo, cortei com a vida a ponta incendiada das asas onde escrevi textos e textos no lavrar do medo sobre jardins plantados na margem do meu mar!! Aceitei o gelo dos areais por temer a oscilação das dunas, enquanto me deitava hirto dentro da escuridão que cobria o musgo anunciando a Primavera sobre as farpas agudas de todos os argumentos… Recolho agora da neblina do cheiro a véus, a maresia, vinda de espelhos de memórias e gestos por dizer… Deixo arrastar as águas de todas as estações, sobre o imenso charco das pedras calcinado na minha vida. Um dia vou sonhar com aquele toque de magia que transforma todo o rodopio em beleza, vou subir aos limites da atmosfera deslizando sobre a minha alma poética no empedrado que se subtraí da minha vida!!!

terça-feira, 28 de junho de 2016

Hoje eu sei que podia escrever uma poesia de letras para uma vida de sonhos mas!!! Apenas saboreio cada palavra, cada frase; como se fossem únicas. Não sou criador de rimas! Unicamente quebro as palavras ao meio... Destruo frases para construir pensamentos, histórias e não poesias. Uno com palavras que vem de de fora, a minha mão a uma folha cheia de suspiros. Jogo acentos no chão, encurto virgulas ...puxo a exclamação...prego a indignação...Escrevo como uma muralha irreal que está em nossos caminhos e destrói nossas fortalezas. Depuro palavras sobrepostas, compondo silêncios ao descoberto de vós!!! Labirinto-me em palavras que, quando bem proclamadas lavam olhos com lágrimas por todos vertidas... As palavras percorrem-nos, como sangue a pulsar..Tocam-nos os sentidos, como o mais inebriante dos venenos. Fazem-nos perder e achar o norte no mesmo caminho...
Deito-me todos os dias fora de horas, mas sei que adormeço antes, talvez tenha perdido a noção da alternância entre a lucidez e a noite escura!!! Adormeço de olhos abertos sobre a mesa onde os papéis descansam de mim. Assim fico, inerte no olhar da vigília, até despertar das imagens ou dos desejos cada vez mais definidos, escondidos debaixo de algumas letras que repito desconexamente. Mesmo em dias tempestuosos, transpirando sob o frio que gela a casa pelo lado de dentro, adormeço nos gestos e nos olhos ainda abertos mas sem noite que os faça descansar. As paredes são iguais todos os dias e eu, de olhos abertos sobre a mesa onde as folhas dos livros me rejeitam a vontade, forço contas de cabeça em volta de parcelas apagadas pelo tempo mas o tempo esse foge-me pelos dedos!!! Deito-me e todos os, de olhos abertos mas sem parar para pensar, dou comigo sem sentidos porque os perdi na busca de razões para que o mundo seja este girar contínuo de interesses que nunca são os que interessam, enquanto as pessoas se batem e se combatem por convicções que as viram de costas umas para as outras. E também se abatem na necessidade de confronto. São poucas as horas do dia e é pouco o tempo para aquilo que verdadeiramente é importante, parecendo que a importância está nos argumentos da afirmação falível. Já são poucos os dias em que não me deito fora de horas, fora de mim, e se o desejo permanece é porque se alimenta desta vontade de passar para além da realidade e negar aos olhos e ao entendimento a aproximação precoce de um precipício . São poucos os dias em que permaneço inteiro. Hoje deito-me muito cedo certamente antes de cair a noite e vou rebuscar as peças para me enformar mais uma vez, colando-me destes pedaços que me compõem !!!
Todos os dias sinto que o tempo se subtrai, se esgota de um todo!!! tudo parece ter acontecido ontem, outras vezes parece que foi á décadas!!!. Décadas são intervalos de duração prolongada, quando ainda se está no lado de trás do fio esticado. Se quisermos filosofar olhamos para a esquerda e vemos o passado Antes de Cristo se olharmos para a direita (Depois de Cristo) deslumbramos uma linha infinita, sem sinais de começo a não ser o toque e no olhar entre os seres…. O fim é o resultado da subtracção e da dialéctica entre os dois, embora se acredite sempre no prolongamento a vida tem já o seu tempo pré definido!!! Enfim , todos os dias afrontamos os ponteiros do Relógio que leva nas suas rédeas invariavelmente as noites e os dias que se sobrepõem, todos os dias me parecem começos de fios rasgados ou mãos que ensaiam nós para remendar o avesso de um todo antigo, todos os dias relativizo a minha existência em função de um todo. Mas nunca ousarei esquecer a minha dimensão em nenhum dos dias!!

segunda-feira, 27 de junho de 2016

Não vou esconder que sempre quis ter um dom, uma arte ,pintar, desenhar ou cantar. Qualquer um desses dons para mim, certamente valeriam a vida. Mas!! não os tenho!! Porém descobri que os tenho sim, juntos, camuflados,que se somam e se anulam uns aos outros. Quem disse que quando escrevo não desenho nas minhas linhas tortas o rosto daquilo que me falta? E os meus textos não serão quadros mal pintados de um passado que não volta e um futuro que não vem? E meu canto???. Ah!!!, meu canto é um dos mais raros cantos, só ouve quem canta também... Só ouve quem compartilha da minha dor!!! Um dia eu pedi três dons,e os anjos deram-me um em que cabe os três...
Eu não tenho habito de dizer frases feitas como “quem se define se limita”. Sabem porque? Porque me defino sem me limitar porque sou uma mistura do eterno e do querer. E eu quero tantas coisas que não cabem em mim, mas que sempre encontro espaço para guardá-las dentro dos meus sonhos.Moral da historia sou certamente tudo o que já vivi e o que irei viver!!! Posso até ser dramático , pensativo , iterativo, persistente, amigo, abraço, sonhador, provocador e por vezes caminhar em contra-mão, mas nunca hei-de me conformar com uma vida pequena , os meus exageros não cabem nem tem uma ordem, se estou no mundo é para sentir e o amor é algo de divino. Ele, é uma dimensão sem qualquer medida, é uma viagem sem qualquer destino, é um caminho sem fim, é não ter de perdoar, é não querer e dizer que sim, é dar tudo o que existe para dar...Amor meus amigos!! É um silêncio que fala é um sopro de nostalgia é uma canção que faz das trevas dia e o dia em trevas ! Amor é um sussurro de magia que alimenta a alma, é perder o coração num olhar

sexta-feira, 24 de junho de 2016

Se um dia eu entrar numa história, eu não serei apenas um trecho!! Quando eu entrar numa história, eu não serei apenas um ou dois parágrafos...Quando eu entrar numa história, não serei uma parte ou alguns capítulos. Quando eu entrar na história, serei a história inteira. Quando eu entrar numa história, serei o seu começo, o seu meio e o seu fim...Se um dia um mensageiro chegar com um livro em branco por inteiro, as minhas mãos vão emergir dos céus e vão agarrar, pincéis e tinteiros, e com o dom que me deram irei compor com a inspiração de duas almas, as mais lindas linhas do amor...Certamente deve de haver por ai quem se ria de mim por eu ousar ser diferente , mas!!! lembrem-se que eu rio de todos vocês por serem todos iguais ...
Hoje irei propagar a minha nudez e espelha-la na Lua sobre um manto de águas frescas e puras expondo os meus cabelos ao vento... Suplicarei apenas uma brisa morna que me envolva suavemente,... Pousarei minhas mãos no meu semblante mágico que me envolve e ofusca perante o cosmos, desenharei as horas Que durmo na saudade e deixar-me-ei cair assim....assim... Serei feito de plumas de luas e mar vestido de asas brilhantes do olhar, Serei mentor de palavras de amor para dar!!! Serei ternura sem bravura perdido na rua onde espalhei a minha alma derramada nos olhos atentos das estrelas que os fantasmas perderam nas paisagens ressentidas não mais reconhecidas…
A minha vida é um traço, sem espaço ! Confuso, onde abuso das palavras num mundo solto de rituais, lambendo as atitudes que dia após dia me oferecem o sublime, luar vazio e repleto de sinas … Refugio-me numa herança, de ortográfica e gramatical polémica e irreverente que a luz deste céu que me cai me brota nos dedos sedentos de paixão…Não sou popular, sou simples, corriqueiro, embriagado por sete mares que me afundam neste oceano de ventos !!! Queria ser mágico, ousado mas não sou!!!Mas afinal que sou ? Nem sei , mas acho que sou o calor da alma , sou um eclipse sem lua e sem sol , sou uma fragrância de uma vida aberta no orvalho dos olhos críticos de quem gostava de ser melhor e de ter mais amor… A todos os que berram bem alto até ás nuvens pergunto, vale a pena a luta e a guerra dos nossos anseios inebriados?
Há um pensamento chorando dentro da noite que se ergue , há um pensamento virgem, solitário que roça no meu olhar!! A chuva partiu mas não sacudiu a tristeza, vejo o luar aos meus pés mas não lhe consigo tocar!! Há um pensamento chorando dentro desta noite esquecida…Vou deslizando pela correnteza suplicando a mão das estrelas…Vivo num pensamento com sono e sem poder dormir…Sou marinheiro, vêem-me sem me compreenderem ...E de novo acredito que nada do que é importante se perde verdadeiramente, apenas nos iludimos, julgando ser donos das coisas, dos instantes e dos outros...Na minha vida caminham todos os mortos que amei, todos os amigos que se afastaram, todos os dias felizes que se apagaram. Mas acreditem que não perdi nada, apenas deixei a ilusão de que tudo podia ser meu para sempre...Não se incomodem!!! São palavras leves aquelas que aqui escrevo , sem peso, saem apenas da alma nesta rudez dos meus dias que me esvaziam...
Hoje estou na esquina do pensamento, viajo nele rumo ao infinito que apenas desponta na curva da incerteza do encontro e é lá que vou tropeçando na certeza de todos os desencontros. É neste chão dos sentimentos, tento trepar ao telhado, na expectativa de melhor sentir todos os perfumes inebriantes que me chegam dos céus, trazendo no olhar a saudade, deixando que uma lágrima de cristal desça, acariciando o meu rosto, para me falar das reticências de um qualquer adeus!!! Mas é no mar das minhas ansiedades que me faz caminhar descalço, enganando a tristeza, calando os medos, seduzindo o desejo onde tudo se encontra e nada se completa, chegando !! Sonho com a cabana dos cios, onde o meu corpo em linguagem impura, se entrega sem o mínimo de razão, neste frágil refúgio ao prazer da procura.

terça-feira, 21 de junho de 2016

Hoje eu me nego a falar sobre as imagens que guardo em meu coração! Se carrego alguma dor ela provem da existência de laços inimagináveis das conversas que giram em minha cabeça, dos sorrisos lidos no olhar, do choro livre de um semblante vil que me nego a voltar a sentir!!! Já tentei transportar os sentimentos, unindo as distâncias entre os sonhos laminados e vontades imperfeitas tal como todos somos!!! Ainda que não passem de platónicas!!! Já senti a solidão dos Oceanos , as palavras como laminas , os ventos em fúria na janela da solidão, já colori de cores infinitas as galáxias que parem as estrelas , já desvendei segredos guardados no ventre da terra, já escrevi mil palavras entre pratos quebrados , pedaços de versos inúteis servidos na mesa do silêncio e da divisão. Olhar o céu sem nuvens é como andar pelas areias dos desertos , é uma solidão assassina que nos deixa sem companhia!!!!E como alguém disse  é ser vampiro sem saciar o sabor do pecado!!!
Voltei a olhar-me, no meu pensamento, onde  limpei o pó duma imagem que criei em mim e me aprisionou ao meu corpo ao rasgar o meu coração com a tua memória. Por segundos chego a ficar inconsciente, decido voltar a esperar como se o tempo pudesse congelar a mudança. Redescobri-me em diálogo ameno com outros, vi o horizonte  ao longe e quis acreditar que eras tudo menos distância. Ainda pensei que o tempo  pudesse congelar-me naquele ponto em que o sonho nos gera... Mas não. Sinto uma sombra uma luz só por alguns instantes faço um rodopio de lembranças despertas pelas partículas de pó sacudidas do passado. Foge-me a capacidade de me reinventar . E não há amanhã ....Onde anda o meu doce mundo de palavras...
É tão bom poder rever-me em mim , mesmo na solidão de um sonho vestido de véu , é ai que colecciono pequenos textos de ternura onde as palavras são pequenas para testemunhar aquilo que é mais instantâneo na saudade... em mim habitam lágrimas sem território , que desenham no meu rosto os traços da tua ausência !! sabias que te mantenho em segredo viva em mim e essa é a única força que me impõe acordar em tantos dias seguidos onde a procura das cores negras do teu olhar se cruzam nos olhos de outras pessoas de outros caminhos, mas o teu caminho é o único que desbravo não consigo aprender a formula mágica para te despir em meus sonhos , aceleras o meu tom cardíaco embalas-me sem musica no meu silêncio e a verdade que aqui te digo agora são só palavras que a minha boca desenha em teu corpo quando te sonho!!! Onde andas perco-me sem te sentir sem te tocar esbarra na minha vida faz-me viver um pouco mais que o sonho que moldo e gero , porque hoje apenas reside o silêncio em mim que traduz esta busca sem ruído...

segunda-feira, 20 de junho de 2016

Hoje foi um dia difícil senti a saudade e a morte lenta dos sentidos que a ausência traz. Senti-te flutuar junto do meu espaço momentos antes sem acordar. Sabia que se abrisse os meus olhos a vibração do meu sorriso se esfumaria na pressa do tempo real. Por isso, mantive-me estático, com os olhos afogados nas teclas. Só a sentir-me. As palavras escorriam-me pelos dedos e sorria pacientemente, com olhos doces de saudade, enquanto senti uma mão fantasma nos meus cabelos com a paixão de outrora. Sopro um beijo de despedida mas saem apenas palavras com vida. Fico inerte, ainda de olhos cerrados, com um arrepio permanente que ainda percorre todos os nervos do meu corpo e me impede de deixar de pensar.Trago em mim em cada lágrima que cai vagarosa uma voz escrita nas linhas do passado, sinto no silêncio que tanto se agarra em mim, a luz que me desperta para a vida e por trás dos meus olhos a imagem que me alimenta a força de ser forte. Mas!!! são apenas palavras que revisitei em minha vida nos lugares, sem sorrisos, sem abraços, sem ternura e cumplicidade construídas nos laços que a vida que esta nos oferece. As cores de uma presença preenchem a dor que hoje é profunda e apaziguam este choro ferido de me sentir distante do amanha , que dorme em mim e não me deixa acordar !!!
Na historia dos homens sempre houve amores desencontrados que viveram do irreal que cercava a sua visão. A diferença Entre o real e o invisível, é apenas uma pequenina mágoa constante que se aperfeiçoa com o passar do tempo e engrandece a dor com que se alimenta. Sonhar com alguém e esta desaparecer intermitente do horizonte do nosso globo ocular, enquanto piscamos insistente os olhos na esperança que a névoa que nos acolhe se desvaneça no ar é amar. Mas não, nunca a chegamos a alcançar e a viver. Tenho comigo as palavras presentes que significam o contrário do significado dos meus passos. Elas não são mais verdade no meu coração. São meras palavras, pequenas demais, insuficientes para me abraçar na solidão que me ofereceram . Olho para o corredor da vida que se afunila nas minhas costas. Precipito os meus sonhos . Digo para mim ...Quero Amar dito assim, timidamente, soa-me sentimento trémulo, que vibra no vazio e denuncia a tristeza pintada nos quadros que decoram o meu espaço. Engraçado. Antes não compreendia aqueles desenhos abstractos, despejados sem sentido em telas. Hoje sinto que aqueles traços escondem um desencanto quase mágico. Mais ou menos o que hoje descubro. Faço-me magico revoltado por um desencanto viril e cruel. Baixo o rosto para apanhar uma lágrima que quase me escapa e tento com ela apagar a contradição sanguínea que os meus sonhos encerram apenas em palavras. Quero deixar-me ir !!!!
Todos os dias em que pensar, irei escrever... Não há nada do que sinto que possa caber apenas em palavras, mas ainda assim escreverei. Para não adivinhar a distância e o passado. Para sentir menos. Pode ser que consiga pendurar na parede do teu coração uma minha janela, e me desarrumar deixando estender no teu mundo, na esperança que me dês a chave ou que um dia mesmo que longínquo ainda me abras a porta. Adorava espalhar pedaços de céu, para sempre, nos teus minutos. Sei que o nossos silêncios dizem mais de ti do que se dissesses. E é por isso que acredito mesmo que quero que continues a caminhar na tua vida eu sempre andarei por perto. Quero que me deixes. Foge sempre para que nunca te alcance. Para que o sonho me faça correr. Mesmo na ausência de hoje, em que quase te sinto como se fosses minha, a serio, mais vale pintar os dias de ternura e deixá-los respirar sorrisos do que te fazer chorar. Não é difícil. Deixar a marca da doçura esbater as manchas esborratadas da angústia. Instantes há em que desejo que te engasgues violentamente nessa mágoa que te nos veste ... Pode ser que, de uma vez por todas, me pendures na janela do teu coração e me deixes desarrumar tudo. Ou que me abras a porta. Para aprenderes a agarrar os minutos como pedaços de céu. E é por isso que em todos os dias da tua ausência escrever-te-ei, ainda que nas palavras nada do que sinto possa caber…

segunda-feira, 13 de junho de 2016

Ontem chorei!! Pelo bailado que já fui , por tudo que fui... Ontem chorei até pelo que não consegui ser. Por tudo que perdi, pelo que queria ser e não fui!!!. Pela renúncia , por valores não dados por erros cometidos e acertos não comemorados... Ontem chorei pelas palavras dissipadas em versos brancos, chorei pela guerra que nas ruas se vive, pelas tentativas de sobrevivência que em tantos anos passamos, pelos apelos de paz não atendidos, pelo amor derramado, pelo amor ofendido e aprisionado, pelo amor perdido no respeito empoeirado em cima de uma estante. Ontem chorei!! Pelo carinho esquecido junto das cartas envelhecidas que habitam no nossos sonhos, pelos sonhos desafinados, estremecidos e adiados, pela culpa ofendida por mim , pelas pombas brancas que de mim esvoaçaram e que não voltam mais, pois hoje já outro dia. Por isso também choro… Mas!!! Sonho porque pouco mais há a fazer , e porque sonhando não nos perdemos e porque só assim poderemos voltar a nascer…
É de olhar profundo que caminho sem caminho traçado, num trapézio de infinitas sensações, por entre ruas escuras e labirintos de desejos. Por vezes os meus olhos revestem-se de uma dureza inigualável e escondem lágrimas de fraqueza e solidão. Sorrio. No entanto, apenas sorrio. Talvez na tentativa de sentir os eixos de uma vida desequilibrada em mim. Talvez por saber que chorar é a melhor forma de limpar a alma da amargura alojada por frustrações repetidas e por sonhos que jamais vestirão o traje do mundo real. Talvez por não saber que um sorriso vazio me denuncia mais facilmente do que uma lágrima cheia de ti. Caminhas na minha direcção, com mãos descontraídas nos bolsos do casaco, andar infantil e propositadamente arrastado. Interpreto-me à medida da minha sombra que se solidifica no campo da minha visão. E vejo-me, naturalmente selvagem, em construção todos os dias sem rumo ou direcção, porque a vida é madrasta e o coração solteiro. Oiço o meu grito ferido, o meu pedido de ajuda fortíssimo, mas, simultaneamente, vejo os traços da desistência forçada porque sou um ser apenas diferente. Alcanço o meu espaço. Passo as mãos nervosas pelo cabelo, olho o céu e ele respondes-me sem me dar tempo para perguntas. Não sei o que faço aqui, mas é aqui que quero continuar. Por isso, é melhor saírem.Este é o meu território. É a minha vida condensada em palavras, é o meu momento. Este não é sítio para todos. Metralham-me com meras frases mas não conseguem empurrar a minha presença para longe. Querem-me ausente mas!!! Não preciso de sair. Fiquei abandonado numa ruela escura, com imagens de morte pintadas nas fachadas dos prédios irreconhecíveis de tão degradados que se fizeram. Vejo-me desaparecer sim, mas numa penumbra da solidão que timbram os meus passos nesta liberdade que é ilimitada.
Todos os dias é um nascer novo!! A claridade do sol prolonga-se no infinito do céu onde se ergue uma cúpula, sólida e majestosa, que mais parece proferir uma bênção a todos os homens e mulheres que por ali meditam, chamo-lhe silêncio arrebatador...Não imponho os meus passos, comando apenas o meu espírito, que me faz esquecer as horas que atrapalham o tempo e deixam-me mergulhar num espaço onde matéria e espírito se misturam harmoniosamente... Numa breve numa declaração de desassossego tento escrever o rio que em mim corre perdido, sangrando numa angustia dos momentos que se espalham nos meu dias !!! Mas não me intimida o abismo que se estende por debaixo dos meus pés e esvazia a minha força!! sinto cada vez mais o meu folgo derrotado por este cansaço desobediente , onde os ecos do passado entoam canticos no meu cérebro e estagnam-me perante a incerteza do próximo dia que aqui vai nascendo... A minha razão esconde-se envergonhada por detrás deste muro inóspito que a franqueza do meu espírito vai dando vida numa imprevista comoção. As minhas pálpebras chegam a denunciar o que é viver num alvoroço de ideias distintas e nulas que poucos percebem e que na minha cúpula de silêncio se vai dando forma!! Nesta embriaguez de sentidos há imagens insistentes de saudade que me atravessam é tão difícil acalmar este frenesim de emoções e desocupar-me de tudo para aguardar serenamente cada minuto que resta desta minha vida que aqui vai sendo postada ....
Tenho em mim palavras inflamadas, pelo vulcão interno, entro em combustão…Palavras que ardem na pele sem chamas, queimam-me a boca por isso saem-me pelos dedos…Poderá não parecer mas é uma pobreza imensa, o colossal poder da palavra que mesmo em silêncio incendeia a mente descontente de frases que são muros transparentes repletos de silêncios paridos pelo olhar distorcido! Cada vez mais me sinto um lavrador de sonhos, vivo nesta inquietude de fazer de artesão daquilo que se pensa e muitas vezes não se consegue viver!!! Quando escrevo uso as minhas mãos que libertam silêncios, caricias , ternura. Grito sempre ilusões e sussurro vazios e que mal tem se muitas vezes visto estes farrapos que quer queiramos ou não eles também vestem os sonhos …
É na panóplia do tempo que o espelho reflecte os fios brancos do cabelo que voam ao vento nas asas da realidade em ancoras de verdade que os céus pintaram no destino destemido que em mim vagueou...Canto hinos soltos de frente ao espelho, desfio as horas nas brumas onde me deito para recomeçar os cânticos que aprendi a soletrar, mas é proibido amar ou falar de paixão neste caminhar sereno onde albergo tudo com o nada com que a vida me deixou... Escrevo apenas salpicos da chuva silenciada nas palavras aprisionadas onde os momentos não param e o tempo passa a ser unicamente o que ele transporta, …as nuvens dormem e eu prendo o meu olhar no esboço de um sorriso …Já não tenho nada para dizer ou escrever sento-me ao teu lado choro contigo até que as estrelas voltem a ser um abrigo… amo-te Pai jamais voarás de mim sem que te siga!!!
Há uma força qualquer que me atira para o fundo, que não me deixa emergir e expirar demoradamente. Tento perceber o que me agarra os pés e não me deixa ver a claridade de um novo dia, que já deve ter surgido no horizonte. Olho para baixo e uma névoa embriaga a minha visão , vejo de um modo afunilado e isso faz com que a minha razão desista pouco a pouco de lutar contra a falta de oxigénio deste interior de um nada que amedronta os meus movimentos pela vida fora…. Há uma qualquer energia que solidifica os pingos de sentimento do meu coração e me insensibiliza de tal modo que só o negro do vazio estremece enregelado junto ao meu desalento. Há uma dor hemorrágica que não falece, há uma dor, que vagarosamente serpenteia no interior do meu corpo. Os dias nascem em mim mas vejo-me embriagado , obrigado a esconder o sangue que me escorre pelo olhar com o recurso a um sentimento paliativo, que me é concedido pela necessidade imposta de não chorar jamais. E assim vou perdido pelo resignado penar dos dias!!! Mas, não choro porque mais vale aparentar a força do que transparecer uma fraqueza que sempre nos trai porque é verdade. Arrasto-me com um simples olhar por falsos sorrisos e abraços imperfeitos. Dou o nada que é tudo o que tenho para dar e espero que essa força desista de me fazer fraco e me deixe encarar o meu próprio insucesso, sozinho, na sombra vacilante de uma luz no horizonte... Fico expectante na sombra assassina dos sonhos que desenho timidamente em folhas brancas de papel, ergo os olhos aos céus e suplico que essa cesse a sua vocação aniquiladora da minha existência e que, um dia, me deixe emergir e respirar o suspiro de um amor…
Leio-me e espelho-me nas linhas que escrevo, masturbo todas as palavras que pinto de varias cores…Sonho-te e nesse sonho bebi-te num beijo perfumado, naveguei o teu corpo só no cetim dos lençóis mas!!!Quando te sonho há um som quase invisível nas varandas da minha alma ... Esse som insinua-se, de mansinho, como uma flor a desabrochar no bailado das manhãs !!! E , leio-me em palavras nuas absorvido nos sentidos , viajo pelo meu íntimo, desvendado pela inspiração, pela emoção, de palavras, escritas em tons suaves, perfumadas pela poesia depositada gota a gota no silêncio de quem as lê!!!!leio-me em palavras, escritas pelos lábios que me sussurram, uma canção que invento no momento que se espalha melodiosa mente no meu ser o poema bailando num frenesim de memórias soltas, da torrente de estações passadas num enxerto de momentos vividos… Busco-te em palavras , e enquanto isso não acontece leio-me nas palavras com saudades de futuro, leio-me nas promessas que elas em mim encerram...
Vejo à minha frente, um caminho que seja diferente, um caminho que me faça feliz...Mas eu...Perco-me no meio de palavras divergentes...Sonho tanto mas , só o sonho, não basta, precisava de algo que me afaste, da ilusão, da incerteza, da incoerência....A realidade, apenas, não é suficiente, quero acreditar e confiar nos meus instintos...Nas minhas vontades...O nevoeiro, calmamente regressa à minha vida, uma nova estação se apresenta, o vento bate à minha porta, mas a passividade impede-me de a abrir!!!Impedindo também que me transforme...Impedindo que me permita a modificar...Impedindo um turbilhão de emoções...Impedindo uma tempestade capaz de lavar as feridas mais profundas...Quero alguém como um furacão...Quero alguém como uma catástrofe, como algo capaz de me deitar abaixo...Mas que em seguida me dê a mão para me erguer outra vez., só assim de cara e alma lavada talvez mude o meu caminho...só assim talvez siga mais uma vez por estradas erradas, na esperança de um dia voltar a encontrar outro alguém...
Hoje sinto-me estrondoso, radiante por viver...Confiante , aspirante e consonante em ser o mais feliz possível . A vida cai sobre mim põe suas asas, e eu voo, fico suspenso no céu vejo-me graciosamente embriagado , leve como um balão de hélio que desliza no próprio céu do sentir... hoje vejo que só sobrevivo como pássaro…Hoje escrevo e ontem escrevi pois sei que existe alguém que hei-de encontrar nem que seja na poeira dos meus olhos!!! Todos os dias sinto o rosto queimado pelo sol dos desejos, mas ainda assim não paro de silenciar um abraço azul da cor do céu num momento em que as minhas lágrimas fazem companhia em dias perdidos … Há segredos nas nossas vidas que deixam pegadas nos nossos corpos e tem sorrisos no calor da noite !!! Quando eu te encontrar saberei que a tua serenidade se juntará à minha melodia de mil cores , num desejo de existir, que se fundirá nos olhos da lua na eternidade de um amor…Há muito que me perdi num puro desejo de ser amado , vesti as asas do tempo num despertar longínquo de ilusão onde me juraram uma melodia de palavras soltas alucinadas e embriagadas pelo suspiro do amor, mas!! Lamentavelmente derramaram a noite em meu corpo onde fiquei desenhando a minha alma, nesta paisagem de aromas que vivem dentro das palavras…
O primeiro pensamento de Deus foi um anjo embora a sua primeira palavra tenha sido para o homem...Nascemos um para o outro , fomos moldados da argila de que são lapidadas as criaturas raras, fomos abençoados pelo amor que concebeu em seu ventre os deuses !!! O amor isso mesmo, um conceito divino de dimensão sem medida, uma viagem sem destino uma melodia de vida…Amor é o silêncio que fala, é um sopro de nostalgia que faz das trevas dia , é um sussurro de magia, é um poema em construção, de versos inacabados nas rimas imprecisas de uma sombra distraída!!!Mas eu, sou um verso fracturado na esquina que nos conduz lado a lado… Mas não pensem que misturo sonhos com amargas falências do passado , vivo um luar de cada vez e as lágrimas que dele forem pingando cairão em taças de cristal que os sonhos irão beber gosta a gota até esgotar o sabor dessa paixão!!!
São apenas as palavras que quebram o silêncio, todos os outros sons em mim cessaram. Se eu fosse silencioso, não ouviria nada. Mas se eu me mantivesse silencioso, os outros sons inundaram-me iam, aqueles a que as palavras me tornaram surdas... Mas se estou silencioso? por vezes acontece-me, nem que seja por um segundo. Eu também choro sem interrupção. É um fluxo incessante de palavras e lágrimas onde não há lugar a pausa para reflexão. Mas falo mais baixo, cada dia um pouco mais baixo. Talvez… Também mais lentamente, cada dia um pouco mais lentamente. Talvez!! É-me difícil avaliar... Se assim fosse, as pausas seriam mais longas, entre as palavras, as frases, as sílabas, as lágrimas, mas, confundo-as, as minhas palavras são as minhas lágrimas, os meus olhos a minha boca. E eu deveria ouvir, em cada pequena pausa, se é o silêncio que eu digo quando digo que apenas as palavras o quebram. Mas !!! Nada disso, não é assim que acontece, é sempre o mesmo murmúrio, fluindo ininterruptamente, como uma única palavra infindável e, por isso, sem significado, porque é o fim que confere o significado às palavras....O silêncio é o nosso melhor amigo, nunca nos trai , e, o argumento mais difícil de rebater na vida!!!
Queria que a escrita , fosse um recomeço, queria que as palavras encerrassem ciclos ao mesmo tempo que um novo livro branco se abrisse... Mas as palavras nada mais são do que um desabafo , eu sei que é pouco aquilo que conseguimos juntar da nossa mente "enlouquecida" mas que não se perca o verdadeiro sentido das palavras...Sempre que preciso de paz é aqui que a busco, este é o meu intimo refugio que é tão distante e ao mesmo tempo tão perto deste mundo que vejo!!! Sempre que aqui venho entrego-me ás lágrimas, aos sonhos, tristezas , angustias e ao silencio das palavras pois é o silencio que serve de ponto de partida...mas não pensem que não sei a força que habita em mim!!! Eu sou o coração que pulsa, mente que pensa, corpo que sente, alma que vive, sou sentimentos , todos eles na perfeita desarmonia...Sou anjo a cuidar de um mortal , inquieto, que erra , acerta pelos caminhos da vida , sou eu mesmo, o anjo que me guarda....
Eu já tenho quadros que pintei de meus sonhos murmurados no silêncio do meu pensamento. Usei as cores que nasciam ao ritmo imposto pelos dedos que tantas vezes seguiram a imperfeição das minhas linhas. Guardei telas inteiras de palavras que criaram as emoções de um sentimento maior…Em certas noites transformavam-se em pequenos mundos onde só eu esculpia a imperfeição deste ser que sou!! Os dias esse, tem a mesma luz com a qual capto a beleza daquilo que me rodeia … E é neste foco de luz que parte dessa perfeição se mostra num simples olhar…Não soube ser perfeito na minha imperfeição e muitas telas, ficaram por contar…e outras, por pintar…Mas sonho-as... E sonho-as numa tentativa de me entender... Sonho com o beijo do mar, com o toque da alma, com o bem mesmo de quem não me quer ... Sem ousar entrar em pormenores...Fico em silêncio, pensando nas resposta...e numa ultima tentativa de chegar perto daquele ser misterioso e lhe perguntar, quem és, porque percorro as linhas imperfeitas do teu ser, inventado sorrisos nas pontas dos dedos!!?? Queria tanto me mostrar !! Queria tanto descobrir numa alma quebrada a cura para as cicatrizes sulcadas pelos medos…
Hoje falo de desejo que provoca o inesperado encontro dos olhares… profundos e insistentes…Chamo-lhe a provocação, insana da negligência para as portas do céu! É um horizonte que se abre... Muitas vezes insólito...A mente devassa incita à dança, num jogo imprudente de sedução que não cansa! Os olhos se cruzam, se misturam, se penetram...Desmancham sussurros, suspiros soletrados em beijos ao ouvido, inebriando o desejo ardente, instigando e aclamando mais e mais...Com o desejo desnudam-se os pudores e abre-se o caminho que vai do ouvido à boca deliberadamente ! Os acordes dos corpos desprendem-se loucos da vontade suprema de possuir e a luz da lua subtilmente evidencia o contorno de dois corpos perfeitos, nus...Eloquentes! Despidos de vestes, medos e preconceitos... É impossível travar o ter coragem para recuar quando o anseio do toque avança...aquele que desnorteia e intensamente é sentido na ponta suave dos dedos. Lambidamente contornam-se círculos de prazer em harmonia e sintonia... Arrepiam-se os pêlos e pele ao toque… o cheiro libertado pelo toque frenético das mãos, da boca, da língua, que com preciosismo percorre cada curva, cada recanto... Cada concavidade dos corpos divinos, prendendo-se entre abraços e pernas...E num instante ecoam-se gemidos que rasgam o ensurdecedor silêncio, que suavemente, é despertado o gosto do perfume exalado, fragmentado pelo espaço que os enlaça!!! é na entrega dos corpos que a respiração cresce descompassada..O desejo é o palácio dos sonhos onde os sentidos se tornam homogéneos e dão lugar ao amor ...
Sou um ser em constante devir , já morei dentro de bocas, construí camas nos olhos salgados das conchas, dormi e acordei vezes sem conta entre virilhas suadas e pedintes …Mas!!! Nenhum lugar do corpo do mundo me parece melhor para ficar, do que enrolado nos olhares que mostram fome selvagem tomada pelo instinto humano… A vida é muito breve mas vejo que nela cabe muito mais do que estou a conseguir viver … Eu viveria em paz a plantar minhas frases no olhar de alguém vendo-as nascer como espirais na ponta dos seus dedos, em letras borradas que falam de coisas, em reticências eternas, que falam de amor pois a minha eternidade é apenas um relógio sem ponteiros que nos faz viver na sombra de expectativas por isso vou escutando o que o silencio me tem para dizer…
Quase ninguém sabe das vezes que me silenciei quando minha vontade era gritar, rasgar os verbos, sem os masturbar!!! Ninguém percebe!!! mas de vez em quando eu relevo algo, e finjo que não vejo, que não ouço nada. Tento agradar, mas a maioria só vê parte ... Quero mostrar a parte de mim, mas limitam-se a apontar minhas cicatrizes, abrindo-as mais, mais e mais. Não vivo nessa de querer agradar a todos, só tenho um medo absurdo de ferir alguém. Eu sei como dói...Nunca estive antes tão velho, os relógios giram-me na alma derramando ampulhetas de calma, tenho muros , em meu redor mas nunca me senti tão vasto na história contada em mim. Tranco-me nas palavras que me encerraram , faço silêncio para escutar , fico suspenso disperso esbarrando nas muralhas da fome do sentir que vai sendo o meu sustento...
Sabem pior ainda que a convicção do não é a incerteza do talvez, é a desilusão de um quase!!! É o quase que incomoda, que me nos entristece, que nos mata trazendo tudo que poderia ter sido e não foi... Que nos faz conjecturar sem certezas mas com convicções!! Na vida quem ousou quase ganhar ainda vai jogando, quem quase passou ainda vai estudando, quem quase morreu ainda vai vivendo, quem quase amor!!! Meu Deus!! Nunca amou...Pergunto-me, às vezes, o que nos leva a escolher uma vida morna; ou melhor, não me pergunto, contesto! A resposta eu sei de cor, está estampada na distância e frieza dos sorrisos, na incoerência dos abraços, na indiferença dos olás!! Quase que sussurrados. Sobra covardia e falta coragem até para ser feliz. A paixão queima, o amor enlouquece, o desejo esse trai. Talvez esses fossem bons motivos para decidir entre a alegria e a dor, sentir o nada, mas não são...Se a virtude estivesse mesmo no meio termo, o mar não teria ondas, os dias seriam nublados sem cor e o arco-íris em tons de cinza....O nada não ilumina, não inspira, não aflige nem acalma, apenas amplia o vazio que cada um traz dentro de si. Para os erros ainda vai havendo perdão para os fracassos, uma hipótese ; para amores impossíveis, tempo. De nada adianta cercar um coração vazio ou economizar alma pois embora quem quase morra esteja vivo , quem quase vive , já morreu...
Ás minhas Noites são danças entre lágrimas, elas tecem caminhos, descem pela minha face em grupo para me morrerem nos cantos da boca, bailam ao som dos soluços e dos gritos silenciosos da minha alma. Movem-se baixinho para que ninguém ouça os seus movimentos, de vez em quando ainda se deixam pausar nos cantos dos olhos, ficam ali alguns minutos para depois caírem rapidamente rosto abaixo e já nem os soluços lhes servem de ritmo, nessa hora só querem cair com o corpo que fraco se estende neste chão de injustiças. Dançam ao bater acelerado do coração, mesmo ao anestesiante bombar do sangue nas veias, são fruto de muitas danças interiores, bailes inteiros de sentimentos que se misturam e coabitam . As vezes a mão não as deixa dançar à vontade e tem necessidade de as limpar antes que cheguem aos cantos da minha boca, faz parte da dor, faz parte do sofrimento ter esta mão no rosto a limpar as lágrimas, um gesto prodigioso. Ver depois as lágrimas secarem aos poucos na mão que as esmagou, ver depois o sol secar as lágrimas que não acompanharam a dança até ao fim e ainda me ficaram na face. Dançam as lágrimas, em mim!!! Sei que tenho uma espécie de dever de sonhar sempre, pois, não sendo mais, nem querendo ser mais, que um espectador de mim mesmo, tenho que ter o melhor espectáculo que posso. Assim me construo, em salas supostas, palcos falsos, cenário antigos, sonhos criados entre jogos de luzes brandas e músicas invisíveis de expectativas ofuscadas pelo desentendimento humano…
Hoje via-te com a pele. tocava-te com o pensamento. Beijava-te com todo o corpo, e o resto do mundo deixava de respirar. Reduzindo a "nós" todo um universo. Com flores e mares e luas repletos de cor e luz. De sentimentos bem amados sem sentidos. Por caminhos sem estrada. Todas as encruzilhadas deixavam de ter placas. Nada nos faria perder. Esvoaçávamos por entre nuvens de água, que deixavam cair gotas de alegria, na planície ávida de tudo. E tudo éramos nós… Sem saber de ser, sem ter que sentir, sem morar nos sentimentos perversos, humanos. Largados por entre o nada seriamos tudo. Tudo seriamos nós… Mas!! Não te tenho!! A idade fornece-nos a sabedoria, e como já pouca coisa importa, dá-nos a hipótese de dizer-mos sem medo tudo o que nos vai na alma. Em suma….. A partir de certa idade podemos beber pela garrafa tenho a aqui mas não tenho com quem partilhar…
Ainda não senti nada igual!!! Nunca me foi dado tanto "prazer", como o "ejacular", das palavras por dizer...Um misto de sabores num verdadeiro acto de amor, feito..nunca me excitei, alguma vez assim e em êxtase me"vim" no ato de derramar sentimentos silenciados ..Como nas palavras, que me saem pelos dedos, violentas e febris, como qualquer tempestade de satisfação. Acreditem, que não. É puro prazer, o que produzo com a mão e desvirgina no papel em sublimação de um olhar que me prende na arrogância de uma sede morta que não sacio ...Escrever é esvaziar-me , é sentir e depois dispensar é como sexo puro que desprezamos quando não querermos mais corpo!!! Escrever é um ato solitário onde não há livros de reclamações , facturas , ou devoluções , é sim uma dependência de criar um posto de socorro!!! Há sim dependências do corpo que as palavras escondem nos silêncios , podem vocês perguntar e qual é o silêncio que esconde o maior de todos os desejos. Eu responderei que é o silêncio do desejo de ser compreendido, pois acredito que desejamos tanto que alguém nos compreenda que nos tornamos egoístas , cegos aos desejos do próximo também ser compreendido!
Vou fazer-vos uma confidência!! aprendi o ofício dos sonhos em pequenos versos , que se colam ao corpo, no fascínio ardente de olhos teimosos que lambem as feridas do desconhecido... Há um espaço meu, dentro de cada palavra, um espaço verde e cheio de areia, um lugar de mudez, agasalhado de incertezas , onde eu aprendo a voar em linhas, indecisas no azul das canetas. Serei louco por ter aprendido i a decifrar enganos, nomes invernosos e pesados, por ter desfigurado névoas futuristas, por ter dedilhado a medo o roçar das pedras na rebentação das maré!!!. Parei no frio de uma manhã descobri as coordenadas dos meus sonhos: perto, perto como umas mãos nas minhas!!! Vou fazer-vos uma confidência: Uma presença em nós é o tempo que volta, é sinfonia que se cola ao corpo, no fascínio ardente de olhos teimosos mas abertos... Há um espaço meu dentro de mim onde queria encontrar as coordenadas do amor...
Sinto que já morri faz muito tempo, apunhalei-me quando o tempo era escasso e o que havia entre o tempo e o espaço era o de sempre, o escuro e os desertos que me acompanham!! Cortei-me e não há palavras que consigam estancar este sangue que vou tecendo na ausência deste corpo que me é necessário nos cortes que a gillete faz aos meus sonhos!! Ainda assim tento, deixando as mãos correr sobre o papel tentando captar os ecos de uma palavra , um sinal, de quem em alguma parte Cintila , e confia ao vento o seu segredo á minha precária eternidade !!!Estou sem respostas o silêncio saiu ruidosamente dos seus livros…Sentou-se entre nós. trucidou a minha confiança. Despedaçou cigarros para fora da minha boca, fez-me trocar palavras cegas, e chorei, implorei, mas a escuridão encheu os meus ouvidos, a escuridão atacou o meu coração, e algo que tinha sido bom, uma espécie de oxigénio bondoso, transformou-se em monóxido , e por onde quer que vá espalharei silêncios que não sei como apagar e sem o teu amor passarei a ser saudade escrita nas paredes…
Tenho muitos sonhos e desejos mas nesta quadra apenas desejo que minha árvore seja feita de silêncios. Silêncios que façam intuir felicidade, contentamento, sorrisos sinceros. Nesta quadra não enviarei cartões a ninguém... Tenho medo de frases prontas!! Elas representam obrigação sendo apenas cumprida. Prefiro a gratuitidade do gesto, o improviso num pequeno texto onde o erro de grafia e o acerto dos sentimento sejam uma constante... Neste Natal quero descansar de meus inúmeros planos, vou optar pela simplicidade que esta me faça voltar às minhas origens…Não quero muitas luzes. Quero apenas o direito de encontrar o caminho do meu olhar e nele me focar para não parar por ninguém e não me perder…Desejo a todos aqueles que como eu seguem a sua estrada que , descubram a beleza que as simples dispersões deste tempo nos insistem em esconder . deixem as vossas chaminés do olhar abertas pois valerá sempre a pena entrar pelas portas da frente mesmo que estas teimosamente estejam fechadas tentem sempre bater nela pois um dia ela certamente se abrirá …Sejam felizes em 2015 e tenham um santo Natal.
Hoje o mar não dança nos seus brandos sapatinhos de espuma…Contorce-se por entre novelos cinzentos num rugido de gemidos trazidos como lamentos… Cheira a sal, a maresia…E para lá do horizonte da minha janela O mundo passa veloz. Correm e choram as nuvens vergam-se os galhos, na rendição á dimensão que me silencia a voz…Serei lembrança fugaz e espaçada, flutuando na memória do tempo, uma obra escondida que de tão acovardada ancorou no cansaço que agora invento, sou a letra que encravou pondo fim ao toque ousado dos meus dedos nas prosas e rimas que Deus me segredou e que sucumbiram à força da mordaça e do medo…Sei que um dia deixarei de ser um verso batendo no charco ou a folha em branco onde me demarco em inquietantes silêncios do meu ser!! Serei então ponto final uma última linha de um livro que se fecha, de uma vida de pontos e vírgulas que o mundo esqueceu…Quando calo escrevo quando escrevo agrafo os meus silêncios ás palavras neste rio sem margens onde vagueio e rabisco traços de luz nas águas cristalinas onde lavo cada gemido meu sem sequer sussurrar…
Eis a primeira noite do ano,é, calada, como um rio roçando as margens dos meus sentidos e nesta aguagem silenciosa, leva os gemidos que se perdem no vácuo, escuro e frio...Vai fluindo este dormente caudal onde me navego insónia dos meus encontros, uma guarida onde afogo a madrugada entorpecida e com ela, os espólios do desassossego..Mas!! é quase dia, num chegar leve de olhares incolores no filamento do gelo que desliza na janela do meu olhar...Não consigo nem sei se é a raiz do meu mundo a perder a vida ou o fruto da Luz do meu encanto , mas é tão salgado como o mar…

segunda-feira, 6 de junho de 2016

Muitas vezes sinto a sensação de não pertença. Percebo que de facto só pertenço aos meus pensamentos.Aliás todos nós pertencemos aos nossos pensamentos, para escaparmos do que somos temos de pensar de outra maneira. Mas!!!! Não há controlo em muito do que pensamos. Estamos condenados ao que somos capazes de pensar. Só não ouso dizer que somos os nossos pensamentos porque também existe o corpo. O corpo também nos individualiza chega a existir de forma independente do pensamento como um autónomo. É misteriosa a forma como corpo e pensamento se entendem ou desentendem, como convivem e negoceiam, tecem em cada nó rendado na alma do passado , a promessa entrelaçada do amanha… Em cada amanhecer nasce a possibilidade de um futuro que não irá conter mais que quem verdadeiramente és… A nossa essência por mais volátil que seja nunca desiste do fogo que é combustível dos mais ardentes sonhos que mantém acesa a chama do nosso ser!!! Gostava que os meus sonhos fossem realidades em construção permanente e executáveis… Por isso deixem-me dizer-vos que se sinto a solidão não é pela presença ou ausência de pessoas e digo mais odeio que me roubem a solidão sem que me oferecerem verdadeiramente uma companhia …

Hoje sinto e vejo que as palavras muitas vezes são como lâminas, elas são o corpo suicidado quando estas não se aguentam mais!!! As palavras atiram-se do pensamento uma a uma caindo nos corpos de papel, como se também lâminas fossem, laminam-no. Quando as lê-mos encontramos coisas que ninguém escreveu, assim aprendemos a interler, a ler o não escrito. É a escrever que as lâminas vem, cortam meus textos, estripam de si o que ninguém quis escrever, transporta-me em palavras suicidas em lâminas que revelam-me em sentidos não revelados l. Arrepia-me. E... O Novo advém dessa atitude. Gerado em sonhos, tratado em pequenas historias, poderá de chamar-se poemas à sua forma, mas sua essência não poesia. Lamino o pensamento, quando em outro texto me debruço no teclado cortando-o sem sons pois não quero levantar as palavras de ninguém... Há palavras que saem nervosas , pobres que apenas nadam em marés de alegria... Há palavras que domam suas fantásticas com chicotadas de embriaguez, sem cor que ignoram a sua trajectória... Partilho-as lâminas do palavreado em arrepios, lâminas continuam laminando meus pensamentos, meus sentidos... São as palavras que me laminam com escritos, nos ditos e não ditos, muitas vezes interditos que me embalam nas músicas de corpos, sentidos, relações virtuais ...As palavras fazem paz e guerra pensem bem antes de as laminar!!!

Gostava de ser apenas a beleza gracejante de uma folha ou ter asas de uma borboleta, que num audacioso, mas auspicioso silêncio voa-se, mas!!! Não sou , apenas consigo pairar ao vento, navegando na imensidão do tempo... Tenho um leve baloiçar no olhar que fazem as minhas asas ecoar, e confundem-me... usando as suas cores como um sonho de outrora, sinto-me deflorando o outono que passa... Escuto o sussurrar do vento, ele esta chamando por mim, por trás da névoa do outro lado do mundo, o coração da vida palpita, ela me chama, eu aceno .... Estou indo...Silêncio-me , deste faminto verbo que ansiosos segredos calam em minha alma , sôfregos de paixão aconchegam-me , deixem-me sentir pois já me revelei profetizando a minha essência...Sou aquilo que escrevo, sou parte do que sinto, sou sombra sem medo, sou chuva molhada, sou como vocês me vêm, como me descrevo, sou paixão e emoção, uma rima inacabada, sou metade de mim, sou prazer , sou cansaço, sou a fome do querer, sou o deserto sem água, sou o dia sem partida, uma manhã ensolarada, sou um crime cometido, um desejo consentido, uma noite enluarada, profetizo os sonhos, sou tudo e sou nada, sou a verdade expressiva, uma frase censurada, sou o poema de amor, sou o mistério, sou o limite, sou uma alma desnudada!

domingo, 5 de junho de 2016

Sabem eu gostava que me poetizassem silenciando-me com beijos nus, sedentos, crus, e me enlaçassem em braços , gentis, de ânsia de contornos famintos e cobiçosos... Peço-vos falem-me das vossas ausências, das vossas carências, entretenham-me com nuances e enredem-me pelos verbos ansiosos dos vossos segredos, calem-me esta alma que me segrega os sentidos, deixem-me amanhecer em vós, aconcheguem-me, amem-me... Deixa-me acariciar-vos com o olhar... deixem-me sentir o sabor à romã nos suspiros, deixe-me ser a lua, revelem-se ... Poetizando a minha alma nua ...Eu sou espera eu sou infinito profetizo a minha essência nas reticências do além ... não sou indulgente sou apenas a luxuriosa sombra do êxtase dos meus pecados....
Afinal a vida foi, é...e será sempre um desafio na sequência sólida de percorrer caminhos que se ajustem à reflexão equilibrada e tolerante, onde os projectos nunca acabem, e se definam cada vez mais naquilo que queremos ser, e não no que os outros querem que nós sejamos... Perceber que reflectir e concluir são actos que não podem estar confinados apenas ao reflexo daquilo que experimentamos sozinhos, ou obcecadamente vemos nos outros, caindo assim na tentação de criar verdades absolutas agarradas a pressupostos com falta de equilíbrio identificativo da nossa própria vontade...Não podemos nem devemos querer para os outros aquilo que foram momentos nossos, e ajustados apenas e só para nós próprios...Eu sei que o Amor assusta muita gente ..Quer seja a falta dele quer vivê-lo!!! Muitas palavras que aqui escrevo vem de longe , passam por mim como se nada fossem , como flechas a rasgar o ar à minha volta … as palavras que aqui escrevo são vossas muito antes de serem minhas , são vocês que as escrevem em mim ao percorrerem o silêncio das minhas palavras…
Deixem-me despir a minha alma nos farrapos da vida, não vale a pena chorar por ninguém no fogo das silabas despertado pelo laranja da noite que transcende a mortalidade do sentimento...Quero a cor dos afectos no sorriso de cada letra quero a brandura do olhar em cada mensagem de paz quero a luz da fome em cada linha desta fonte incessante sempre inquieta em mim!!! Poderia eu deambular como um insecto na saliva do pólen , podia eu inventar mensagens que escondem segredos no sussurro trémulo da aragem...Podia até o diálogo perde-se na boca turva das dúvidas transpirando incertezas e então questionar-me onde moras liberdade? TALVEZ SEJA MELHOR NÃO SABER A RESPOSTA pois, se soubesse ficaria surpreendido pelo bolor dos sorrisos rasgados no mofo de bocas sem memória definhando falsidade vazia, sem história só lama e lodo numa trajectória única...
Solto as palavras à toa…elas pairam sem tempo indefinido no branco imaculado de uma folha como um borrão disforme, sem encaixe nem compreensão…Fogem de dentro de mim num sentimento que tem tanto de calmo e agitado, como de luz e escuridão. As trevas do que não sei cerram-me o olhar desviando as cortinas dos meus olhos. Não alcanço, não vejo, só sinto. Nesta dialéctica aberta, quase surreal vagueio pelas frases desconexas que almejo entender e rendo-me tantas vezes à evidência de nada ter e pouco ser…Magoa a impotência que se alonga e engrandece à medida que reduz a minha insistência a um mero esforço que aos poucos padece...E só quando exausto quase rendido encosto à margem; é que olho o deserto que me faz tropeçar nas fendas ressequidas dos seus trilhos...Fico assim despido de raciocínio e me aprisiono e me abandono ao rosto amargo do declínio, aceitando o fim da viagem…Tudo acontece...Cheira-me a terra molhada, este tapete de sementes vivificadas onde caminho regadas pelo mar em plena maresia. Antigamente esta energia arrepiava-me a alma…Hoje, acorrento-me à luz do entendimento que me agita, definindo bordados reluzentes soprando meras palavras…Os meus dedos espezinhados balançam frenéticos de confiança. Ignorando as cicatrizes, eles dançam traçando um rasto de esperança, e das palavras à toa a ferro e fogo lavradas, Permanece a certeza tão boa de que elas são o “TUDO” Dos meus insignificantes "nadas"!!!
Todos nós nesta nossa pequena passagem passamos um portão para o lado de lá , mas!!! Outras vezes ficamos no portão do lado de cá a espreitar o lado de lá do portão. É uma dor pois sentimos saudades no lado de cá do portão, sentimos medo do lado de lá do portão, choramos no lado de cá do portão, sonhamos com o lado de lá do portão... Esperamos no lado de cá do portão!!! Andamos de cá para lá, do portão. Parados na imensidão dos caminhos...E hoje pergunto-me quantos passos são precisos para fazer uma caminhada? Quantos gritos se ouvem quando a alma vai calada? Quanta força me resta à espera à beira da estrada? Quantos ventos sopram por dentro de uma madrugada? Quantas lágrimas correm na face beijada? Quantos calos tem uma mão calejada? Quantos rios correm na direcção errada? Quantas palavras se rompem sem sorriso ou morada? Quanto de mim me resta, se navego apenas numa jangada jangada? Quantas interrogações mais me vão chegar entre a saída e a entrada deste portão de vida...
Todos os dias sobe o tempo na ampulheta da vida em nós, e é nesse pó esférico que as palavras sobram debelando estáticos sentimentos que à deriva dão forma aos nossos pensamentos. É nesta dialéctica que os nossos olhos entrelaçam a luz, é nesta vertigem que entrelaço as mãos e ouso pensar numa pseudo presença do amor!!! Vivo num misto de música e poesia descrevendo a ausência de laços na porta que se fecha dentro de uma casa vazia! Fiz-me um dia céu neste regresso rasante de ternura , fiz-me um dia água nas correntes que o coração fecunda nesta natureza de tecelão de palavras, fiz-me silêncio que hoje ouso esvaziar em cada raio de luz que se expande no céu no turbilhão de cores que o meu olhar revela...
Hoje falo de desejo que provoca o inesperado encontro dos olhares… profundos e insistentes…Chamo-lhe a provocação, insana da negligência para as portas do céu! É um horizonte que se abre... Muitas vezes insólito...A mente devassa incita à dança, num jogo imprudente de sedução que não cansa! Os olhos se cruzam, se misturam, se penetram...Desmancham sussurros, suspiros soletrados em beijos ao ouvido, inebriando o desejo ardente, instigando e aclamando mais e mais...Com o desejo desnudam-se os pudores e abre-se o caminho que vai do ouvido à boca deliberadamente ! Os acordes dos corpos desprendem-se loucos da vontade suprema de possuir e a luz da lua subtilmente evidencia o contorno de dois corpos perfeitos, nus...Eloquentes! Despidos de vestes, medos e preconceitos... É impossível travar o ter coragem para recuar quando o anseio do toque avança...aquele que desnorteia e intensamente é sentido na ponta suave dos dedos. Lambidamente contornam-se círculos de prazer em harmonia e sintonia... Arrepiam-se os pêlos e pele ao toque… o cheiro libertado pelo toque frenético das mãos, da boca, da língua, que com preciosismo percorre cada curva, cada recanto... Cada concavidade dos corpos divinos, prendendo-se entre abraços e pernas...E num instante ecoam-se gemidos que rasgam o ensurdecedor silêncio, que suavemente, é despertado o gosto do perfume exalado, fragmentado pelo espaço que os enlaça!!! é na entrega dos corpos que a respiração cresce descompassada..O desejo é o palácio dos sonhos onde os sentidos se tornam homogéneos e dão lugar ao amor ...
Sou um ser em constante devir , já morei dentro de bocas, construí camas nos olhos salgados das conchas, dormi e acordei vezes sem conta entre virilhas suadas e pedintes …Mas!!! Nenhum lugar do corpo do mundo me parece melhor para ficar, do que enrolado nos olhares que mostram fome selvagem tomada pelo instinto humano… A vida é muito breve mas vejo que nela cabe muito mais do que estou a conseguir viver … Eu viveria em paz a plantar minhas frases no olhar de alguém vendo-as nascer como espirais na ponta dos seus dedos, em letras borradas que falam de coisas, em reticências eternas, que falam de amor pois a minha eternidade é apenas um relógio sem ponteiros que nos faz viver na sombra de expectativas por isso vou escutando o que o silencio me tem para dizer…

sexta-feira, 3 de junho de 2016

Hoje queria olhar as asas que guardei no armário secreto da minha existência. Queria neste silêncio apenas seguir uns passos, resguardado na invisibilidade de um anjo que protege o teu destino. Mas não apenas assisti ao pôr-do-sol ali sentado, com o olhar mergulhado no silêncio e repleto de palavras que esvoaçaram pelo horizonte . Hoje queria ser de novo a protecção de alguém, a voz que fala no eco da mente, sim essa quando se pensa, quando se escolhe os caminhos que se vai trilhar. Queria ser a alma, no derradeiro momento de pesar cada vontade, cada escolha acertada. Ser espiritual é bem mais intenso que ser corpo, é bem mais profundo que ser tudo, sendo assim nada...Mas!! estando em cada detalhe desse caminho. Não ambiciono a eternidade, apenas a presença constante que meu corpo não me vai poder dar. Ser vento seria tocar em ti apenas um momento, ser ar, seria apenas reflexo de um inspirar, ser anjo que guarda seria sempre poder estar. Afinal não nos tocamos, não existo na realidade ambígua que afasta os corpos dos destinos já traçados, então, que seja algo que sempre possa seguir contigo, que seja apenas aquele amigo, que cuida e protege a tua alma. Hoje só queria ser o teu anjo da guarda mas sou apenas uma chamada para o céu...
Muitas vezes procuro soltar o corpo e deixá-lo cair, como se fosse feito de nada... Procuro a eterna leveza que possa fazer-me atingir os céus num único bater de asas. Tenho a insustentável vontade de ser vento, pois muitas vezes dou por mim a pairar sobre a multidão, como uma alma perdida envolta num turbilhão de gente. Escuto lamúrias, ouço pedidos daquele que desesperam por soluções e tantas vezes me precipito em direcção ao abismo desses corpos em agonia…Tantas Noites me pergunto, questiono o sentido desta missão que tenho, gostaria de perceber os porquês, de entender os propósitos que fazem de mim um rol de letras, um manto de esperanças. Porque escrevo? Porque não me limito ao silêncio? Porque as minhas letras atingem as almas com a força duma tempestade? As questões sucedem-se, numa espiral de inquietações que agitam o meu mar interior, onde as tormentas são agora vendavais que o corpo não sustenta, esperando a cada instante pelo colapso total do espírito. Hoje estou assim num sítio nem sei onde perdido neste recanto do pensamento onde tenho valido aos outros a troco de nada, contudo persisto, insisto e mantenho-me vivo, alimentando-me apenas do brilho remanescente dos quadros pintados na parede esquecida da alma e fico assim procuro-me apenas!
Sabem quando o amor acaba? Ele acaba quando poesia desiste dos olhos, quando uma janela se torna janela apenas, quando as estrelas são apenas pontos no céu; quando o sonhar se faz tão-somente no intervalo entre os dias… O amor acaba pela reincidente aridez dos olhares, pelos laços que endurecem, pelos espinhos que se cativa, e pelas ferida que se cultivam… A distâncias que nascem entre nós e a vida, entre nós e o outro são a resposta!!! E o que dizer do amor que jamais morreu por não ter fim mas que hoje deixou de ser? Qual é a linha a palavra ou a essência que traça o limite entre o que éramos do que não mais seremos? Talvez o amor só deixe de ser por nunca ter sido o que havia de se tornar: amor…Sei que a minha poesia não tem o timbre de outros tempos e que quando a minha alma adoece, este mundo padece de dor, e tudo em redor se desmantela como castelo de cartas em dia de vendaval. Não faz mal, um dia a luz virá e do nada surgira de novo o caminho que desconheço o destino! Perdi-me do tempo em que facilmente encontrava o caminho hoje em mim reina apenas silêncio...Deus é mudo eu sou apenas seu seguidor…
Hoje apuro os sentidos estendendo os braços, como quem quer sentir o ar, saboreio o vento fecho os olhos e deixo-me voar. Deixo o corpo deambular pelo espaço vazio, percebo o nada como uma vaga que me contorna e se abre ao passar por mim. Ainda espero pelo encostar da tua alma, como um barco aguarda no cais…Reclamo aos céus pelo abanão suave desse choque terno entre peles arrepiadas de prazer de amor…Quem és tu que existes em mim, e vens, de dentro de mim, como grito, remexendo os meus sentidos, revolvendo a minha terra, como se semeasses o meu corpo com o teu fôlego. Não há espaço em mim para mais ninguém, confinei em mim a mais estranha intimidade de apenas te querer a ti mas…Hoje estou colado pelo inverso, pois somos agora uma só existência, uma única fragrância que paira no santuário do meu inconsciente. Enquanto te espero vivo neste infinito momento, em que nada mais há que o silêncio dos afagos… Por isso me recolho, neste berço de letras, por isso te escrevo todos os dias, alimentando a tua vontade, para que vivas em mim para toda a eternidade...Busco-te mereço-te amor que não encontro!!
Hoje sento-me, no canto da tua alma, espero em silêncio pelos ecos que me faças chegar, pelos lamentos derrubados em lágrimas que escorrem em cascatas pelas íngremes paredes do nosso precipício. No fundo sei que queres vir e por mim lutaras, que desligarás o corpo e o abandonarás a realidade dos seus átomos para vires sentar-te bem junto a mim. Sempre foi em silêncio que num balanço lento, que tantas vezes sentimos na brisa do vento que nos despimos dos lamentos, e bebemos a energia da vida que temos em nossos braços para dar. Os deuses questionam-se, se não preciso de nada, não entendem o porquê desta unilateralidade que parece apenas dar e nada precisar... Mas não é verdade, não há em nós um só sentido, há fluxos que fazem circular sentidos, fluidos e até por vezes gritos desesperados de auxílio mútuo, só assim faz sentido o amor puro. Aquele que não procura a satisfação pessoal, mas a global. Aquele que é unívoco e está disponível para dar indefinidamente sem reclamar o retorno, sabendo contudo que a sua maior satisfação é o prazer de dar, de poder constatar o brilho no olhar ou os cabelos despenteados de quem recebe uma brisa de vento no rosto. Puro é o amor que nada pede e tudo dá, um dia a minha mão desenhara as palavras que hoje calo...
Hoje escuto a mar pois há oceanos que distanciam o teu lago do meu, mas pressinto-te, escuto os teus ecos entoarem e nesta forma estranha de te adivinhar vivo sem saber como isto acontece, porque a minha voz a tua precede. Penso que é porque sinto, duma forma sobre-humana, absorvo a luz que a alma emana. Por vezes assusto-me, porque me antecipo ao momento, porque digo antes do pensamento, mas acreditem-me, não sei como o faço, é apenas uma intuição, que me leva a viver assim… Pode parecer contra-senso, ser protecção e protegido, mas de facto entre nós existe um laço que sempre nos tem unido. E se para ti sou ombro amigo, para mim és ponto de partida, destino de chegada, caminhada. A forma de te amar, não se prende apenas com a possibilidade de te tocar, é uma questão de fusão, entre o espírito e a emoção, entre o corpo e a alma, que faz com que se ame numa dimensão mais calma, tranquila, plena, como quem nasce já dentro do outro e nele permanece para lá de todos os tempos. Ao menos deixem-me viver a madrugada, pois é nela que o meu corpo se volatiliza, se evapora na névoa densa e distante da alvorada. Quantas Noites sonho-te e passo em redor dos teus cabelos, sussurrando brisas como ventos precipitando-me em chuva de suores frios escorrendo-te pelo corpo, inundando-te a alma, alimentando o lago com a minha água calma. Mas, eu não existo sem o teu pensamento, sem a tua prece ou lamento, sou fruto da tua concepção, sou fórmula da de uma tua criação, afinal sou comum, vulgar!!! Mas tu és Deusa, venerada e bela que em meu Olimpo flameja…
Hoje é num pequeno silêncio, que me encontro comigo mesmo, vejo que não há forma de sustentabilidade para a imensidão do meu universo, essa estrutura de formas intrincadas onde tudo é diverso da realidade, onde os sentidos voam em contra-mão com as regras dos destinos traçados em rebelião. Este meu delírio, esta minha criação, não é anómala ao filtro da realidade, mas, é ilusória à dimensão do olhar, pois vive a quilómetros num horizonte pleno sentido mas de forma desinteressada …Como fazer-me perceber junto dos espíritos? Se hoje estes são banidos de corpos em perpétuo movimento ignorando conceitos defeituosos do que é ser, existir e ver. Perco a razão da existência, falta-me o chão, invade-me a demência…Será que já não sei amar com precisão. Esta sôfrega agonia em que a minha alma mergulhou, deixa-me antever um desastre, colapso iminente deste meu mundo doente que em mares de mercúrio se afoga. Já quis ser, na realidade, filho do vento, para requer num lamento, amor, puro, livre e profundo, um amor que preencha o mundo, multiplicando-o, somando-o, dividindo-o, repartindo-o por todos, como ar, como atmosfera… Sei que é um simples desejo, mas isto!!! Isto é o que sempre quisera ser um simples sopro de vento em tons de maresia…
Sei que já houve um tempo, em que as minhas asas foram vento, em que os meus silêncios foram canto de embalar e que vos elevaram a alma e vos fizeram sonhar. Nesse momento, a minha essência libertou-se, abandonou o corpo à sua sorte e ergueu-se no infinito céu onde busco uma estrela nesta noite profunda sem fim. Lembrem-se dos mundos distantes que percorremos nessas viagens deambulantes onde misturamos as cores do arco-íris para pintar as histórias acabadas de sonhar, em tintas frescas que repousavam sobre as telas deste mundo de encantar que tanto sonhamos... Esses eram tempos em que a vida tinha as suas ambiguidades, em que entre nós não haviam saudades porque sempre nos fundíamos num só corpo, numa só brisa, nesse instante dilacerante que nos unia. É deste alimento que vivo, neste vácuo constante onde me fecho, onde oro, e choro o sal das minhas lágrimas em poemas dessincronizados, desprovidos de fragrâncias. Um dia hei-de voar de novo, por entre os destroços do meu corpo, feito sopro de vida que se ergue do abismo sobre uma praia sem espírito.Estou farto de ser ilusão, apenas esperança e mensagem que invada teu coração , quero alimentar alma com a vontade de seguir a diante, de ser gente e viver o que vida me deixou para os últimos dias ...Não podia por aqui passar sem rasto deixar... olhem parta trás e vejam o que eu deixei !!!
Um dia gostaria de poder, como que por magia, abrir uma porta para o meu universo. Queria mostrar as constelações que aglomeram as minhas emoções, como são coloridos os meus sentidos, e como imensas são as nuvens que formam os meus sentimentos. Podia esta viagem começar num jardim, cheio de árvores, de flores onde os perfumes fossem as minhas palavras, e o canto dos pássaros a minha voz. Gostaria de ser eu a dar-te a mão pelo labirinto de roseiras, mesmo na beleza dum entardecer, ou a magnificência dum amanhecer. Partilharia os sistemas solares e visitaríamos os planetas onde guardo as minhas pequenas jóias, recordações de momentos já vividos, onde poderíamos chorar de rir, ou simplesmente, chorar de saudade, nostalgia, duma outra realidade. Nem todo este imenso espaço está polvilhado de delícias e sabores, cheiros e cores, há buracos negros, pulsares que seriam assustadores, porque a perfeição não existe e um universo equilibrado precisa da matéria, mas também da anti-matéria, do belo e do horrendo, do bom e do mau, contudo viajar sozinho pelas zonas sombrias deste espaço seria muito mais horrível...Suplico pela mão do meu criador, que com a sua presença amenizaria o impacto de tamanhas realidades que tenho vivido!! Já tentei descrever-lo, usando as palavras. Já tentei desenha-lo com o carvão da destruição ou com as cores do arco-íris. Já tentei fotografá-lo, mas, ninguém percebeu a dimensão que alcança, o espaço que ocupa, e a beleza triste que comporta. Por isso te digo, que gostaria de poder abrir-te uma porta para entrares dentro dele.
Hoje, estou na esquina do teu pensamento e escrever-te-ia mil livros, mares de letras que jorrassem como folhas das prateleiras do meu imaginário. Seria como o vento, por teus cabelos esvoaçando, como o Sol que tocasse tua pele mudando-lhe o tom. Tantas coisas poderia ser, tantos sonhos poderia ter, mas, não seriam mais que isso, mundos inventados pelo fértil puder de criar, pela força que sem sair do chão me faz voar, e me faz sonhar com aquilo que não vivi… Questiono-me se vale a pena deixar a mente como uma folha estendida na brisa, á espera que alguém pincel a minha vida nessa folha, sem o chão tocar. Seria melhor ser alguém convencional, que dorme noites a fio sem acordar?? Não sei responder-me, não sei dizer-vos porque nascem aqui milhões de letras que em turbilhões se afunilam para percorrerem galáxias de mundos diversos, onde encontro tudo aquilo que os meus olhos vertem… Aqui escrevo, tudo aquilo que te descrevo na folha branca dos teus sonos , repletos de sonhos meus, onde as palavras transportam as mensagens que na folha vou escrevendo como um mensageiro que se funde em átomos nos caminhos que te trarão a mim.
Adoraria ser capaz de encher de luzes a tua escuridão, de poder soprar-te ao ouvido palavras que te confortassem ... Queria poder escrever no negro da Noite com traços de fogo tudo aquilo que sinto, mesmo que fosse num mero sonho. Gostaria de reproduzir as essências que invento na ausência forçada de um corpo. A alma que me habita tem variantes que desconheces, tons que nunca viste, aromas que nunca saboreaste. É preciso abstrairmos-nos do corpo, só assim toda a energia no fluxo interior do espírito abre a porta mágica que conduz ao caminho da luz, onde as sombras estão impossibilitadas de se reflectir, onde apenas a energia pode fluir. sabes por onde ir?? Podes até não saber mas que ao menos saibas para onde não ir. Não é rodando o manípulo que se abre a porta …A alma só atingira o ponto de orbita quando todo o nosso corpo for apenas e só sentidos que em nós carregamos….
Hoje começo por dizer que deixei nascer em mim um mundo novo, um lugar onde o chão é sagrado, onde as luzes são de estrelas e os sons formas majestosas que se assemelham aos deuses pairando no céu... Neste lugar tudo se rege segundo a beleza, a pureza e o brilho imaculado dos sentidos, cada detalhe é reflectido e sentido com a intensidade duma explosão de astros. Aqui, por entre as rosas estrelícias e nenúfares há uma flor que tem corpo de mulher, passeia-se descalça pelo meu jardim, com o seu véu que cobre o corpo nu e este reflecte a brancura mais áurea que conheço. Os seus longos cabelos são tiras de vento perfumadas em meu rosto, como se fosse uma estátua viva, os seus olhos negros transmutam-se consoante o seu estado d'alma, variam entre castanho e o escuro da noite. Venho aqui todos os dias, observá-la, fico horas sentado, escondido entre a folhagem, do meu olhar idolatrando a sua beleza, imaginando a doçura da sua voz que me canta melodias de embalar quando com ela sonho e…. Prefiro ignorar o seu nome pois tanto me faz que seja Maria ou outro qualquer, opto por chamar-lhe Deusa pois sei quais são as cores que me provocam a alma…
Hoje persinto o vento que contorna as paredes da alma, ele soa em mim e parece que quer varrer as poeiras acumuladas pelo tempo, limpar o soalho envelhecido pelos passos perdidos. Sinto-o como se todas as janelas dos meus imensos lugares estivessem abertas, depois dum longo período fechadas… Sinto a corrente fria, que trespassa pela minha sala e me invade cada recanto deste lugar onde me escondo. Tenho frio, preciso com urgência fechar o espaço, prefiro de novo ficar isolado. Preciso desse silêncio para poder enfrentar os dias, preciso da minha própria ausência …. Só assim me elevo e voltarei a pairar para não tocar no chão frio…Sonho-te apenas foste um sonho, ou és um sonho! Todos nós sonhamos, mas tu fizeste-me subir à atmosfera, fizeste-me cheirar a eterna Primavera naquele único lugar… Sei que as portas por onde passa a alma são estreitas , são portais do tempo onde fluem os sentidos com que nesta vida nos inventamos. Não sou profeta, nem Deus, apenas uma energia que flui nos sonhos, uma imagem pálida da luz que habita em varias dimensões. As minhas letras são vozes que se propagam no vazio inconsciente dos dias e a minha voz é uma melodia que se inventa em cada nota tocada. Não devemos extrair a essência do que amamos, sobe pena de obtermos algo insípido, desprovido de sentidos que pode ser tudo, ou então, já o nada, porque lhe roubamos o melhor. Deixa-me ficar, guardado para sempre nessa tua caixa secreta, onde guardas os escritos mais sagrados, deixa-me ser o perfume que emana da tua pele quando adormeces, ser o brilho da tua aura invisível. Só assim não deixarei de estar presente quando me quiseres... O corpo é muito vago, pois a eternidade está naquilo que guardas, não naquilo que tocas...
Hoje de noite na tua alma construí minha casa, nela deixei habitar o meu espírito, e agora noite após noite, viajarei pelos teus sonhos, como apenas uma personagem dum conto. Em ti alicercei o meu mundo, com a tua essência desenhei os pássaros dos céus, plantei as minhas letras e dessas pequenas sementes nasceram árvores, hoje textos de amor, florestas inteiras que se agitavam como os teus cabelos. Dentro do teu corpo que cresci, germinando de cada poro da tua pele, em mim desenhaste asas, brancas como as dos anjos. Com as minhas mãos moldei as pedras do teu templo sagrado, esculpi em ti um olhar imaculado de Deusa em que te transformei. Ajoelhei-me no teu altar, prometi-te eterno amor, fidelidade e tu, que me ofereceste!!!?? ofereceste-me as estações do ano, para contar com saudade os momentos que nos separavam da eternidade outrora prometida….Hoje, somos brisa e vento, pó e poeira, fumo e fogo, oceano e água que se confundem, que se misturam e se seguem para toda a parte. Já não distinguimos o habitante do habitado, a floresta da semente, o céu dos pássaros, porque nos tornamos apenas e tão somente, um único ser, uma só estrela, numa única eterna noite de luar.
Hoje falo para o abstracto já que há em mim uma necessidade premente de sentir a corrente da alma. Como uma pele desidratada preciso de beber água da chuva para me hidratar, sinto-me como uma boca seca, sedenta que lava os lábios gretados pela febre. Há em mim uma vontade constante de absorver a alma, da fundir na minha com a calma de quem aprecia o nascer do sol. Neste pedaço de lugar-comum que partilhamos, nesta saudade de que sempre nos alimentamos, nasce um fluxo de luz que ilumina para lá dos confins de um universo desconhecido. Hoje é por ti que escrevo, que faço do meu silêncio as letras que não ouso pronunciar. É por ti que clamo, quando dormes, quando não me ouves e por outros caminhos vais. Mas... Em todos os meus sentidos sigo a sombra do teu corpo, como vento que atrás de ti se enrola, como vontade de ser apenas um corpo, um grito, um desejo. Há gritos surdos em mim escuta-me, ouve as minhas preces, lê os meus textos, que como orações te buscam, te sentem e te veneram. Faz o milagre de te fazeres constante e presente em mim, como uma fé que não me abala, como este silêncio que em mim fala…aparece em mim!!!
Viajo por entre os tempos, perdendo-me no denso nevoeiro de nuvens que me silenciam . Percorro as curvas do céu céu, em busca de luzes que me chamem, como vozes de sereias que no oceano aclamam resgate . Mergulho no vazio, procurando preencher-me, caio em tentação para poder sentir o fogo dum inferno que não desejo, bebo do veneno, para poder morrer, mas a eternidade está impregnada nas asas que carrego. Por vezes imploro pela misericórdia dos mortais, por uma caricia sem uma justificação qualquer. Se pudesse deixar de existir, entregar esta missão ao anjo mais próximo e apenas sucumbir, sentir-me-ia tão mais leve que qualquer pequena brisa me levaria, como cinza ou pó, em turbilhão, misturando-me à Natureza que me criou. Há uma necessidade de alívio deste imenso peso que a minha Alma carrega, daria o que fosse por um instante de paz e tranquilidade, trocaria este corpo, entregá-lo-ia, pois o corpo deve ser servo da mente e não o seu senhor…Quero definitivamente voltar à minha origem simples e singela, ao tempo da criação onde o amor é a única prece que conheço…
É nos portais da eternidade que existe um lugar iluminado pelo brilho constante dum céu sem Sol, há um perfume que invade o ar, e um vento quente que abraça a alma desenhada em tons de pastel. Ali, onde o tempo já não corre atrás de ninguém, limito-me a ficar sentado no papel divino, esperando que dum momento flua sem necessidade de parar ao passar de cada segundo, escuto o som morno do silêncio, envolto em cetim, nas notas que te escrevo. Na efervescência dos sentidos, tudo neste mundo é pormenor… A alma perdura como a própria temporalidade, só assim posso aguardar, na beira deste mar, pelo barco dos espíritos que um dia há-de chegar. Mesmo a Noite tem tons de azul-escuro, as estrelas brilham em sentido único onde pintam as vontades e contemplam-nas …É neste céu que vejo-te na saudade que conforta o meu ser, passo de verso a Magia pois a porta fechada com violência solta o pó em partículas. Nada será como era , levaram-me os sonhos que não vivi… Rebusco em todas as gavetas de todos os cantos de mim , talvez algum tenha ficado perdido, esquecido, escondido entre gotas de esperança...Encontro fotos antigas, dores amadurecidas, saudades novas …Foi apenas o que encontrei. Dos sonhos nem rasto…
Já houve muita gente que me pediu para lhe escrever o som da melodia que ecoa suavemente no dorso de um sonho imaculado no precipício do universo ...Acedi ao pedido escrevi nas assas da brisa palavras roucas de prazer que invadem os sentidos da alma no meu mundo... Mas como hei-de gritar o prazer que os sonhos me dão, como partilhar o que o destino esconde de mim ? Cinjo –me ler as curvas a contornar os caminhos que cegamente, me encaminham para o leito da tua foz!!! longe no horizonte não te vejo mas sinto e encontro obstáculos, lágrimas soltas, gemidos reprimidos de palavras pensadas... como anseio ter as respostas certas... a formula de conseguir atingir sem sofrer !!! Esta vida é uma maratona de conquistas e derrotas um turbilhão de sentimentos que num momento não estão e de repente o mundo se transforma ...E eu!!! Enquanto isso Não acontece, vou-me evaporando no tempo que me resta… meras recordações de fragmentos do tempo cansei-me de falar em amor …torna-se monótono torna-se repetitivo, mantenho-me Iluminado e escondido pela lua, olhando as estrelas peço algo diferente, enfrento o mundo até mesmo o planeta ...sinto que sou diferente pois o meu sorriso nasceu comigo é inato e debaixo dos meus véus imaginários vou adormecendo os desejos que sinto...
Hoje bastava-me um toque para o fluxo de energia em mim se espalhar como espasmos pelos corpos abraçados. Hoje suspendi o respirar, não vá o ar em mim agitar-se e desvanecer o instante em que um barco encosta ao meu porto de abrigo, hoje inspirei emoção duma despedida anunciada e também a chegada duma paz almejada. Pergunto-me de que traços é feito este desenho, que riscos revelam a curvatura da parábola que em mim crio, talvez sozinho, no meio da fértil utopia que é a imaginação possa descobrir... Será apenas fascinação pelo desconhecido? Empatia devassa de sentidos, gostos e perspectivas que se partilham? De facto é que por entre tecidos amarrotados, corpos comprimidos, o eco das palavras escuta-se como se num espaço único se propagassem, na infinita direcção da Alma que as recebe, com as palavras amplifica e afago, como só elas em mim o sabem fazer, como só elas sabem em mim pernoitar. Depois, fica o silêncio, o vazio, um certo descontentamento pelo fim do momento, e a música que soa baixinho, como melodia de fundo num vazio, o oco que permite o eco é também o espaço não preenchido que fica para sempre desprovido de pensamento... Não posso seguir por esse caminho, porque não quero enlouquecer nas contradições com que me confrontas, nas explicações que me apresentas sobre as minhas fantasias, ou, cairei morto no abismo, sucumbindo à sensibilidade de haver sido, sem ter de facto sido nada de mais…Em mim as palavras são os fios que conectam os sentidos do meu corpo!
Hoje em dia eu cultivo a palavra, a mensagem, de todos os que me trouxeram até este lugar onde fiquei inerte. Sou o mensageiro, aquele que fala em nome de outros e em nome dos seus silêncios, sou aquele que pronuncia o que lhe foi dito, que escreve o que já foi sentido e ainda é... Mas meus caros nada sou mais que uma folha de papel, pedaço em branco sem existência que apenas carrega a cor da tinta que alguém em mim imprimiu. Sou o silêncio, porque não falo com a minha voz, sou o anjo porque não sou salvador, apenas protector, apenas o que fala em nome de outro!!! Este não é o meu caminho, mas o trilho que percorro, algures no tempo alguém me instigou pelo objectivo de atingir o meu… O meu lugar! A minha eternidade. Estes não são destinos, são momentos que em vão percorro, e enquanto o faço arrasto aqueles que me escutam, que me seguem, que me lêem. Das palavras faço os sentidos que se propagam por tantos destinos, por tantas almas que, como a minha, são gotas de luz … Não temo a noite porque ela dá as estrelas que me hão-de conduzir ao destino, não temo a luz porque ela é a porta, não nego em falar sobre as imagens que guardo em meu coração! Se carrego alguma dor ela provem do inicio e não do fim das palavras…
Muitas vezes Pai, ainda te chamo, às vezes, durante o sono !!! A tua física ausência não te apaga como a bruma em meus sonhos por muitas esquinas que estes tenham. Há nos meus sonhos um território suspenso da tua dor vivida, há em mim um país aonde não chegaram as guinadas da tua morte… Mas ainda te sinto assim como todas as conchas da praia não trazem pérola...É ai que nos encontramos, quando vislumbro as estrelas a reflectirem-se no mar para dizermos um ao outro aquilo que pensámos ter, afinal, a vida toda para dizer…É aí que contigo partilho esta saudade de ter alguém para falar é ai que te chamo, quando a luz me cega na lâmina do mar, com lábios que se movem como serpentes, mas sem nenhum ruído que envenene as palavras por ti um dia tecidas… Um dia vais contar-me tudo depois de eu viver este lado da noite!!!Posso até gritar mas não é isso que me vai libertar do meu cativeiro escuro desse sonho. Enfim , ninguém sabe que o pesadelo é a vida onde já não posso dizer o teu nome … Esta vida é uma memória é uma fogueira dentro das mãos de mim tu onde estás também não me respondes como apagar este lume que em mim arde …Já senti nesta vida a solidão dos Oceanos , as palavras como laminas , os ventos bruscos na janela da solidão, já colori de cores infinitas o arco íris que deram à luz as estrelas , já desvendei segredos guardados no ventre da terra, já escrevi mil palavras mas não consigo esconder a saudade do teu amor em mim...
Explodiram as luzes das estrelas que me levaram a escrever… Rebentaram pela sua incapacidade, talvez por eu ser a intensidade em todo o meu ser… A intolerante voz que me domina e me transporta a vos dizer aquilo que escrevo, é a voz que rebenta com os desejos da carne, pela razão de um mero paladar que arde dentro de mim… tudo é posto em causa , tudo é questão… Mas o mundo este não é novo…Apenas a minha escrita evolui ou não!!! Ainda assim escrevo, mesmo que os meus tímpanos escutem à velocidade da luz, que se evapora de dentro deste carrasco de palavras que moldo e gero, deste servo da sombra, que se crava no chão reflectindo-se apenas pela luz dos olhos e são os olhos a luz que rebenta em mim!!!Mas…continuo e escrevo este ruído que faz a minha folha branca, parece gemer, deslizando agudos e estridentes sons da minha unha no teclado…Mas!!! Não tenho medo rasgo a pele e mostro a carne… Arde o cérebro que vos escreve… Ou ardo ardo eu…Mas , escrevo!!! Vou esperando pelo infinito da palavra que brota em mim, a luz que rebenta num amanhecer celestial, aquele que pelo raciocínio se faz na chuva e nos lava o rosto como as palavras constroem os poemas que rebentam deste animal que nasce em mim!!! São 5 da manha fecho os olhos e rebentam as luzes deste calor meu que deixo para vós e só por isso escrevo...
Perco uns minutos do meu ritmo cardíaco , na curvatura das letra detalhe cintado do teu corpo já em desalinho, como se o prazer pudesse escorrer-me dos dedos, numa nascente ardente de todas as minhas vontades. Sabem que dedilhar quem se ama é como criar alguém à semelhança do seu desejo, do seu fogo e do lampejo vislumbrado apenas nos olhos semicerrados dos beijos partilhados escondidos. Ouve o meu sussurro, um murmúrio que se propaga pela fenda estreita do vértice da minha alma, essa, vai dando cor a um mundo que adoraria beijar, tocar , sentir... Agora digam-me, será na vaga dos gemidos dos delírios que nos sentimos assim ?? Bem dizendo-vos dentro de todas as palavras que escrevo, acho que não!!! Assim como a caneta que irrompe sobre o papel imaculado, ou como vinho que se derrama na boca entreaberta... Tudo em mim é Óbvio... É nestas penumbra que assolo as sombras, assusto as luzes e afago as chamas , lanço as velas que em cera quente se derretem no meu corpo como chocolate quente em lábios ardentes de um beijo doce!!! Nesta escrita desenlaço o desatino e a vontade de quem ama se perde nos sentidos no delírio que é provar nas palavras, na escrita, tinta desta cor que te escreve.
Hoje atrevo-me a desnudar o pensamento, por que é nele que residem as controvérsias, é nele que habitam os medos e as prisões que nos inibem. Baixo todos os meus braços que como guerreiros defendem a minha libido, não para me impedir de entrar, mas para que fantasias possam ser libertadas no teu corpo. Atrevo-me a ser vulgar, a usar das mãos como palavras, a usar dos dedos como frases inteiras que em gemidos e sussurros, precisam ouvir-me no descalabro dos verbos, nessa forma louca com que conjugo as palavras fazendo abanar as estruturas delicadas do teu corpo... Quero estremecer, de dentro para fora, num arrepio que se faça sem controlo, na essência de pecado intenso que é o jorro de prazer que roça a essência animal que habita em nós no pé descalço da vida…Hoje queria-te no absurdo total de um corpo que se entrega às chamas com que a pele se veste, queria-te com olhar de prata nua, onde os contornos são evaporados pelo calor intenso do éter que entra em combustão espontânea do amor como uma arte pura. Quero vestir-me do suor que transpiras, da saliva que espalhas nos beijos oprimidos e sonhados, em abraços descompassados, de gritos alterados, quero envolver-me nas formas que assumes, nas sombras incandescentes me queimam o pensamento e me acendem os olhos na escuridão da Noite... Muitas vezes percebo como é difícil ser transparente, ser transparente não é apenas ser sincero, é mais que isso, é ter a coragem de nos expormos de deixar cair as mascaras e baixar a guarda...
Podia falar-vos sobre a essência da pele sem a tocar mas isso seria querer criar o Paraíso sem ter lá vivido. Pergunto-me tantas vezes se haverá palavras que descrevam com o detalhe preciso o delírio de percorrer com as pontas dos dedos os sulcos suaves da pele de alguém que queremos. Será possível que as minhas mãos viagem pelo espaço como sopros de vento de encontro ao desnudo desse corpo? Só posso estar louco ao querer recriar a minha presença, feita de letras e demência sob corpo ávido de ser lido pelo olhar presente do meu olhar nu...Abro a minha janela indiscreta onde me sento, onde te observo, como quem se debruça sobre uma varanda alheia, descubro-te neta verdadeira inocência dos sentidos, como se fosse essa brisa do Sado que acorda nos poros eriçados do teu olhar. faço-me acreditar que viajo pelo espaço à velocidade da luz, como cometa rasgando a fogo dos desejos proibidos, colocando-me no céu como uma estrela sem brilho. Será possível esta intimidade que, sendo já saudade, é igualmente magia, que faz da noite o meu dia e explode com todos os conceitos de amor que nos queremos impor... Depois tudo acontece numa fracção de segundos, tudo se perde num revirar de olhos e todos os conceitos espalhados pela vida fora perdem o valor com a lava incandescente que surge do vulcão ... Quantos amores morrem de respirações ofegantes, declarações distantes que nesta incongruência cósmica se amam, de corpo e alma apesar de todas as distâncias.
Hoje não grito neste amanhecer frio, mas fujo! Preciso de cuidar desta minha folhagem , hoje tudo começa do zero, é um novo recomeço por um caminho que fazemos no caminhar, não interessa por onde nem quando, nem o destino que se marca, só interessa o percurso que desbravamos sós. Todos os dias são um novo recomeço uma nova aventura em que nos encontramos … Há muito vivi o dia de descobertas, de trocas de olhares, de novos risos e tanta alegria, ontem foi um dia para preparar o dia de hoje, e o de amanhã mas o que de mim sobrou depois de fazer tudo como e deve supostamente fazer!!???. Hoje o princípio do dia começa do fim de uma noite que durou uma eternidade, mas que acaba num instante deixando tanto por fazer, tanto por dizer, eu visto-me sempre de acordo com os meus sentimentos, as minhas vestes acomodam-se em pedaços de fantasias , e viajo por momentos em sonhos desejados…Desejo transformar em real o imaginário ou até mesmo o contrario , estas vestes que uso adquirem verdade do que sou mas apenas mudo ao olhar de cada um, transcendo-me a esse mundo onde me escondo com as mágoas de corpos vestidos…Quem nasceu com a sensibilidade no olhar sabe bem o quanto é difícil perceber a vida , pois tudo nos devora e não importa o amor, as metáforas, as promessas o que importa é a verdade e se não podermos ser bons o tempo todo o que importa é que sejamos sempre bem intencionados...Esta simbiose mágica de sermos humanos, faz com que vivamos em compassos incertos, como quem se passeia pelo vazio ...

Hoje vos digo que muitas vezes criamos um paradoxo em nossa rotina diaria, podemos até ter feito de tudo, virar os dias do avesso, quebrar ...